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domingo, 7 de maio de 2017

O Ano do Terror

(Continuação da seção anterior)

Os cuidados comuns e afazeres da vida foram deixados de lado. A terra para o cultivo foi abandonada; pois, por que arar, por que semear, se ninguém seria deixado para colher? Foi permitido que casas caíssem  na deterioração; pois, por que construir, por que reparar, por que se incomodar com as propriedades, se daqui a alguns meses todas as coisas terrenas terão um fim? A história foi negligenciada; pois, para que relatar eventos, quando não se esperava que uma posteridade fosse ler os registros? O rico, o nobre, os príncipes, os bispos, abandonaram seus amigos e famílias e correram para as margens da Palestina, persuadidos de que o Monte Sião seria o trono de Cristo quando descesse para julgar o mundo. Grandes somas de dinheiro foram doadas às igrejas e monastérios, como se fossem assegurar uma sentença mais favorável do supremo Juiz. Reis e imperadores imploravam nas portas dos monastérios para serem admitidos como irmãos da ordem sagrada; multidões de pessoas comuns dormiam nas varandas dos edifícios sagrados, ou pelo menos sob suas sombras.

Mas, entretanto, as multidões deviam ser alimentadas. O último dia dos 1000 anos ainda não tinha chegado. Mas não havia comida, e o milho e o gado tinham se esgotado, e nenhuma provisão tinha sido feita para o futuro. As condições extremas mais terríveis foram suportadas, revoltantes demais para serem repetidas aqui. Mas o "dia da desgraça" se aproximava cada vez mais. A última noite dos 1000 anos chegou: uma noite sem sono em toda Europa! A imaginação é suficiente para pintar o doloroso quadro. Mas, em vez de alguma extraordinária convulsão, que todos esperavam trêmulos, a noite passou como todos as outras noites, e de manhã o sol lançou seus raios com a mesma tranquilidade de sempre.  As multidões espantadas, mas então aliviadas, começaram a voltar para suas casas, a repararem seus edifícios, a arar, a semear e a continuar com suas ocupações anteriores.

Assim terminaram os primeiros mil anos da história da igreja; o dia mais sombrio no reinado de Jezabel e nos anais da Cristandade.

domingo, 30 de outubro de 2016

A Epístola à Igreja em Tiatira

Capítulo 13: Roma e a Expansão de Sua Influência (397 - 590 d.C.)


"E ao anjo da igreja de Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem seus olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao latão reluzente: Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras. Mas algumas poucas coisas tenho contra ti que deixas Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que forniquem e comam dos sacrifícios da idolatria. E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua fornicação; e não se arrependeu. Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras. Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei. Mas o que tendes, retende-o até que eu venha. E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações, e com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai. E dar-lhe-ei a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." (Apocalipse 2:18-29)

Pensamos que basta um pouco de discernimento espiritual e um conhecimento moderado sobre a história eclesiástica para ver o papado da Idade Média prenunciado nesta epístola. Vimos em Éfeso o declínio do primeiro amor, em Esmirna a perseguição do poder romano, em Pérgamo vemos Balaão seduzindo a igreja e a unindo ao mundo; mas as coisas são ainda piores em Tiatira. Aqui temos as consequências tristes porém naturais dessa união ímpia. Como poderia ser de outro modo quando qualquer que meramente se submetesse ao rito exterior do batismo fosse considerado como nascido de Deus? A porta foi assim escancarada para que o destruidor e o corruptor entrassem no recinto sagrado da igreja de Deus. Todo o testemunho quanto ao seu caráter celestial e sua separação do mundo estava agora perdido. Ela tinha falsificado a palavra do Senhor que diz aos Seus discípulos: "Não são do mundo, como eu do mundo não sou" (João 17:16). De fato, na aparência, o cristianismo tinha ganhado uma vitória. A cruz era então revestida em ouro e pedras preciosas, mas esta era a glória do mundo, não de um Cristo crucificado. Era, na verdade, o mundo que tinha ganhado a vitória, e a humilhação da igreja assim estava completa.

