terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Paulo em Tessalônica e Bereia

Paulo e Silas agora dirigem seu percurso até Tessalônica. Timóteo e Lucas parecem ter ficado para trás em Filipos por um tempo. Tendo passado através de Anfípolis e Apolônia, Paulo e Silas chegam a Tessalônica. Ali eles encontram uma sinagoga. Era uma cidade comercial de grande importância, onde muitos judeus residiam. "Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras." (Atos 17:2). Os corações de muitos foram tocados por suas pregações, e uma grande multidão de devotos gregos e mulheres da alta sociedade creram. Mas o velho inimigo de Paulo aparece novamente. "Os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo. E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus." (Atos 17:5-7). Estes versículos devem bastar para nos dar uma ideia do caráter universal dos judeus contra o evangelho e contra Paulo, seu principal ministro.

O apóstolo tinha, evidentemente, pregado aos tessalonicenses a verdade a respeito da exaltação de Cristo e Sua vinda na glória: "Dizendo que há outro rei, Jesus." Daí a constante alusão à vinda do Senhor, e ao "dia do Senhor", nas Epístolas de Paulo àquela igreja. Pelo que diz Paulo em sua primeira Epístola, aprendemos que seus trabalhos foram muito abundantes e grandemente reconhecidos e abençoados pelo Senhor para muitas almas. (1 Tessalonicenses 1:9-10; 2:10-11)

O apóstolo agora procede para a Bereia. Ali os judeus eram mais nobres. Eles examinavam o que ouviam pela Palavra de Deus. Houve uma grande bênção ali também. Muitos creram, mas os judeus, como caçadores após sua presa, apressaram-se de Tessalônica para a Bereia, e levantaram um tumulto que forçou Paulo a deixar o lugar quase imediatamente. Acompanhado por alguns dos bereianos convertidos, ele direcionou seu curso para Atenas. Silas e Timóteo ficaram para trás.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Efeito da Pregação de Paulo em Filipos

A quantidade de judeus em Filipos aparentemente era pequena, já que não havia sinagoga no lugar. Mas o apóstolo, como de costume, vai a eles primeiro, mesmo quando se trata de umas poucas mulheres reunidas à margem do rio (Atos 16). Paulo prega a elas, Lídia é convertida, a porta é aberta, e outras também creem. Foi nesse lugar despretensioso, e àquelas poucas mulheres piedosas, que o evangelho foi pregado pela primeira vez na Europa, e onde a primeira casa foi batizada*. Mas o silencioso início e seus triunfos pacíficos logo foram perturbados pela malícia de Satanás e pela cobiça do homem. O evangelho não avançaria em meio ao paganismo com facilidade e conforto, mas com grande oposição e sofrimento.

{* A ação do Espírito quanto à família parece ter sido marcante entre os gentios; entre os judeus, até onde sabemos, não ouvimos falar disso. Encontramos, também, distritos entre os judeus, e também entre os samaritanos, que foram poderosamente impressionados (para dizer o mínimo) pelo evangelho. Mas entre os gentios, famílias parecem ter sido particularmente visitadas pela graça divina, como registrado pelo Espírito. Tome por exemplo Cornélio, o carcereiro e Estéfanas; de fato, encontramos isso vez após vez. Isto é extremamente encorajador - especialmente para nós. - Extraído de Leituras Introdutórias dos Atos dos Apóstolos, etc., por W. Kelly}

Enquanto o apóstolo e seus companheiros iam ao oratório, ou lugar de oração, uma jovem possuída por um espírito maligno os seguia, e clamava, dizendo: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo." (Atos 16:17). Da primeira vez, Paulo não deu atenção. Ele foi em frente com sua própria bendita obra de pregação de Cristo, e de ganhar almas para Ele. Mas a pobre e obsessiva escrava persistia em segui-los, e em proferir a mesma exclamação. Foi uma tentativa maliciosa do inimigo para impedir a obra de Deus ao prestar um testemunho aos ministros da Palavra. Deve ser observado que ela não presta testemunho a "Jesus", ou ao "Senhor", mas aos Seus "servos", e ao "Deus Altíssimo". Mas Paulo não queria um testemunho para ele mesmo, nem um testemunho vindo de um espírito maligno, e ele, "perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu." (Atos 16:18)

