domingo, 29 de junho de 2014

Capítulo 2: O Dia de Pentecostes

A festa judaica de Pentecostes pode ser chamada de dia do nascimento da igreja cristã. Era também o aniversário da entrega da lei no Monte Sinai, embora aparentemente não havia um dia observado pelos judeus para comemorar o evento. Cinquenta dias depois da ressurreição de nosso Senhor a igreja foi formada - deu-se início à sua história. Os santos do Antigo Testamento não fazem parte da igreja do Novo Testamento. Ela não existia, de fato, até o dia de Pentecostes.

Todos os santos, desde o início, possuem a mesma vida eterna, são filhos do mesmo Deus e Pai, e o mesmo Céu será a casa deles para sempre. No entanto, os santos do Antigo Testamento pertencem a outra dispensação* (isto é, uma maneira de Deus tratar com o homem em uma determinada época), ou a diferentes dispensações que ocorreram antes da vinda de Cristo. Cada dispensação tem sua própria origem, progresso, declínio e queda nas Escrituras, e terá seu próprio reflexo no Céu. Nem as pessoas nem as dispensações serão indistinguíveis lá.

Por isso, o apóstolo em Hebreus 11, ao falar dos antigos santos, diz: "E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados." (Hebreus 11:39-40). Certamente, se Deus proveu algo melhor para nós, deve ser também algo diferente. Não vamos nos opor à própria palavra de Deus. Além disso, nosso Senhor, em Mateus 16, diz: "Sobre esta pedra edificarei a Minha igreja". E ao mesmo tempo, Ele deu as chaves para abrir as portas da nova dispensação a Pedro. Até então Ele ainda não tinha começado a edificar Sua igreja, e as portas do reino ainda não estavam abertas. Mas a diferença entre o velho e o novo é vista mais distintamente quando falamos dos grandes eventos do dia de Pentecostes. Vamos começar com os tipos, ou figuras, de Levítico, capítulo 23.

Os filhos de Israel eram ordenados a levar uma porção das primícias de suas colheitas ao sacerdote, que deveria movê-las perante o Senhor, para que o povo fosse aceito por Deus. Cremos que esse rito prefigurava a ressurreição de nosso Senhor na manhã seguinte ao sábado judaico. A base da aceitação dos cristãos diante de Deus é o Cristo ressuscitado. "Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando houverdes entrado na terra, que vos hei de dar, e fizerdes a sua colheita, então trareis um molho das primícias da vossa sega ao sacerdote. E ele moverá o molho perante o SENHOR, para que sejais aceitos; no dia seguinte ao sábado o sacerdote o moverá." (Levítico 23:10-11) (Ver também Mateus 28 e Marcos 16)

Sete semanas completas após o mover das primícias, a festa de Pentecostes era celebrada. O primeiro era reconhecido como o primeiro dia da colheita na Judeia, e no último supostamente o milho estaria completamente colhido. Então eles faziam um festival solene de ações de graça. Dois pães feitos com a farinha da nova colheita caracterizavam os festejos. Eles deviam ser assados com fermento e tirados de suas casas. Alguns pensam que os dois pães prefiguravam o chamado da igreja, sendo composta de judeus e gentios. Seja como for, o número é significante. Duas testemunhas eram necessárias para prestar testemunho em Israel.  O fermento indica, sem dúvidas, o pecado que habita no crente e, é claro, na igreja, vista em sua atual condição terrena.

Como o mover do feixe das primícias - uma bela figura do Cristo ressuscitado puro e santo - sacrifícios de cheiro suave eram oferecidos, mas nenhum sacrifício pelo pecado. Com o mover dos dois pães - figura daqueles que são de Cristo - uma oferta pelo pecado era apresentada. Estando lá o pecado, era necessária uma oferta para cobrí-lo. Embora o perfeito sacrifício de Cristo satisfez a Deus tanto pelo pecado que habita no homem quanto pelos muitos pecados cometidos durante a vida, ainda assim, na prática e na experiência, o pecado habita em nós, e assim será enquanto estivermos neste mundo. Todos reconhecem isso, embora nem todos possam ver a completude, a integridade, da obra de Cristo. O cristão foi, por uma única oferta, feito perfeito para sempre, apesar de poder se humilhar a si mesmo e fazer confissão a Deus por cada falha.