Apenas o Senhor podia estimar as terríveis consequências de tal estado de coisas. Seus olhos viam a corrupção, as idolatrias, e as perseguições da assim chamada Idade das Trevas, da qual a igreja em Tiatira foi um prenúncio notável. Veremos agora resumidamente o conteúdo da epístola.
  1. Os títulos do Senhor são a primeira coisa a ser observada. Eles são cheios das mais adequadas instruções para os poucos fiéis quando o corpo geral de cristãos está identificado com este mundo. Ele Se apresenta como o Filho de Deus, que tem olhos como chama de fogo, e Seus pés como latão reluzente. Quando Pedro confessou que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, Ele imediatamente acrescentou: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". E agora, em antecipação a tudo o que estava por vir, Ele chama a atenção para os pensamentos de Seu povo para o fundamento imutável sobre o qual a igreja é construída. Ele também assume os atributos do juízo divino. Fogo é o símbolo dos penetrantes olhos de juízo, como chamas de fogo, de um juízo que a tudo perscruta; e os pés como latão reluzente, do juízo iminente. 

    Aqui temos, então, no caráter que o bendito Senhor toma, a garantia da perfeita segurança do remanescente fiel, e a afirmação do infalível julgamento sobre a falsa profetiza e sua numerosa prole de filhos corruptos -- filhos de sua sedução e corrupção. Jezabel era não apenas uma profetiza como também uma mãe: ela não apenas seduziu o povo de Deus por suas falsas doutrinas, matando também a muitos; como também uma ampla classe dos piores dentre os homens derivou sua existência a partir de sua corrupção [de Jezabel]. Isto é dolorosamente manifesto no decorrer de toda a Idade das Trevas - o "estado de Jezabel" da igreja. Ela se estabeleceu dentro da igreja como se fosse sua própria casa, e decretou a todo o mundo que ela era infalível e que devia ser implicitamente obedecida em todos os assuntos da fé. Concordar com tal suposição blasfema era infidelidade a Cristo; se opôr a ela resultava em sofrimento e morte.

  2. À medida que as pretensões de Roma falavam cada vez mais alto e as trevas cresciam cada vez mais densas, muitos dos santos de Deus se tornaram cada vez mais devotos a Cristo e a Suas reivindicações. O que é devido a Cristo deve sempre ser a palavra de ordem do cristão, e não o que é devido àqueles em posições elevadas. Parece ter havido uma energia espiritual nessa época que se ergue acima de tudo o que houve desde os dias dos apóstolos. Isto é graça -- a maravilhosa graça de Deus para com Seus verdadeiros santos em um tempo de muita provação. É a linha prateada de Seu próprio amor que é tão preciosa a Sua vista. Podemos nem sempre ser capazes de traçá-la na história eclesiástica, mas lá está ela, e lá ela brilha aos olhos e ao coração de Deus em meio à abundante iniquidade. Isto deve ser notado, e sempre lembrado, como algo de muito encorajamento ao cristão quando colocado em circunstâncias de provas. Ouça o que o Próprio Senhor diz: "Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras". Aqui temos amor, fé e esperança em vivo exercício, os três grandes princípios fundamentais do verdadeiro cristianismo prático; e vemos que as últimas obras são mais que as primeiras. Não nos deparamos com tal testemunho fiel, ou tal medida de devoção, desde os primeiros dias da igreja em Tessalônica. Pode ser, no entanto, que a impiedade ao redor tornou a piedade deles ainda mais preciosa para o coração do Senhor, levando-O a elogiá-los ainda mais. Mas nenhum coração que bate verdadeiramente para Ele em um dia mau passará desconhecido, despercebido ou não recompensado.

