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domingo, 22 de novembro de 2020

Reflexões Sobre a Vida de Savonarola

O prior de São Marcos é citado na história como a mais fiel testemunha pública de Cristo que já apareceu na Itália; mas havia muitas coisas em sua conduta que eram contrárias ao espírito e à vocação de um verdadeiro cristão, especialmente por misturar política com religião. Diz-se que ele pensou em combinar os personagens de Jeremias e Demóstenes -- chorar pelo pecado e denunciar os julgamentos de Deus como um, e incitar o povo a lutar por suas liberdades como o outro. Este foi o seu erro, devido à sua ignorância sobre ensino do Novo Testamento; e o que levou à sua desonra e queda. Mas grande consideração deve ser feita por sua educação, circunstâncias e espírito de sua época. Muitos dos reformadores posteriores caíram na mesma armadilha. Eles não tinham aprendido, naqueles tempos revolucionários, que a vocação do cristão é celestial -- que enquanto o judeu foi abençoado com todas as misericórdias temporais em uma terra agradável, o cristão é abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Eles não viram que o propósito de Deus no período atual é reunir dentre as nações um povo para o Seu nome pela pregação do evangelho (Atos 15). Mas quão poucos, mesmo nos dias atuais, veem que a igreja de Deus é um chamado para fora e, portanto, deve andar em separação do mundo!

O maior bem que o pregador pode realizar por seus semelhantes é reuni-los para fora do mundo ao rejeitado Salvador. Mas tais pregadores não são populares nem compreendidos, mesmo no último quarto do século XIX*. De fato, podemos levantar a questão: O estado das "igrejas" em geral, no que diz respeito à política, está à frente das ideias de Savonarola? Ele interferiu na direção dos negócios públicos para que a república de Florença fosse para a honra de seu Senhor e Mestre. Seus motivos eram sem dúvida bons, mas ele estava totalmente enganado ao pensar que poderia unir as coisas celestiais e terrenas. Sua grande ideia é vista no fato de que uma das moedas cunhadas enquanto Florença estava sob sua influência trazia a inscrição: "Cristo nosso rei". Mas não apenas este homem notável desejava ver uma grande Reforma tanto na Igreja quanto no Estado, ele também ansiava pela salvação de almas, enquanto seu próprio coração se regozijava na gloriosa doutrina da justificação somente pela fé. 

{*N. do T.: Este livro foi escrito no século XIX.}

O seguinte trecho de suas meditações sobre o Salmo 31 durante sua prisão dará ao leitor uma ideia de seus pensamentos mais íntimos guiados pelo Espírito Santo de Deus. “Ninguém pode se gabar de si mesmo; e se na presença de Deus, a pergunta fosse feita a todo pecador justificado: ‘Você foi salvo por sua própria força?’ todos a uma só voz exclamariam: ‘Não a nós, Senhor, mas a Teu nome seja a glória!’ Portanto, ó Deus, procuro a Tua misericórdia e não trago a Ti a minha própria justiça: no momento em que me justificas pela Tua graça, a Tua justiça me pertence; pois a graça é a justiça de Deus. Até quando, ó homem, como tu não crês, tu estás, por causa do pecado, privado da graça. Ó Deus, salva-me pela Tua justiça, isto é, por Teu Filho, o único que foi achado justo diante de Ti.” Conforme ensinado por Deus, com que pensamentos santos e elevados sua mente deve ter sido preenchida com o estudo, na prisão, daquele tão lindo salmo de tristeza e louvor triunfante!* 

{* J.C. Robertson, vol. 4, pág. 548. Waddington, vol. 3, pág. 383. Universal History, Bagster and Sons, Londres, vol. 6, pág. 173.} 

Ah! mais bela cidade, que viste expirar 
Três mártires escolhidos no fogo devorador, 
Que, unidos, em meio ao desprezo e à dor, 
Ao morrer sorriu, e provou que "morrer é ganho:" - 
Teu rico e honrado rio, em cujo seio largo 
Aquelas benditas cinzas, como seu tesouro se escondem, 
Verão o chefe tirano finalmente expirar. 
E todo infiel destruído pelo fogo; 
Verá todos os vícios e males virem a nada, 
E saudarem nova luz trazida das regiões celestiais.