O significado típico do Pentecostes foi notavelmente cumprido na descida do Espírito Santo. Ele veio para reunir os filhos de Deus que andavam dispersos (João 11:52). Por esse grande evento o sistema do judaísmo foi deixado de lado, e um novo vaso de testemunho - a igreja de Deus - foi introduzido. Agora, vamos observar a ordem dos eventos, começando pela ressurreição e ascensão de Cristo.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O Princípio de Receber Pessoas no Início da Igreja

Como o princípio apresentado é a base adequada para todas as reuniões cristãs, pode ser interessante olhar por um momento para sua operação nos dias dos apóstolos. Certamente eles entendiam seu significado e como aplicá-lo.

No dia de Pentecostes, e algum tempo depois, não parecia que os jovens convertidos eram submetidos a qualquer prova quanto à realidade de sua fé. "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas" (Atos 2:41). Assim, receber a palavra já os colocavam no terreno do batismo e da comunhão; mas a obra estava, até então, inteiramente nas próprias mãos de Cristo. "E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." (Atos 2:47). Podemos também mencionar a tentativa de enganar os apóstolos por Ananias e Safira, que foi detectada de imediato. Pedro age em seu lugar de direito, mas o Espírito Santo estava lá em majestade e poder. Por isso ele diz a Ananias: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?" (Atos 5:3)

Mas tal estado virgem das coisas logo acabou. A falha se instala - o Espírito Santo foi entristecido, e tornou-se necessário examinar aqueles interessados em estar em comunhão a fim de verificar se seus motivos, objetivos e estado de alma estavam de acordo com a mente de Cristo. Estamos agora na condição das coisas descrita em 2 Timóteo 2. Devemos estar em comunhão apenas com "os que, com um coração puro, invocam o Senhor" (2 Timóteo 2:22).

Depois que a igreja se tornou tão misturada com adeptos meramente nominais, um grande cuidado tornou-se necessário ao receber pessoas à comunhão. Não é suficiente que a pessoa diga que é convertida e exija admissão na assembleia com base em suas próprias declarações: ela deve se submeter ao exame por parte de cristãos experientes. Quando alguém professa ter sido despertado para a consciência do pecado, e ter sido levado ao arrependimento diante de Deus, e fé no Senhor Jesus Cristo, sua confissão deve ser examinada por aqueles que passaram, eles próprios, pelos mesmos tipos de experiência. E mesmo onde a conversão é manifestamente genuína, um cuidado piedoso e gentil deve ser exercido na recepção, pois algo desonroso para Cristo, prejudicial e enfraquecedor para a assembleia, pode acabar entrando, mesmo inconscientemente. É necessário discernimento espiritual aqui. E esta é a mais verdadeira demonstração de bondade para com o requerente, e nada mais do que um cuidado necessário para a honra de Cristo e a pureza da comunhão. A comunhão cristã acabaria se pessoas fossem recebidas com base apenas em suas próprias opiniões sobre elas mesmas.

Em Atos 9 vemos esse princípio na prática no caso do próprio apóstolo Paulo. E, certamente, se ele não podia ser aceito sem testemunho adequado, quem deveria reclamar? É verdade que seu caso foi peculiar, porém ainda assim pode ser tomado como uma ilustração prática do nosso assunto.

Encontramos aqui tanto Ananias em Damasco, quanto a igreja em Jerusalém questionando a realidade da conversão de Saulo, mesmo tendo sido miraculosa. É claro que ele tinha sido um inimigo aberto do nome de Cristo, e isto deve ter tornado os discípulos ainda mais cuidadosos. Ananias hesitou em batizá-lo até que estivesse plenamente convencido de sua conversão. Ele consulta o Senhor sobre o assunto, e depois de ouvir Sua vontade, ele vai diretamente a Saulo, e garante a ele que foi enviado pelo mesmo Jesus que lhe tinha aparecido no caminho para Damasco, confirmando a verdade sobre o que tinha acontecido. Saulo é grandemente confortado, volta a ver, e é batizado.