  3. No entanto, embora o Senhor ame elogiar o que Ele pode em Seu povo, e observar as coisas boas antes de falar das coisas más, Ele também não tarda em detectar suas falhas. Eles corriam o perigo de adulterarem com a falsa doutrina e com o falso sistema religioso de Jezabel; portanto Ele diz: "Mas algumas poucas coisas tenho contra ti que deixas Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que forniquem e comam dos sacrifícios da idolatria" (v. 20). Não obstante a fidelidade de muitas almas fervorosas em Tiatira (ou seja, na igreja medieval), havia também a aceitação pública do espírito do mal: "toleras a mulher Jezabel" (versão Almeida Revisada). Esta era a sombra escura sobre a linha prateada: que às vezes acaba parecendo completamente obscurecida. Mas o Senhor não falhou, como sempre, em levantar testemunhas adequadas para Ele Próprio. Assim como havia santos na casa de César, um Obadias na casa de Acabe, um remanescente fiel em Israel que não tinha se curvado a Baal, assim o Senhor nunca foi deixado sem uma testemunha fiel no decorrer da Idade Média. No entanto, havia uma permissividade ao mal no estado geral de coisas, o que entristecia o coração do Senhor e trazia os Seus juízos.

    "A mulher", pode ser interessante observar, é usada como um símbolo do estado geral; "o homem", é dito, é um símbolo de atividade responsável. Balaão e Jezabel são nomes simbólicos -- um profeta e uma profetiza. O primeiro agiu como um sedutor entre os santos; e a última se estabeleceu dentro da igreja professa e fingia ter absoluta autoridade ali. Isto era ir muito além até mesmo da impiedade de Balaão. Mas todos sabemos o que Jezabel foi quando se assentou como rainha em Israel. Seu nome chega até nós como envolto em crueldades e sangue. Ela odiava e perseguia as testemunhas de Deus; ela encorajava e patrocinava os sacerdotes idólatras e profetas de Baal; ela acrescentava violência à corrupção: tudo virou ruína e confusão. E este é o nome que o Senhor escolheu para simbolizar o estado geral da igreja professa durante a Idade Média. Em Tiatira, Ele, cujos olhos eram como chama de fogo, podia ver a semente daquilo que carregaria tal fruto ruim até dias póstumos, e assim Ele adverte Seu povo para que retenham aquilo que eles já tinham, o que inclui Ele Próprio. "Outra carga vos não porei. Mas o que tendes, retende-o até que eu venha". Como o estado de Jezabel continua até o fim e nunca pode ser consertado, o Senhor direciona então os olhos da fé do remanescente para Seu próprio retorno -- "Até que eu venha". A brilhante esperança de Sua vinda é assim apresentada como um conforto ao coração em meio à ruína geral; e Seus santos são aliviados, pelo Próprio Senhor, das vãs tentativas dos homens de consertar a igreja {*N. do T.: aqui no sentido de seu testemunho na terra} e o mundo. Que libertação misericordiosa! Mas a pobre natureza humana não pode entendê-la, e assim tenta, vez após outra, consertar questões tanto na igreja como no Estado.

  4. Temos evidentemente três classes de pessoas mencionadas nesta epístola: (1) Os filhos de Jezabel -- aqueles que devem seu nome e lugar cristão ao seu sistema corrupto. Um julgamento impiedoso levará a todos estes. Foi dado espaço para o arrependimento, mas eles não se arrependeram; portanto, o pleno juízo de Deus cairá sobre eles. "Ferirei de morte a seus filhos". (2) Aqueles que não são seus filhos, mas que não fazem oposição a ela: são maleáveis e indolentes. Esta, infelizmente, é uma ampla classe de pessoas em nossos próprios dias. Ela caracteriza a condição pública da cristandade. Sem consciência diante de Deus, eles se contentam em flutuar suavemente correnteza abaixo, em comunhão com algum sistema religioso que lhes pareça mais agradável a suas próprias mentes. Quanto ao que é agradável para a mente de Deus, eles nunca buscam saber. Ainda assim eles são Seus filhos. O juízo para tais é "grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras". (3) O remanescente fiel, os "vencedores". Eles são aqui mencionados como "os demais", ou o remanescente; eles terão poder sobre as nações em associação com Cristo quando Ele vier para reinar. Enquanto isso eles têm essa doce e preciosa promessa: "E dar-lhe-ei a estrela da manhã". Isto é a associação consciente com Ele Próprio até mesmo hoje. A igreja medieval era especialmente culpada de duas coisas: ela arrogante e perversamente buscava possuir poder supremo sobre as nações, e ela perseguia o remanescente fiel dos santos, tais como os valdenses e outros. Mas os santos, uma vez assim perseguidos, ainda possuirão o reino, e reinarão com Cristo por 1000 anos; e todo o sistema de Jezabel será totalmente e para sempre rejeitado: "É forte o Senhor Deus que a julga" (Apocalipse 18:8).