Como a moça não podia mais praticar suas artes de adivinhação, seus mestres viram-se privados dos ganhos que eles tinham derivado daquela fonte. Enfurecidos pela perda de sua propriedade, e movendo as multidões ao seu favor, prenderam Paulo e Silas e os arrastaram perante os magistrados. Como eles estavam bem conscientes de que não tinham nenhuma acusação verdadeira para trazê-los perante eles, levantaram o velho clamor da "perturbação da paz" - de que eles estavam tentando introduzir práticas judaicas na colônia romana, e ensinar costumes que eram contrários às leis romanas. E, como tem sido muitas vezes, o clamor da multidão foi aceito no lugar da evidência, exame e deliberação. Os magistrados, sem perguntar mais nada, ordenou-lhes que fossem açoitados e lançados na prisão. E assim foi, aqueles benditos servos de Deus, feridos, sangrando e fracos foram entregues a um cruel carcereiro, que aumentou ainda mais o sofrimento deles ao prender-lhes os pés no tronco. Mas Paulo e Silas, em vez de ficarem deprimidos por seus sofrimentos no corpo e pelas sombrias paredes da prisão, alegraram-se por terem sido considerados dignos de sofrer vergonha e dor por causa de Cristo; e em vez do silêncio da meia-noite ser quebrado com os suspiros e gemidos dos prisioneiros, eles "oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam." (Atos 16:25)

Se a Satanás não lhe falta recursos para continuar sua obra ruim, a Deus não Lhe falta recursos para continuar Sua boa obra. Ele agora faz uso de tudo que aconteceu para direcionar o progresso da obra do evangelho, e para cumprir os propósitos do Seu amor. O carcereiro deve ser convertido, a igreja deve ser reunida, e um testemunho criado para o Senhor Jesus Cristo na própria fortaleza do paganismo. À meia-noite, enquanto Paulo e Silas estavam cantando e os prisioneiros estavam ouvindo ao som incomum, ocorre um grande terremoto. Deus entra em cena em majestade e graça. Ele levanta Sua voz e a terra treme: as paredes da prisão são chacoalhadas, as portas se abrem, e os grilhões de todo homem caem. E agora, o que são cadeias e prisões? O que são legiões romanas? O que é todo o poder do inimigo? A voz de Deus é ouvida na tempestade: mas a violência da tempestade é sucedida pela voz mansa e delicada do evangelho e da paz do Céu.

Logo despertado pelo terremoto, os primeiros pensamentos do carcereiro foram em relação a seus prisioneiros. Alarmado por ver as portas da prisão abertas, e supondo que os presos tinham fugido, ele pega sua espada para se matar. "Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos." (Atos 16:28). Estas palavras de amor quebraram o coração do carcereiro. A calma serenidade de Paulo e Silas - sua recusa em valer-se da oportunidade de escapar - sua carinhosa preocupação para com ele - tudo combinado para fazê-los aparecer aos olhos do espantado carcereiro como seres de uma ordem superior. Ele deixou de lado sua espada, pediu por luz, saltou para dentro da prisão e, tremendo, caiu aos pés do apóstolo. Sua consciência foi, agora, alcançada, seu coração foi quebrantado, e havia algo como a violência de um terremoto agitando toda sua alma. Ele toma o lugar de um pecador perdido, e clama: "Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?" (Atos 16:30). Ele não fala como o doutor da lei em Lucas 10:25: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" O que estava em questão para o carcereiro não era sobre fazer algo para a vida, mas sobre a salvação para o perdido. O doutor da lei, como muitos outros, não conhecia a si mesmo como um pecador perdido, portanto ele não fala sobre salvação.