Então, sobre a ação da igreja em Jerusalém lemos: "E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus." (Atos 9:26-27) Paulo é um modelo de homem para a igreja em muitas coisas, e também nisso. Ele é recebido na assembleia - como todos os requerentes deveriam ser recebidos - com base no testemunho adequado quanto à genuinidade de seu cristianismo. Mas, enquanto todo o cuidado piedoso deve ser tomado para que os "Simãos Magos" {*ver Atos 8} possam ser detectados, toda a ternura e paciência devem ser exercidas com os mais tímidos e hesitantes. De qualquer modo, a vida em Cristo e a consistência com a mesma deve ser sempre procurada (Veja Rom 14, 15;... 1 Cor 5 e 2 Cor 2). O caminho da igreja é sempre estreito.

O papado tem demonstrado sua desesperada iniquidade no mau uso que tem feito da prerrogativa da igreja de reter ou remir pecados, resultando em todas as abominações da absolvição sacerdotal. O protestantismo tomou o outro extremo - provavelmente temendo a própria aparência do papado - e tem praticamente posto de lado completamente a disciplina. O caminho da fé, por outro lado, é somente seguir a palavra do Senhor.

Tendo sido, então, apurado o terreno dos grandes princípios fundamentais da igreja e do reino, chegamos ao dia de Pentecostes - o primeiro momento da história da igreja na Terra. A menos que entendamos os princípios do cristianismo, jamais poderemos compreender sua história.

Esse Princípio do Governo na Igreja Ainda é Aplicável

Mas "como esses princípios podem ser realizados em nossos dias?" é ainda a questão e a dificuldade de muitos. Bem, basta voltarmos à palavra de Deus. Devemos ser capazes e dispostos a dizer: "Nada podemos contra a verdade, senão pela verdade." (2 Coríntios 13:8)

A autoridade e poder administrativos da qual falamos não foram dados apenas a Pedro e aos outros apóstolos, mas também à igreja. Em Mateus 18 temos a elaboração do princípio estabelecido no capítulo 16: "... dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu... Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." (Mateus 18:17-20)

Assim aprendemos que os atos de dois ou três reunidos ao nome de Cristo têm a mesma aprovação divina que a administração de Pedro. E novamente, em João 20, o Senhor ressurreto apresenta o mesmo princípio do governo aos discípulos, e não apenas aos apóstolos, onde a assembleia está vividamente unida a Cristo como o Homem ressuscitado. Isto é totalmente importante. O espírito da vida de Jesus Cristo torna os discípulos livres - todos eles - da lei do pecado e da morte. A igreja é construída sobre "esta pedra" - Cristo em ressurreição, e as portas do hades* não podem prevalecer contra ela. "Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos." (João 20:19-23)

Podemos dizer que aqui o Senhor estabelece e dá início à nova criação. Os discípulos estão cheios e vestidos de paz, e com o Espírito da vida de Cristo Jesus. Eles devem seguir adiante como Seus mensageiros, partindo de Seu túmulo vazio devido à ressurreição, levando a bendita mensagem de paz e vida eterna a um mundo inclinado ao pecado, à tristeza e à morte. O princípio de seu próprio governo interno é também claramente estabelecido, e sua devida administração sempre dará à assembleia cristã um caráter distintivo e celestial, tanto na presença de Deus quanto na presença do homem.