  5. Há apenas mais uma coisa para tomar nota neste esboço da condição pública da cristandade desde o início do sistema papal. A exortação a "ouvir" é colocada após a promessa especial. Isto marca o remanescente como distinto e separado do corpo geral. Nas três primeiras igrejas a palavra de advertência -- "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" -- vem antes da promessa. Mas nas quatro igrejas finais temos a promessa antes do chamado a ouvir. O significado óbvio dessa mudança é profundamente solene. Nas primeiras três, o chamado a ouvir é dirigido a toda a assembleia, mas nas últimas apenas ao remanescente. Parece que, nestas, é esperado que ninguém ouviria além dos vencedores. O corpo professo geral parece tanto cego como surdo através do poder de Satanás e das poluições de Jezabel; que temível condição! Devemos também ter em mente que os quatro estados, como representados pelas últimas quatro igrejas, continuam até o final da vinda do Senhor. Que Ele possa nos guardar de tudo o que cheire a Jezabel, para que possamos apreciar devidamente nossa união com Ele Próprio e Suas bênção prometidas aos "vencedores".

Tendo então brevemente examinado o quadro divinamente pintado sobre o estado de Jezabel da igreja durante a Idade das Trevas, nos voltaremos agora aos amplos, porém tristes, registros de sua história.

sábado, 19 de março de 2016

Clericalismo, Ministério e Responsabilidade Individual

Admite-se que as epístolas de Inácio foram escritas apenas alguns anos após a morte de João, e que o escritor deveria estar intimamente familiarizado com o pensamento do apóstolo, e que em suas epístolas ele estaria apenas apresentando seus pontos de vista. Por isso é dito que o episcopado é contemporâneo do cristianismo. Mas pouco importa, comparativamente, por quem elas foram escritas, ou o tempo preciso em que foram escritas: o que importa é que essas cartas não fazem parte das Escrituras, e o leitor deve julgar o caráter delas pela Palavra de Deus, e a influência que tiveram na história da igreja. O pensamento do Senhor, no que diz respeito a Sua igreja e à responsabilidade de Seu povo, deve ser aprendido por Sua própria palavra, e não pelos escritos dos "pais", por mais pioneiros e estimados que sejam. E aqui, pode ser interessante citar, antes de deixarmos este assunto, alguns trechos da Palavra que o leitor fará bem em comparar com os extratos dos textos dos "pais" citados anteriormente. Esses trechos da Palavra se referem ao ministério e responsabilidade individual cristã. Assim, aprendemos a grande diferença entre ministério e ofício: ou melhor, entre ser estimado por causa de suas obras, e não meramente por seu ofício.

No Evangelho de Mateus, do versículo 45 do capítulo 24 até o versículo 31 do capítulo 25, temos três parábolas, por meio das quais o Senhor instrui os discípulos quanto à conduta deles durante Sua ausência.