Em resposta à mais importante pergunta que os lábios humanos podem fazer, "O que devo fazer para ser salvo?", o apóstolo direciona a mente do carcereiro para Cristo - "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa." (Atos 16:31). Deus deu a bênção, e toda sua família creu, se alegrou, e foi batizada. E agora tudo está mudado: o carcereiro leva os prisioneiros à sua própria casa - sua crueldade é transformada em amor, simpatia e hospitalidade. Na mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões - lhes ofereceu comida - regozijou-se, crendo em Deus com toda sua casa. Que noite agitada! Que mudança em poucas horas! E que manhã alegre clareou sobre aquela feliz casa! O Senhor seja louvado!

Como o rei Dário, os magistrados parecem ter sido perturbados durante a noite. A notícia do terremoto, ou de que Paulo e Silas eram cidadãos romanos, parece tê-los alcançado. Mas assim que amanheceu, mandaram dizer ao carcereiro que "soltassem aqueles homens". Ele, imediatamente, fez conhecer a ordem a Paulo e Silas, e desejou-lhes que partissem em paz. Mas Paulo se recusou a aceitar sua liberdade sem algum reconhecimento público do erro de que haviam sido vítimas. Ele agora também torna conhecido o fato de que ele e Silas eram cidadãos romanos. As famosas palavras de Cícero tinham se tornado um provérbio, e tinham um imenso peso onde quer que fosse: "Acorrentar um cidadão romano é um ultraje, açoitá-lo é um crime". Os magistrados tinham, evidentemente, violado as leis romanas; mas Paulo só exigiu que, como eles tinham sido publicamente tratados como culpados, os magistrados fossem a público e declarassem que eram inocentes. Isto eles fizeram prontamente, vendo o erro que tinham cometido. "E, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade. E, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram." (Atos 16:39-40) *

{* Veja os artigos evangelísticos sobre as principais personagens deste capítulo em Things New and Old, vol. 12, páginas 29-97.}


Antes de deixarmos este memorável capítulo, devemos apenas acrescentar algo que é muito agradável de se encontrar: na Epístola de Paulo aos Filipenses, as provas de um vínculo que os unia, e que continuou desde "o primeiro dia" até mesmo depois do aprisionamento de Paulo em Roma. Sua afeição pelos amados filipenses era maravilhosa. Ele se dirigiu a eles como "meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados." (Filipenses 4:1). E ele reconhece, sem poder conter a alegria, sua comunhão incansável com eles no evangelho, e as muitas provas práticas do amável cuidado e carinhosa simpatia que eles tinham por ele. Já em sua residência em Tessalônica eles se lembravam das necessidades do apóstolo. "Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica." (Filipenses 4:16)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Paulo leva o Evangelho para a Europa

Isto marca uma época distinta na história da igreja, na história de Paulo, e no progresso do cristianismo. Paulo e seus companheiros agora levam o evangelho Europa adentro. E aqui creio que podemos fazer uma pausa, por um momento, para lembrarmos as várias e interessantes associações históricas dos conquistadores e conquistas da Macedônia, e para habitarmos por um momento sobre a planície de Filipos, também famosa na história romana. Aqui a grande luta entre a república e o império tinha terminado. Para comemorar esse evento, Augusto fundou uma colônia em Filipos. Esta foi a primeira cidade na qual Paulo chegou em sua entrada para a Europa. Ela é chamada "a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia." (Atos 16:12) Uma colônia romana, como nos é relatado, era caracteristicamente uma lembrança em miniatura de Roma; e Filipos era mais apta que qualquer outra cidade no império para ser considerada representativa da Roma Imperial.

Para muitos de nossos jovens e questionadores leitores, esta breve digressão, temos certeza, não será desinteressante. Além disso, um conhecimento sobre tais histórias são úteis ao estudante da profecia, uma vez que se tratam do cumprimento da visão de Daniel, especialmente do capítulo 7. A cidade de Filipos era, por si própria, um monumento ao crescente poder da Grécia, que deveria esmagar o poder em declínio da Pérsia. Alexandre, o Grande, filho de Filipe, foi o conquistador do grande rei Dário; quando o "Leopardo" da Grécia venceu o "Urso" da Pérsia. *