{* Leia mais sobre o hades e outros termos relacionados à vida após a morte aqui: http://manjarcelestial.blogspot.com.br/2013/05/a-morte-o-estado-intermediario.html }

sábado, 21 de junho de 2014

O Princípio Divino do Governo na Igreja

Deus não apenas dá a Pedro as chaves que poderiam abrir as portas da nova dispensação, mas também lhe confia sua administração interna. Esse princípio é totalmente importante  no que tange à igreja de Deus. As palavras da comissão são estas: "E tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus." A questão é, o que estas palavras significam? Claramente cremos que é a autoridade e o poder do Senhor a ser exercitada na igreja, porém limitada, em seu resultado, a este mundo. Não há nas palavras do Senhor pensamentos sobre a igreja decidindo qualquer coisa nos céus. Esta é a falsa interpretação e o poder nefasto da apostasia. A igreja na terra pode não ter nada a dizer ou fazer sobre o que é feito nos céus no que diz respeito a ligar e desligar. A esfera de sua ação está dentro de seus próprios limites e, quando feita de acordo com a comissão de Cristo, há a promessa da ratificação nos céus.

Também não há aqui qualquer pensamento sobre a igreja, ou qualquer de seus oficiais, estando no papel de intermediários entre uma alma e Deus no que diz respeito ao perdão eterno ou juízo eterno. Essa é a ousada blasfêmia de Roma. "Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Ele reserva esse poder somente a Ele mesmo. Além disso, os indivíduos que estão sujeitos ao governo da igreja já são perdoados, ou, ao menos, têm direito ao perdão. "Não julgais vós os que estão dentro?" Isto apenas se aplica àqueles que estão dentro dos limites da igreja. "Mas Deus julga os que estão fora" (1 Coríntios 5:12-13). De cada crente no amplo campo da Cristandade é dito: "Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados." (Hebreus 10:14). Assim, a retenção ou remissão dos pecados por parte da igreja vale apenas para o tempo presente, e é estritamente administrativa em seu caráter. É o princípio divino de receber pessoas na assembleia de Deus {*aqui no sentido da igreja de Deus, e não de uma denominação que possa levar esse nome}, com base no testemunho adequado de suas conversões, solidez na doutrina e santidade de vida; e também de colocar para fora os ofensores impenitentes até que sejam restaurados pelo verdadeiro arrependimento.

Mas alguns de nossos leitores podem ter a comum impressão de que esse poder foi dado apenas a Pedro e ao resto dos apóstolos, e consequentemente deixou de existir após eles. Isto é um erro. Realmente, isso foi dado a Pedro em primeira instância, como já vimos, e sem dúvida um poder maior foi exercitado durante os dias dos apóstolos como nunca foi visto depois, mas não havia uma autoridade maior. A igreja possui a mesma autoridade agora, em relação à disciplina na assembleia, embora com menos poder. A palavra do Senhor permanece intacta. Apenas um apóstolos, nós cremos, poderia falar como Paulo falou em 1 Coríntios 5: "Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus." Isto era poder espiritual em um indivíduo, e não o julgamento da igreja {* ver nota de rodapé}. O mesmo apóstolo, em referência ao mesmo caso, diz à assembleia: "Tirai pois dentre vós a esse iníquo." (1 Coríntios 5:13). O ato de tirar foi o ato, não somente do apóstolo, mas de toda a assembleia. Nesse caso, e dessa maneira, os pecados da pessoa excomungada foram retidos, embora seja, evidentemente, um homem convertido. Na Segunda Epístola, capítulo 2, o encontramos totalmente restaurado. Seu arrependimento é aceito pela assembleia e seus pecados são remidos. O transbordamento do coração do apóstolo nessa ocasião, e suas exortações à igreja, são lições valiosas para todos os que estão envolvidos com o governo da igreja, e se destinam a remover a terrível desconfiança com a qual na maioria das vezes que os irmãos que erraram são recebidos de volta aos privilégios da assembleia. "Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor." (2 Coríntios 2:6-8). Aqui temos um caso pontual, ilustrativo do governo da assembleia de acordo com a vontade de Cristo. "Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus".