sábado, 6 de setembro de 2014

O Apostolado de Paulo

A lei e os profetas foram até João; após João o próprio Senhor, em Sua própria Pessoa, oferece o reino a Israel, mas "os Seus não O receberam". Eles crucificaram o Príncipe da vida, mas Deus O ressuscitou dentre os mortos, fazendo-O sentar à Sua direita nos lugares celestiais. Temos então os doze apóstolos. Eles são dotados com o Espírito Santo, e levam o testemunho da ressurreição de Cristo. Mas o testemunho dos doze é desprezado, o Espírito Santo é resistido, Estêvão é martirizado, a oferta final de misericórdia é rejeitada, e agora o tratamento de Deus com Israel como um povo é encerrado por um tempo. As cenas de Siló são encenadas novamente, Icabode é escrito em Jerusalém, e uma nova testemunha é convocada, como nos dias de Samuel. (Leia 1 Samuel 4)

Chegamos agora ao grande apóstolo dos gentios. Ele é como um nascido fora do tempo e fora de seu devido lugar. Seu apostolado não tinha nada a ver com Jerusalém ou com os doze. Era fora de ambos. Seu chamado era extraordinário e vindo direto do Senhor no Céu. Ele tem o privilégio de trazer a novidade: o caráter celestial da igreja - que Cristo e a igreja são um, e que o Céu é seu lar em comum (Efésios 1,2). Enquanto Deus estava tratando com Israel, essas benditas verdades estavam guardadas em segredo em Sua própria mente. "A mim,", diz Paulo, "o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo." (Efésios 3:8-9)

Não podia haver dúvidas sobre o caráter do chamado do apóstolo quanto à sua autoridade divina. "Não da parte dos homens, nem por homem algum", como diz ele em sua Epístola aos Gálatas, "mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos" (Gálatas 1:1). Isto é,  não era "da parte dos homens", quanto à sua fonte, nem de qualquer Sínodo* de homens oficiais. "Nem por homem algum", foi como veio sua comissão. Ele não era apenas um santo, mas um apóstolo por chamado: e esse chamado era por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que O ressuscitou dentre os mortos. Em alguns aspectos, seu apostolado foi ainda de mais alta ordem do que o dos doze. Estes tinham sido chamados por Jesus quando na Terra; aquele tinha sido chamado pelo Cristo ressuscitado e glorificado no Céu. E, sendo seu chamado vindo do Céu, não necessitava nem da sanção nem do reconhecimento dos outros apóstolos. "Mas, quando aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco." (Gálatas 1:15-17)

A forma como Saulo foi chamado para apóstolo é digna de nota especial, pois bate de frente com a raiz do orgulho judaico, e pode também ser vista como o golpe mortal à vã noção de sucessão apostólica. Os apóstolos, a quem o Senhor tinha escolhido e nomeado quando estava na Terra, não eram nem a fonte nem o canal, de maneira alguma, da nomeação de Paulo. Eles não lançaram sortes para ele, como fizeram no caso de Matias (Atos 1). Ali eles estavam apenas em terreno judeu, o que pode explicar sua decisão por sorteio. Era um antigo costume, em Israel, descobrir a vontade divina por esses modos. Mas estas enfáticas palavras: "Paulo, apóstolo, não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo", excluem completamente a intervenção do homem sob qualquer forma. A sucessão apostólica é descartada. Somos santos por chamado e servos por chamado. E tal chamado deve vir do Céu. Paulo está diante de nós como um verdadeiro padrão para todos os pregadores do evangelho, e para todos os ministros da Palavra. Nada pode ser mais simples que o terreno que ele toma como pregador, sendo o grande apóstolo que era. "E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos." (2 Coríntios 4:13)

Imediatamente após ser batizado e fortalecido, ele começou a confessar sua fé no Senhor Jesus e a pregar nas sinagogas de que Ele era o Filho de Deus. Isto é algo novo. Pedro pregava que Ele tinha sido exaltado à destra de Deus - que Ele tinha sido feito tanto Senhor quanto Cristo, mas Paulo prega uma doutrina mais elevada sobre Sua glória pessoal - "que Ele é o Filho de Deus". Em Mateus 16, Cristo é revelado pelo Pai aos discípulos como "o Filho do Deus vivo". Mas agora Ele é revelado, não apenas a Paulo, mas em Paulo. "Aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim" (Gálatas 1:15-16), disse ele. Mas quem é suficiente para falar dos privilégios e bênçãos daqueles a quem o Filho de Deus é, pois, revelado? A dignidade e segurança da igreja descansa sobre essa bendita verdade, e também sobre o evangelho da glória, que foi especialmente confiado a Paulo, e que ele chama de "meu evangelho".