{* Veja Notas sobre o Livro de Daniel, por W. Kelly.}

Ao olharmos para trás a partir do tempo em que Paulo partiu da Ásia para a Europa, quase quatrocentos anos tinham passado desde que Alexandre partiu da Europa para a Ásia. Mas quão diferentes eram seus motivos e objetivos - seus conflitos e suas vitórias! O entusiasmo de Alexandre foi despertado pela lembrança de seus grandes antepassados, e por sua determinação em derrubar as grandes dinastias do Oriente; mas, embora não intencional e inconscientemente, ele estava cumprindo os propósitos de Deus. Paulo tinha cingido sua armadura para outro propósito, e para ganhar maiores e mais duradouras vitórias. Ele foi enviado pelo Espírito Santo, não apenas para subjugar o Ocidente, mas para trazer o mundo inteiro a cativar pela obediência de Cristo. O cristianismo não é apenas para uma nação ou um povo, mas para o homem universalmente; até mesmo o próprio Paulo expressa isto em Colossenses 1:23: "A toda criatura que há debaixo do céu". Esta é a missão do evangelho, e esta é sua esfera.

Mas há outra coisa que devemos observar aqui antes de procedermos com a viagem de Paulo.

Lucas, "o médico amado", historiador e evangelista parece ter se unido a Paulo neste momento particular. No versículo 10 ele escreve na primeira pessoa do plural: "Procuramos partir para a Macedônia". Supõe-se que ele era um gentio de nascença e convertido em Antioquia. Ele parece ter permanecido como um fiel companheiro do apóstolo até o fim de seus trabalhos e aflições (2 Timóteo 4:11).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A Segunda Viagem Missionária de Paulo (por volta de 51 d.C.)

Depois de Paulo e Barnabé terem ficado algum tempo com a igreja em Antioquia, outra viagem missionária foi proposta. "Tornemos", disse Paulo, "a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão. E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos. Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra. E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça de Deus. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas." (Atos 15:36-41)

Com uma jornada tão importante, tão cheia de provações, que exigia coragem e perseverança - segundo a opinião de Paulo - ele não podia confiar em Marcos como companheiro; ele não podia facilmente desculpar aquele cujos laços familiares o tornaram infiel no serviço ao Senhor. O próprio Paulo deixava de lado todas as considerações e sentimentos pessoais quando a obra de Cristo estava em questão, e ele desejava que os outros fizessem o mesmo. A afeição natural, nesta ocasião, pode ter traído Barnabé a, novamente, pressionar seu sobrinho ao serviço; mas uma severa seriedade caracterizava Paulo. Os laços dos relacionamentos naturais e dos apegos humanos ainda tinham grande influência sobre o caráter cristão ameno de Barnabé. Isto é evidente pela sua conduta em Antioquia na ocasião da fraca complacência de Pedro para com os judaizantes de Jerusalém (Gálatas 2). A disseminação do evangelho no mundo gentio era sagrada demais aos olhos de Paulo para admitir experimentos. Marcos tinha preferido Jerusalém à obra, mas Silas preferiu a obra a Jerusalém. Isto pesou na decisão de Paulo, embora, sem dúvida, ela tenha sido guiado pelo Espírito.

Barnabé leva Marcos, seu parente, e navega para Chipre, sua terra natal. E aqui nos despedimos de Barnabé, aquele amado santo e precioso servo de Cristo! Seu nome não é mais mencionado em Atos. Essas palavras, "parente" e "terra natal" devem ser deixadas a falar por elas mesmas ao coração de cada discípulo que lê estas páginas. Se estivéssemos meditando sobre essa cena dolorosa, em vez de dar um mero esboço de uma grande história, poderíamos ter muito o que dizer sobre o assunto; mas o deixamos com duas felizes reflexões: 1) Isto foi direcionado de modo que redundou em benção para os pagãos; as águas da vida agora fluíam em duas correntes no lugar de uma só. Isso, no entanto, é a bondade de Deus, e não dá sanção à divisão entre cristãos. 2) Paulo, mais tarde, fala de Barnabé com inteira afeição, e deseja que Marcos vá até ele, tendo-o achado útil para o ministério (1 Coríntios 9:6; 2 Timóteo 4:11). Não temos dúvida de que a fidelidade de Paulo se tornou uma benção para ambos. Mas o mel das afeições humanas nunca poderão ser aceitas no altar de Deus.