{* "Entregar a Satanás é um ato de poder; expulsar uma pessoa é um dever ligado à fidelidade da assembleia. Sem dúvida, a exclusão da assembleia de Deus é algo muito sério e nos deixa expostos à tristeza e vários transtornos vindos do inimigo. Mas entregar diretamente a Satanás é um ato de poder positivo. Isso foi feito no caso de Jó para seu bem. Também foi feito por Paulo em 1 Coríntios 5, embora agindo no contexto de uma assembleia estabelecida, e para a destruição da carne. E outra vez, sem referência à assembleia, em 1 Timóteo 1, quanto à Himeneu e Alexandre, para que aprendessem a não blasfemar. Toda a disciplina é para a correção do indivíduo, e também para a manutenção da santidade da casa de Deus, e da pureza da consciência dos próprios santos" - trecho extraído do livro Present Testimony, volume 1}

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Parábola do Joio

"Mateus 13:24,25. 'Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se' - isso é exatamente no que se tornou a profissão cristã. Há duas coisas necessárias para a invasão do mal entre os cristãos. A primeira é falta de vigilância dos próprios cristãos. Eles se tornam descuidados, dormem, e o inimigo vem e semeia joio. Isto começou a acontecer logo no início da história da Cristandade. Encontramos essas sementes mencionadas até no livro de Atos dos Apóstolos, e cada vez mais nas Epístolas. A Primeira Epístola aos Tessalonicenses é a primeira que o apóstolo Paulo escreveu, e a segunda foi escrita pouco tempo depois. E nesta ele já fala que o mistério da iniquidade ja operava, e que se seguiriam outras coisas, como a apostasia e o homem do pecado, e que, quando a impiedade fosse plenamente manifesta (e não como opera agora, em segredo), então o Senhor colocaria um fim no iníquo e em todos os envolvidos com ele. O mistério da iniquidade parece ser semelhante ao joio mencionado aqui. Algum tempo depois, 'quando a erva cresceu e frutificou', quando o cristianismo começou a avançar rapidamente sobre a Terra, 'então apareceu também o joio'. Mas é evidente que o joio foi semeado quase imediatamente depois da boa semente. Sempre que Deus realiza uma obra, Satanás fica no pé. Quando o homem foi feito, ele deu ouvidos à serpente e caiu. Quando Deus deu a lei, ela foi quebrada antes mesmo de ser entregue nas mãos de Israel. Assim é sempre a história da natureza humana. "

"Assim o mal está feito no campo, e nunca reparado. O joio não deve ser retirado do campo no tempo presente: não há juízo para ele por enquanto. Isso significa que deve haver joio na igreja? Se o reino dos céus fosse a mesma coisa que a igreja não deveria haver nenhum tipo de disciplina: deveríamos permitir a imundície da carne ou do espírito ali. Eis a importância de saber distinguir a igreja do reino. O Senhor proíbe que o joio seja tirado do reino dos céus: 'Deixai crescer ambos juntos até à ceifa' (Mateus 13:30), isto é, até que o Senhor venha em juízo. Se o reino dos céus fosse a mesma coisa que a igreja, repito, então implicaria em nada menos que isso: que nenhum mal, seja ele flagrante ou simples, deveria ser colocado para fora da igreja {*no sentido de assembleia local em seu caráter terreno, uma vez que não é possível perder a salvação e ser tirado do corpo de Cristo. Ver http://aguapelapalavra.blogspot.com/2013/01/a-posicao-e-o-estado-do-crente.html} até o dia do juízo. Vemos, então, a importância da fazer essas distinções que tantos desprezam. Elas são totalmente importantes para a verdade e santidade. Não  existe nem mesmo uma única expressão  na Palavra de Deus que possamos ignorar.