1. O assunto da primeira parábola é a responsabilidade do ministério dentro da casa - na igreja. "A qual casa somos nós." (Hebreus 3:6). Assim lemos: "Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens." (Mateus 24:45-47). O verdadeiro ministério é do Senhor, e dEle apenas. Isto é o que temos que observar tendo em vista o que aconteceu no próprio início do cristianismo. E Ele se importa com a fidelidade ou infidelidade em Sua casa. Seu povo é próximo e querido ao Seu coração. Aqueles que foram humildes e fiéis durante Sua ausência serão feitos governantes sobre todos os Seus bens quando Ele retornar. O verdadeiro ministro de Cristo tem de tratar diretamente com o próprio Cristo. O cristão não é mercenário de algum homem, ou de algum grupo particular de homens. "Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim". A falha no ministério é também dita e tratada pelo próprio Senhor.

"Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios"
(Mateus 24:48,49). Este é o outro e triste lado do quadro. O caráter do ministério é grandemente afetado pela resistência ou rejeição à verdade da vinda do Senhor. No lugar de serviço dedicado à família, com seu coração voltado para a aprovação do mestre em seu retorno, há presunção, tirania e mundanismo. A condenação de tal, quando o Senhor vier, será pior que a do mundo. Ele "destinará a sua parte com os hipócritas" - o mesmo lugar de Judas - onde "haverá pranto e ranger de dentes" (Mateus 24:51). Tais são as temíveis consequências do esquecimento quanto ao retorno do Senhor. Mas isto é mais do que mero erro doutrinal ou uma diferença de opinião sobre a vinda do Senhor. Estava "no seu coração", sua vontade vinha dali. Ele desejava em seu coração que o Senhor ficasse longe, como se Sua vinda fosse estragar todos os seus planos e acabar com toda a sua grandeza mundana. Não é esta uma imagem tão verdadeira do que aconteceu? E que lição solene para aqueles que tomam para si um lugar de serviço na igreja! A mera nomeação de soberania, ou a escolha do povo, não será suficiente naquele dia, a menos que eles também tenham sido escolhidos do Senhor e fiéis em Sua casa.

2. Na segunda parábola, cristãos professos, durante a ausência do Senhor, são representados por virgens que saíram ao encontro do Noivo para iluminar o caminho dEle até Sua casa. Esta foi a atitude dos primeiros cristãos. Eles saíram do mundo e do judaísmo para ir adiante e se encontrar com o Noivo. Mas sabemos o que aconteceu. Ele tarda em vir, e todas elas caem no sono e adormecem. "Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro" (Mateus 25:6). Desde o primeiro século até o presente {* N. do T.: Século XIX, quando foi escrito este livro}, ouvimos muito pouco sobre a vinda do Senhor. De vez em quando, aqui e ali, uma voz fraca podia ser ouvida sobre o assunto, mas não até o início do século XIX ouviu-se o clamor da meia-noite. Agora temos muitos folhetos e volumes sobre o assunto, e muitos estão pregando isto em quase todas as terras debaixo do céu. A meia-noite já passou, e logo vem a manhã.

A restauração da verdade da vinda do Senhor marca uma época distinta na história da igreja. E, como todo reavivamento, foi uma obra do Espírito Santo, por meio de instrumentos de Sua própria escolha, e por meios que Ele elaborou. E quão grande é a longanimidade do Senhor, que em meio a esse grande movimento instituiu um tempo entre o clamor e a chegada do Noivo para provar a condição de cada um. Cinco das dez virgens não tinham óleo em suas lâmpadas - sem Cristo, sem o Espírito Santo habitando nelas. Elas tinham apenas a lâmpada exterior da profissão. Quão terrivelmente solene pensamento, se olharmos para a cristandade a partir deste ponto de vista! Cinco dentre dez são falsas, e contra elas a porta será fechada para sempre. Como esse pensamento deveria mover a seriedade e energia no evangelismo! Que possamos sabiamente aproveitar melhor o tempo que graciosamente foi dado entre o clamor da meia-noite e a vinda do Noivo.

3. Na primeira parábola, o assunto é o ministério dentro da casa; na terceira, é o ministério fora da casa - o evangelismo. Na segunda parábola, é a expectativa pessoal da vinda do Senhor, com a posse daquilo que é o requisito para ir com Ele para as bodas do filho do Rei.

"Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe." (Mateus 25:14,15). Aqui o Senhor é representado como deixando este mundo e voltando para o céu; e enquanto Ele está ausente, Seus servos devem negociar com os talentos conferidos a eles. "E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois." (Mateus 25:16,17). Aqui temos o verdadeiro princípio e o verdadeiro caráter do ministério cristão. O próprio Senhor chamou os servos e deu-lhes os talentos, e o servo é responsável perante o próprio Senhor pelo cumprimento de seu chamado. O exercício de um dom, seja dentro ou fora da casa, embora sujeito às direções do mundo e sempre exercitado em amor e para a bênção, não é de modo nenhum dependente da vontade de um soberano, de um sacerdote ou do povo, mas e Cristo apenas, a verdadeira Cabeça da igreja. É algo grave e solene para qualquer um interferir nas reivindicações de Cristo no serviço de Seu servo. Tocar nisto é deixar de lado a responsabilidade para com Cristo e derrubar o princípio fundamental do ministério cristão.

O sacerdócio era a característica distinta da dispensação judaica; o ministério, de acordo com Deus, é a característica do período cristão. Daí o fracasso da igreja professa, quando procurou imitar o judaísmo de tantas formas, tanto em seu sacerdócio quanto em seu ritualismo. Se uma ordem sacerdotal, com ritos e cerimônias, é ainda necessária, a eficácia da obra de Cristo é posta e causa. De fato, embora não em palavras, isto ataca a raiz do cristianismo. Mas tudo é resolvido pela Palavra de Deus. "Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados... Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado." (Hebreus 10:12-14,18)

O ministério, então, é um assunto da mais alta dignidade e do mais profundo interesse. Testifica a obra, a vitória e a glória de Jesus, de que o perdido pode ser salvo. É a atividade do amor de Deus se dirigindo a um mundo alienado e arruinado, e fervorosamente rogando por almas para se reconciliar com Ele. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação." (2 Coríntios 5:19-21). O sacerdócio judaico mantinha o povo em suas relações com Deus: o ministério cristão é Deus em graça, por meio de Seus servos, libertando almas do pecado e da ruína, e trazendo-as para perto se Si mesmo como felizes adoradores no lugar santíssimo (santo dos santos).

Voltando à nossa parábola, há uma coisa que deve ser especialmente observada aqui, que mostra a soberania e sabedoria do Senhor em conexão com o ministério. Ele deu quantias diferentes para cada um, de acordo com suas capacidades. Cada um tinha uma capacidade natural que servia exatamente para o serviço para o qual foi empregado, e os dons concedidos de acordo com a medida do dom de Cristo para seu cumprimento. "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores" (Efésios 4:11). O servo deve ter certas qualificações naturais para sua obra, além do poder do Espírito Santo. Então o Senhor pode criar em seu coração, pelo Espírito Santo, um amor verdadeiro pelas almas, que é o melhor dom do evangelista. Em seguida, ele deve apressar-se e exercitar seu dom de acordo com sua capacidade, para a bênção de almas e para a glória de Deus. Que possamos lembrar que somos responsáveis por essas duas coisas - o dom graciosamente concedido, e a capacidade por meio da qual o dom deve ser exercitado. Quando o Senhor vier ter com Seus servos, não será suficiente dizer "Eu nunca fui educado para isso, ou nomeado para o ministério". A questão será: "Eu esperei no Senhor para ser usado por Ele de acordo com aquilo que ele tinha preparado para mim? Ou será que escondi o meu talento na terra?". Fidelidade ou infidelidade será a única coisa em questão para Ele.