Tendo sido encomendados pelos irmão à graça de Deus, eles iniciam sua jornada. Tudo é maravilhosamente simples. Nenhum desfile é feito pelos seus amigos ao vê-los partir, e nenhuma grande promessa é feita por eles quanto ao que eles estavam determinados a fazer. "Tornemos a visitar nossos irmãos", são as poucas, simples e despretensiosas palavras que nos levam à segunda grande viagem missionária de Paulo. Mas o Mestre estava pensando em Seus servos e provendo para eles. Eles não precisavam ir longe até encontrar um novo companheiro em Timóteo de Listra, um que havia de suprir o vazio causado pela ausência de Barnabé. Se Paulo perdeu o companheirismo de Barnabé como amigo e irmão, ele encontrou em Timóteo, como seu próprio filho na fé, uma simpatia e um companheirismo que só combinava com a vida do apóstolo. "Paulo quis que este fosse com ele", mas antes de partirem, Paulo "o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego." Paulo, nesta ocasião, inclina-se ao preconceito dos judeus, e circuncisa Timóteo por segurança.

Timóteo era filho de um daqueles casamentos mistos que sempre foram fortemente condenados tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Seu pai era um gentio, mas seu nome nunca é mencionado; sua mãe era uma piedosa judia. Dada a ausência de qualquer referência ao pai, tanto em Atos quanto nas Epístolas, supõe-se que ele possa ter morrido pouco tempo depois do filho ter nascido. Timóteo foi, evidentemente, deixado na infância ao único cuidado de sua mãe Eunice e de sua avó Lóide, que o ensinou, desde criança, a conhecer as Sagradas Escrituras. E, das muitas alusões nas Epístolas de Paulo ao carinho, sensibilidade, e às lágrimas de seu amado filho na fé, podemos acreditar que ele manteve por toda a vida as impressões daquele gentil, amável e santo cuidado doméstico. O maravilhoso amor de Paulo por Timóteo, e suas afáveis lembranças de sua casa em Listra, e seu treinamento inicial ali, ditaram  algumas das mais tocantes passagens dos escritos do grande apóstolo. Quando já um homem idoso - na prisão, passando necessidades, e com o martírio diante de si - ele escreve: "A Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço memória de ti nas minhas orações noite e dia; desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo; trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti." (2 Timóteo 1:2-5). Ele insiste e repete seu urgente convite a Timóteo para ir e vê-lo. "Procura vir ter comigo depressa" - "Procura vir antes do inverno" (2 Timóteo 4:9,21). Podemos permitir-nos a crer que um filho tão ternamente amado pôde chegar a tempo de acalmar as últimas horas de seu pai em Cristo, de receber seu último conselho e bênção, e de testemunhá-lo terminando sua carreira com alegria.

Silas, ou Silvano, aparece pela primeira vez como um mestre na igreja em Jerusalém; e provavelmente ele era tanto um helenista quanto um cidadão romano, como o próprio Paulo (Atos 16:37). Ele foi apontado como responsável por acompanhar Paulo e Barnabé em seu retorno a Antioquia com os decretos do concílio. Mas, como muitos detalhes tanto da vida de Timóteo quanto de Silas naturalmente aparecerão ao traçarmos o caminho do apóstolo, não precisamos dizer nada mais sobre eles no presente momento. Procedamos com a viagem.