"Qual é, então, o significado dessa parábola? Não tem nada a ver com a questão da comunhão da igreja. É do 'reino dos céus' que é falado aqui - o cenário da confissão cristã, seja verdadeira ou falsa. Assim gregos, coptas, nestorianos, católicos romanos, assim como evangélicos protestantes fazem parte do reino dos céus; não apenas os crentes, mas também as más pessoas que professam o nome de Cristo. Um homem que não é judeu nem pagão, e que professa exteriormente o nome de Cristo, está no reino dos céus. Ele pode até ser muito imoral e herege, mas não deve ser tirado do reino dos céus. Mas, seria correto recebê-lo à mesa do Senhor? Deus o proíbe! Se uma pessoa caída em pecado aberto estiver na assembleia, deve ser colocado para fora dela, mas não será colocada para fora do reino dos céus. De fato, isto só poderia ser feito tirando sua vida, arrancando o joio pela raiz. E é nisto que o cristianismo mundano caiu, em um espaço de tempo não muito longo após os apóstolos partirem da Terra. Punições temporais foram introduzidas para disciplina: leis foram criadas com o propósito de entregar o refratário para o poder civil. Se não honrassem a assim chamada igreja, aos desobedientes não seria permitido viver. Deste modo, o mesmo mal contra o qual o Senhor estivera protegendo seus discípulos continuou; o Imperador Constantino usou a espada para reprimir os ofensores da "igreja". Ele e seus sucessores introduziram penas temporais para lidar com o joio, tentando arrancá-los. Tome a "igreja" de Roma, onde vemos tamanha confusão entre a igreja e o reino dos céus: eles clamavam que, se um homem for herege, deveria ser entregue às cortes do mundo para ser queimado. Eles também nunca confessam ou corrigem o erro, pois fingem ser infalíveis. Supondo que as vítimas fossem realmente joio, isto seria tirá-los do reino. Se você arranca o joio do campo, você o mata. Podem haver homens lá fora profanando o nome de Deus, mas devemos deixar que Deus lide com eles."

"Isso não anula a responsabilidade cristã referente àqueles que estão à mesa do Senhor. Você encontrará instruções sobre tudo isso no que foi escrito sobre a igreja. 'O campo é o mundo', a igreja engloba apenas aqueles que acredita-se serem membros do corpo de Cristo. Tomemos 1 Coríntios, onde temos o Espírito Santo mostrando a verdadeira natureza da disciplina eclesiástica. Suponhamos que haja cristão professos vivendo na prática do pecado; tais pessoas não devem ser consideradas, enquanto continuarem no pecado, como membros do corpo de Cristo. Um verdadeiro santo pode cair em pecado aberto, mas a igreja, sabendo disto, é responsável por intervir com o propósito de expressar o juízo de Deus sobre o pecado. Se deliberadamente permitissem tais pessoas a estar à mesa do Senhor, estariam efetivamente fazendo do Senhor cúmplice do pecado. A questão não é se a pessoa é convertida ou não. Se não convertidos, os homens não têm nada a ver com a igreja, e se convertidos, o pecado não deve ser ignorado. O culpado não deve ser tirado do reino dos céus, mas deve ser colocados para fora da assembleia (igreja local). Assim, o ensinamento da palavra de Deus é muito clara sobre essas duas verdades. É errado usar de punições do mundo para lidar com um hipócrita, mesmo que ele seja detectado. Devemos procurar o bem de sua alma, mas isso não é motivo para puni-lo. No entanto, se um cristão está em pecado, a igreja não deve suportá-lo, apesar de ser exortada a ser paciente no juízo. Mas devemos deixar os não convertidos para serem julgados pelo Senhor em sua vinda. "

"Este é o ensinamento da parábola do joio, que fornece uma visão muito solene da Cristandade. Assim como o Filho do homem semeou a boa semente, Seu inimigo semeou a má, que cresceu junto com o resto, e este mal não pode ser arrancado no momento presente. Existe uma solução para o mal que entra na igreja, mas não ainda para o mal no mundo."

(Trecho retirado dos Estudos sobre o  Evangelho de Mateus,  de William Kelly)

É perfeitamente claro, tanto das Escrituras quando da história, que o grande erro no qual caiu o corpo professante é a confusão quanto a essas duas coisas - o joio e o trigo; ou, de maneira prática, aqueles que foram admitidos, pela administração do batismo, a possuir todos os privilégios oficiais e temporais da igreja professa com aqueles que realmente se converteram e foram ensinados por Deus. Mas a vasta diferença entre o que podemos chamar de sistema sacramental e sistema vital deve ser claramente entendida e cuidadosamente distinguida, se quisermos estudar a história da igreja corretamente.