Aquilo que distinguia o servo fiel do infiel era a confiança em seu mestre. O servo infiel não conhecia o Senhor: ele agiu com base no medo, não com base no amor, e assim enterrou seu único talento na terra. O fiel conhecia o Senhor, confiava nEle, e o serviu por amor, e foi recompensado. O amor é a única fonte verdadeira de serviço para Cristo, seja na igreja ou pelo mundo afora. Que nunca sejamos achados dando desculpas para nós mesmos, como o "mau e negligente servo", mas que estejamos sempre contando com o amor, a graça, a verdade e o poder de nosso bendito Salvador e Senhor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Paulo em Tessalônica e Bereia

Paulo e Silas agora dirigem seu percurso até Tessalônica. Timóteo e Lucas parecem ter ficado para trás em Filipos por um tempo. Tendo passado através de Anfípolis e Apolônia, Paulo e Silas chegam a Tessalônica. Ali eles encontram uma sinagoga. Era uma cidade comercial de grande importância, onde muitos judeus residiam. "Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras." (Atos 17:2). Os corações de muitos foram tocados por suas pregações, e uma grande multidão de devotos gregos e mulheres da alta sociedade creram. Mas o velho inimigo de Paulo aparece novamente. "Os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo. E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus." (Atos 17:5-7). Estes versículos devem bastar para nos dar uma ideia do caráter universal dos judeus contra o evangelho e contra Paulo, seu principal ministro.

O apóstolo tinha, evidentemente, pregado aos tessalonicenses a verdade a respeito da exaltação de Cristo e Sua vinda na glória: "Dizendo que há outro rei, Jesus." Daí a constante alusão à vinda do Senhor, e ao "dia do Senhor", nas Epístolas de Paulo àquela igreja. Pelo que diz Paulo em sua primeira Epístola, aprendemos que seus trabalhos foram muito abundantes e grandemente reconhecidos e abençoados pelo Senhor para muitas almas. (1 Tessalonicenses 1:9-10; 2:10-11)

O apóstolo agora procede para a Bereia. Ali os judeus eram mais nobres. Eles examinavam o que ouviam pela Palavra de Deus. Houve uma grande bênção ali também. Muitos creram, mas os judeus, como caçadores após sua presa, apressaram-se de Tessalônica para a Bereia, e levantaram um tumulto que forçou Paulo a deixar o lugar quase imediatamente. Acompanhado por alguns dos bereianos convertidos, ele direcionou seu curso para Atenas. Silas e Timóteo ficaram para trás.

sábado, 22 de novembro de 2014

O Apóstolo Tomé

'Apostle Thomas', Nicolaes Maes, 1656,
 oil on canvas, Staatliche Museen, Kassel, Germany
O apóstolo Tomé foi convocado por nosso Senhor para o apostolado, sendo mencionado em várias listas apostólicas. Não somos informados de seu local de nascimento ou sobre seus pais nas Escrituras, mas a tradição diz que ele nasceu na Antioquia. Tudo o que sabemos dele com certeza é relatado por João. Mas embora nosso conhecimento sobre Tomé seja limitado, não há um caráter entre os apóstolos mais distintamente marcante do que o dele. De fato, seu nome se tornou, tanto na igreja quanto no mundo, um sinônimo de dúvida e incredulidade. Um famoso artista, tendo sido designado a produzir um retrato do apóstolo Tomé, o desenhou com uma régua na mão, no sentido de que ele media as evidências e argumentos. Sua mente era pensativa, meditativa, demorada para acreditar. Ele olhava para todas as dificuldades de uma questão e se inclinava a tomar o lado negro das coisas. Mas vamos olhar, por um momento, para o retrato que a pena da inspiração divina desenhou pelas seguintes três passagens:

1. Em João 11, seu verdadeiro caráter aparece distintamente. Ele evidentemente via a viagem proposta por nosso Senhor até a Judeia com os mais sombrios pressentimentos. "Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele." (João 11:16) Em vez de acreditar que Lázaro seria ressuscitado dos mortos, ele temeu que tanto o Senhor quanto Seus discípulos encontrariam suas próprias mortes na Judeia. Ele não conseguia ver nada em tal viagem além de um completo disastre. Isso também é característico. Ele tinha profunda afeição pelo Senhor, e tal era sua devoção que, embora a viagem pudesse custar a vida de todos eles, ele desejava ir.