"Sobre o Filho assim revelado", disse alguém docemente, "paira tudo o que é peculiar ao chamado e glória da igreja - suas santas prerrogativas - aceitação no Amado com perdão dos pecados por meio de Seu sangue - entrada para os tesouros da sabedoria e do conhecimento, de modo a tornar conhecido, a nós, o mistério da vontade de Deus - herança futura nEle e com Ele, no qual todas as coisas nos céus e na Terra serão congregadas - e o presente selo e penhor dessa herança, o Espírito Santo. Tal brilhante sequência de privilégios é escrita pelo apóstolo desta maneira: "bênçãos espirituais nos lugares celestiais"; e assim são elas; bênçãos através do Espírito fluindo e nos ligando a Ele, que é o Senhor nos céus." * (Efésios 1:3-14)

{* Veja mais detalhes sobre esse assunto em John Gifford Bellet, Christian Witness [Testemunho cristão], v. 4, p. 221; William Kelly, Introductory Lectures on Galatians [Estudos introdutó­rios sobre Gálatas], cap. 1}

Mas a doutrina da igreja - o mistério do amor, da graça e do privilégio - não tinha sido revelada até Paulo a ter declarado. O Senhor tinha falado dela quanto ao efeito que teria a presença do Consolador, dizendo: "Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós." (João 14:20). E novamente, quando Ele diz aos discípulos após a ressurreição: "Eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (João 20:17). Dessa "sequência brilhante" de bênçãos Paulo foi, especial e caracteristicamente, o apóstolo.

Devemos agora deixar um pouco de lado a história de Saulo e voltar a Pedro, que ocupa o campo até que Paulo comece seu ministério público em Atos 13.

domingo, 20 de julho de 2014

O Primeiro Mártir Cristão

Estêvão, diácono e evangelista, é o primeiro a receber a coroa do martírio pelo nome de Jesus. Ele permanece à frente do "nobre exército dos mártires". Ele é perfeito como uma figura - um protótipo de um verdadeiro mártir. Firme e inabalável em sua fé. Ousado e destemido diante de seus acusadores. Aguçado e fiel em sua defesa diante do Sinédrio. Livre da malícia em suas mais fortes declarações. Cheio de caridade para com todos os homens, ele sela seu testemunho com seu sangue, e então dorme em Jesus.

Em alguns aspectos, Estêvão lembra o próprio bendito Senhor. "Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (Atos 7:59), parece com "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lucas 23:46); e de novo, "Senhor, não lhes imputes este pecado" (Atos 7:60), lembra "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34), apesar de Estêvão não indicar a ignorância deles.

Já podemos ver que problemas, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora, atacam a jovem igreja. É verdade que a palavra de Deus aumentou, multidões foram convertidas, e uma grande parte dos sacerdotes eram obedientes à fé. Porém os gregos, ou helenistas (judeus de origem grega), murmuravam contra os hebreus (nativos da Judeia), porque suas viúvas eram negligenciadas na ministração diária. Isto levou à nomeação de sete diáconos (Atos 6). Pelos seus nomes aqui dados, parece que os sete escolhidos eram gregos - todos do lado dos murmuradores. Assim o Espírito de Deus dominou em graça. Estêvão era um deles, e neste caso, a palavra do apóstolo foi exemplificada: aqueles que "servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus." (1 Timóteo 3:13). Ele era cheio de fé e poder, e fazia grandes maravilhas e milagres entre o povo. A energia do Espírito Santo se manifestava especialmente em Estêvão.

Havia diferentes sinagogas em Jerusalém apropriadas para diferentes raças de judeus. Foram as sinagogas dos libertinos, dos cireneus, etc., que se opunham a Estêvão. Mas "não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava". Segue-se, então, o que tem geralmente acontecido com os que confessam a Jesus em todas as eras: incapazes de respondê-lo, eles o acusam perante o conselho. Falsas testemunhas são subornadas para jurar que eles o tinham ouvido falar "palavras blasfemas contra Moisés, e contra Deus", e que Jesus de Nazaré destruiria aquele lugar e mudaria os costumes entregues a eles por Moisés. O caso estava agora diante do Sinédrio - o julgamento começa. Mas o que seus juízes teriam pensado quando viram sua face radiante como a face de um anjo?