Outro erro, igualmente sério, segue como consequência. O grande e professo corpo se tornou, aos olhos e na linguagem dos homens, a "igreja". Homens piedosos foram atraídos por essa armadilha, de modo que a distinção entre a igreja e o reino foi, muito cedo, perdida de vista. Todos os lugares e privilégios mais sagrados da igreja professa foram, então, compartilhados tanto por pessoas piedosas quanto por ímpios. A Reforma falhou completamente em limpar a igreja dessa triste mistura, que tem sido transmitida a nós por sistemas como os Anglicanos, Luteranos e Presbiterianos, como fica claro pela forma do batismo. Em nossos dias, o sistema sacramental prevalece em um nível alarmante, e cresce rapidamente. O real e o formal, o vivo e o morto, são indistinguíveis nas várias formas do protestantismo. Infelizmente, e como isso é sério, há muitos na igreja professa - no reino dos céus - que nunca entrarão no Céu propriamente dito. Aqui encontramos tanto joio como trigo, servos maus e fiéis, virgens néscias e sábias. Embora todos os que foram batizados são contados no reino dos céus, apenas aqueles que forem vivificados e selados com o Espírito Santo pertencem à igreja de Deus.

Mas há ainda outra coisa ligada à igreja professa que exige um breve estudo aqui. É o princípio divino do governo na igreja, sobre o qual falaremos no próximo capítulo.

domingo, 18 de maio de 2014

A Abertura do Reino dos Céus

O Senhor, de maneira especial, concedeu a Pedro a administração do reino, como vemos nos primeiros capítulos de Atos. O termo é tirado do Antigo Testamento (veja Daniel 2 e 7). No capítulo 2, temos o reino; no capítulo 7, temos o Rei. A frase "reino dos céus" aparece apenas no Evangelho de Mateus, no qual o evangelista escreve principalmente para Israel.

A vinda do reino dos céus em poder e glória à Terra, na Pessoa do Messias, era a natural expectativa de todo judeu fiel. João Batista, como precursor do Senhor, apareceu pregando que o reino dos céus estava próximo. Mas, em vez de receberem o Messias, os judeus O rejeitaram e crucificaram. Consequentemente, o reino, de acordo com as expectativas judaicas, foi deixado de lado. No entanto, ele foi introduzido de uma outra forma. Quando o rejeitado Messias ascendeu ao Céu, e tomou Seu lugar à direita de Deus, triunfante sobre todos os inimigos, o reino dos céus começou. Agora o rei está no Céu, e como Daniel diz, "o Céu reina", embora não abertamente. E, a partir do tempo em que Ele subiu até Seu retorno, este é o reino em mistério (Mateus 13). Quando Ele voltar novamente em poder e grande glória, será o reino manifesto.

A Pedro foi dado o privilégio de abrir esse reino para ambos judeus e gentios. Isto foi feito em sua pregação aos judeus, em Atos 2, e em sua pregação aos gentios, em Atos 10. Mas, novamente, devemos prestar atenção ao fato de que a igreja de Deus e o reino dos céus não são a mesma coisa. Sejamos claros, para começar, quanto a este ponto fundamental. A identificação falha das duas coisas têm produzido grande confusão de ideias e pode ser vista como a origem do puseísmo*, do papado, e de todo o sistema humano da Cristandade. Os comentários da próxima seção sobre a parábola do joio tratam diretamente desse assunto, apesar de se referirem a um período posterior ao dos primeiros capítulos de Atos.**

{*Movimento ritualista que visava a aproximar do catolicismo a igreja anglicana.}
{**Lectures on the Gospel of Matthew. Por W. Kelly.} 

domingo, 11 de maio de 2014

As Chaves do Reino dos Céus

Isso nos leva à já mencionada "grande casa" da profissão de fé cristã meramente externa. No entanto, devemos ter em mente que, apesar de intimamente conectados, o reino dos céus e a grande casa referem-se a coisas um tanto distintas. O mundo pertence ao Rei. "O campo é o mundo". Seus servos devem ir a semear. Como resultado, temos "uma grande casa", ou Cristandade.*