2. A segunda vez em que ele é referenciado é após a Última Ceia (João 14). Nosso Senhor falava de sua partida, do lar que Ele iria preparar para eles no Céu, e que Ele viria de novo e os receberia para Ele mesmo, de modo que onde Ele estivesse eles estivessem também. "Mesmo vós sabeis para onde vou", acrescentou Ele, "e conheceis o caminho" (João 14:4). Mas para a mente do nosso apóstolo essas belas promessas apenas despertaram pensamentos sombrios sobre o invisível, o desconhecido e o futuro. "Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?" (João 14:5). Evidentemente, ele estava ansioso para ir, e sincero em seus questionamentos, mas ele desejava ter certeza do caminho antes de dar o primeiro passo. "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." (João 14:6). Contanto que o olho esteja fixo em Cristo, é impossível darmos um passo em falso. É apenas o olho que recebe a luz dos céus que lança seu brilho sobre todo o caminho.

3. A terceira vez foi após a ressurreição (João 20). Ele estava ausente quando o Senhor ressurreto apareceu pela primeira vez aos discípulos. Quando contaram a ele que eles tinham visto o Senhor, ele obstinadamente se recusou a acreditar no que eles diziam. Pelo que ele diz, podemos razoavelmente concluir que ele tinha visto o Senhor na cruz, e que tal esmagadora visão havia produzido uma profunda impressão em sua mente. "Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei." (João 20:25). No seguinte dia do Senhor (domingo), quando os discípulos estavam reunidos, Jesus apareceu no meio deles - Seu lugar apropriado como o centro da reunião. Novamente os saudou com as mesmas palavras de paz: "Paz seja convosco" (João 20:26). Mas logo Ele se dirige a Tomé. "Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente." (João 20:27). O efeito em Tomé foi imediato: todas as suas dúvidas foram removidas, e em verdadeira fé exclamou: "Senhor meu, e Deus meu!" (João 20:28) "Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram." (João 20:29)

Alguns têm pensado que a fé de Tomé, neste caso, se eleva muito acima da fé dos outros discípulos, e que nunca um testemunho tão elevado saiu dos lábios de um apóstolo. Esta opinião, embora seja comum, não pode ser fundada dado o contexto geral. Cristo, em resposta a Tomé, pronuncia que são mais abençoados aqueles que, não tendo visto, ainda assim creram. A fé de Tomé, naquele momento, mal podia ser chamada de fé cristã, como nosso Senhor evidentemente sugere. A fé cristã é crer naquEle que não temos visto - andando pela fé, e não pela vista.

Tomé, sem dúvidas, representa a mente devagar e incrédula dos judeus nos últimos dias, que acreditarão apenas quando verem (Zacarias 12). Ele não estava presente na primeira reunião dos santos após a ressurreição. O motivo nós não sabemos. Mas quem pode estimar a bênção que pode ser perdida pela ausência nas sancionadas reuniões dos santos? Ele perdeu as benditas revelações de Cristo quanto ao relacionamento com o Pai: "Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (João 20:17). Sua fé não está conectada com sua posição de filho. "Ele não tinha ainda apreendido a eficácia da obra do Senhor", disse alguém, "e do relacionamento com Seu Pai ao qual Jesus conduziu a Sua igreja. Talvez Tomé tivesse paz, mas ele perdeu de vista toda a revelação da posição da igreja. Quantas almas - até mesmo almas salvas - se encontram nessas duas condições!"

Os futuros trabalhos apostólicos de Tomé, e o fim de sua vida, são tão cheios de tradições e lendas que não podemos saber nada com certeza. Alguns dizem que ele esteve na Índia e alguns que ele esteve na Pérsia. Seu martírio, dizem, foi ocasionado por uma lança, e até hoje se comemora isto, em 21 de dezembro pela igreja latina, em 6 de outubro pela igreja grega, e em 1º de julho pelos indianos.

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