Temos o nobre discurso de Estêvão aos chefes da nação diante de nós. Convincente, desconcertante e esmagador. Sem dúvidas, foi um testemunho do Espírito Santo aos judeus, da boca de Estêvão, e ainda mais humilhante para os orgulhosos judeus: ouvirem sua condenação dos lábios de um helenista. Mas o Espírito de Deus, quando sem impedimentos pelos arranjos do homem, opera por quem Ele quer.

Estêvão recapitula, em linguagem ousada, os principais pontos de sua história nacional. Ele fala especialmente das histórias de José e de Moisés. O primeiro, seus pais {*os outros dos doze filhos de Jacó} o haviam vendido aos gentios, e o último desprezaram como príncipe e juiz. Ele também os acusa de sempre resistir ao Espírito Santo - de sempre desobedecerem a lei - e agora por terem sido os traidores e assassinos do Justo. Aqui a testemunha fiel de Cristo foi interrompida. Não lhe foi permitido terminar seu discurso - uma figura, tão verdadeira, do tratamento para com os mártires daqueles dias até hoje. Os murmúrios, a indignação, a fúria do Sinédrio, estavam fora de controle. "E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele." (Atos 7:54). Mas, em vez de dar prosseguimento ao discurso, ele entra em êxtase de coração ao Senhor e fixa seus olhos no Céu - o lar e centro de união para todo Seu povo.

"Eis que vejo", diz Estêvão, "os céus abertos" (Atos 7:56). Ele está cheio do Espírito Santo enquanto olha para o alto, e vê o Filho do homem de pé, ali, pronto para receber seu espírito. "Tal é", escreveu alguém, "a posição do verdadeiro crente - ligado ao Céu, bem acima da Terra - na presença do mundo que rejeitou a Cristo, um mundo assassino. O crente, vivo na morte, vê, pelo poder do Espírito, o Céu, e o Filho do homem à direita de Deus. Estêvão não diz 'Jesus'. O Espírito O caracteriza como 'o Filho do homem'. Que precioso testemunho para o homem! Não é sobre a glória que Ele aqui testifica, mas sim sobre o Filho do homem na glória, tendo os céus abertos diante dele... Quanto ao objeto de fé e a posição do crente, essa cena é definitivamente característica."

Eis o proeminente, o mais próximo ao trono
Perfeitas vestes triunfais trajando
Aí está o que mais ao mestre se assemelha
Este santo, este Estêvão que se ajoelha
Fixando o olhar enquanto os céus
Se abriam aos seus olhos que se fechavam
Que, tal como lâmpada quase apagada retoma seu fulgor,
E faz vê-lo o que a morte esconde a rigor.

Ele, que  parece estar na  terra
Há de voar como pomba vera
E da amplitude do céu sem nuvens
Extrair o mais puro dos ares
Para que os homens contemplem sua face angelical
Plena do resplendor da graça celestial,
Mártir íntegro, apto a se conformar
À morte de Jesus, vitória sem par!


(tradução livre da poesia constante da edição original em inglês)

Já examinamos, com certo cuidado e minúcia, a primeira seção da história da igreja. Temos sido os mais cuidadosos possível, uma vez que as histórias sobre a igreja, em geral, começam em um período posterior. A maioria começa onde as Escrituras terminam, ao menos quanto aos detalhes. Nenhuma das que temos referem-se a Mateus 16, e poucas tentam um exame crítico de Atos dos Apóstolos que, afinal, é a única parte de sua história que comanda nossa fé, e que tem uma reivindicação absoluta de nossa obediência.

No capítulo 8 encontramos o Espírito Santo em Samaria operando por Filipe. Ele tinha, por assim dizer, deixado Jerusalém. Isso marca uma época distinta na história da igreja, especialmente em sua conexão com Jerusalém. Deixemos, por enquanto, os judeus enfurecidos e perseguidores, e sigamos o caminho do Espírito à cidade de Samaria. Será, no entanto, de proveito olharmos por um momento ao que alguns têm chamado de a terceira perseguição.

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