{* Os termos "igreja", "reino dos céus", e "grande casa" são bíblicos, e diferem um pouco em seus significados, como usados pelo Senhor e Seus apóstolos. O termo "minha igreja", como usado pelo Senhor, engloba apenas membros vivos e verdadeiros. O pensamento principal da expressão "reino dos céus" claramente se refere à autoridade do Senhor tendo ascendido às alturas. Todos os que professam sujeição a Ele pertencem a esse reino. Na "grande casa" vemos o mal em atividade, infiltrado no corpo professante por meio das falhas do homem, resultando em sua co-existência com o reino dos céus e com a igreja professante. Mas há ainda outro termo usado constantemente, e que não é encontrado nas Escrituras - a Cristandade. Trata-se de um termo eclesiástico, e originalmente indicava todos os que foram cristianizados, ou aquelas porções do mundo em que o Cristianismo prevalecia, distinguindo-as das terras pagãs ou maometanas. Mas agora, essa palavra tem sido usada como sinônimo dos outros três termos já mencionados. De modo geral, os quatro termos são usados para se referir à mesma coisa, apesar de serem originalmente diferentes em seu significado e aplicação. Mas onde não há confusão hoje em dia? }

Porém, quando tudo aquilo que é meramente nominal na Cristandade for varrido pelo juízo de Deus, o reino será estabelecido em poder e glória. Esse será o milênio.

Enquanto ainda falava com Pedro sobre a igreja, o Senhor acrescentou: "E eu te darei as chaves do reino dos céus". A igreja sendo construída por Cristo, e o reino dos céus sendo aberto por Pedro, são coisas muito diferentes. É um dos grandes porém comuns erros da Cristandade usar os termos como sinônimos, como se significassem a mesma coisa. Escritores teológicos de todas as eras, ao assumir que eles são iguais, escreveram sobre a igreja e o reino da maneira mais confusa possível. A menos que tenhamos algum conhecimento dos modos dispensacionais de Deus, não poderíamos jamais manejar, ou dividir, bem Sua palavra (2 Timóteo 2:15). Não podemos confundir aquilo que o próprio Cristo edifica com aquilo que o homem edifica instrumentalmente, por meio de coisas como pregação e batismo. A igreja que é o corpo de Cristo é edificada sobre a confissão de que Ele é o Filho do Deus vivo, glorificado em ressurreição. Cada verdadeira alma convertida deve tratar com o próprio Cristo antes de ter algo a falar à igreja. O reino é algo muito mais amplo, e se aplica a cada pessoa batizada - isto é, todo o cenário da profissão cristã, seja ela verdadeira ou falsa.

Cristo não diz a Pedro que lhe daria as chaves da igreja ou as chaves dos céus. Se o tivesse feito, poderia realmente haver algum motivo para o sistema maligno do papado. Mas Ele simplesmente diz: "Te darei as chaves do reino dos céus" - isto é, de uma nova dispensação. Chaves, como já foi dito, não servem para construir templos, mas para abrirem portas, e o Senhor concedeu a Pedro a honra de abrir a porta do reino, primeiramente aos judeus (Atos 2), e depois aos gentios (Atos 10). Mas a linguagem que Cristo utiliza ao falar de Sua igreja é de uma outra ordem. É simples, bonita, enfática e inconfundível. "Minha igreja". Que profundidade, que plenitude há nessas palavras. "Minha igreja"! Quando o coração encontra-se em comunhão com Cristo em relação à Sua igreja, existe uma compreensão de Suas afeições que palavras não têm o poder de expressar. Mas assim como são, gostamos de ponderar nestas duas palavras, "Minha igreja!", mas quem pode falar do quanto do coração de Cristo que está aí revelada? Novamente, pense nessas outras duas palavras: "Esta pedra", como se Ele tivesse dito: "A glória da Minha Pessoa, e o poder da Minha vida em ressurreição formam o sólido fundamento da 'Minha igreja'". E de novo: "Eu a edificarei". Vemos, assim, nessas sete palavras, que tudo está nas próprias mãos de Cristo, pois Ele é a "cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos." (Efésios 1:23)

Postagens populares