Paulo e Silas, com seu novo companheiro, percorrem as cidades, ordenando-lhes a manter os decretos ordenados pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. Os decretos foram deixados com as igrejas, de modo que os judeus tinham a própria decisão de Jerusalém de que a lei não era para ser imposta aos gentios. Após visitar e confirmar as igrejas já plantadas na Síria e Cilícia, eles procederam para a Frígia e Galácia. Aqui fazemos uma pausa e nos deteremos nestas palavras: "pela Frígia e pela província da Galácia" (Atos 16:6). A Frígia e a Galácia não eram meras cidades, mas províncias, ou grandes distritos do país. E ainda assim o historiador sagrado usa apenas essas poucas palavras ao recordar a grande obra feita lá. Quão diferente é a energia condensada do Espírito comparada ao estilo inflado do homem! Aprendemos da história, segundo Neander, que somente na Frígia, no sexto século, havia sessenta e duas cidades. E parece que Paulo e os que estavam com ele tinham percorrido todas as que existiam naquela época.

As mesmas observações quanto ao trabalho se aplica à Galácia. E aprendemos pela Epístola de Paulo aos Gálatas que, nessa época, ele estava sofrendo no corpo. "E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne" (Gálatas 4:13). Mas o poder da sua pregação contrasta de maneira tão impressionante com a fraqueza da sua carne que os gálatas foram movidos até mesmo a extravasar em simpatia e sentimentos generosos. "E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo. Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis." (Gálatas 4:14-15). Aprendemos pela história que os gálatas eram de origem celta, impulsivos e de caráter instável.* A Epístola inteira é uma triste ilustração da instabilidade deles, e dos tristes efeitos do elemento judaizante entre eles. "Maravilho-me de", disse Paulo, "que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo." (Gálatas 1:6-7). Mas retornemos à história narrada em Atos.

(* Veja História do Novo Testamento, de Smith)

O caráter e os efeitos do ministério de Paulo, como relatados nos capítulos 16 a 20, são realmente maravilhosos. Eles deveriam até se destacar nas páginas de toda a história. Todo servo de Cristo, e especialmente o pregador, deveria estudá-los cuidadosamente e lê-los com frequência. "O vaso do Espírito", disse alguém de maneira tão bela, "brilha com uma luz celestial através de toda a obra do evangelho; ele condescende em Jerusalém; trovoa na Galácia quando almas estão sendo pervertidas, guia os apóstolos a decidirem pela liberdade dos gentios, e usa, ele mesmo, de toda a liberdade de ser um judeu de judeus, e como um sem lei para aqueles que não tinham a lei, como não estando debaixo da lei, mas sempre sujeito a Cristo. Ele também 'procurava sempre ter uma consciência sem ofensa' (Atos 24:16). Nada que havia dentro dele dificultava sua comunhão com Deus, de onde ele tirou suas forças para ser fiel entre os homens. Ele podia dizer, e [talvez, N. do T.] ninguém além dele: 'sede meus imitadores, como também eu de Cristo' (1 Coríntios 11:1). Assim também ele podia dizer: 'Tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.' (2 Timóteo 2:10)"*

(* Sinopse dos Livros da Bíblia, por J. N. Darby.)


Os modos do Espírito para com o apóstolo nesses capítulos são também dignos de nota. Ele, e somente Ele, dirige o apóstolo em seu maravilhoso caminho, e o sustêm em meio a muitas provas e circunstâncias opostas. Por exemplo, Ele proíbe Paulo de pregar a Palavra na Ásia - Ele não o deixa ir à Bitínia, mas o direciona por meio de uma visão à noite para que ele fosse à Macedônia. "E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia." (Atos 16:9-12)


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A Terceira Visita de Paulo a Jerusalém (por volta de 50 d.C.)

Quando eles chegaram a Jerusalém, encontraram a mesma coisa [fanatismo dos crentes judeus pela guarda da lei pelos gentios, N. do T.], não apenas nas mentes de alguns poucos irmãos inquietos, mas no próprio seio da igreja. A fonte da confusão estava lá, não entre judeus incrédulos, mas entres aqueles que professavam o nome de Jesus. "Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés." (Atos 15:5). Esta declaração clara trouxe toda a questão diante da assembleia, e suas importantes deliberações começaram. O Capítulo 15 de Atos contém o relato do que ocorreu e como a questão foi resolvida. Os apóstolos, anciãos, e todo o corpo da igreja em Jerusalém não estavam apenas presentes, mas também tomaram parte na discussão. Os apóstolos nem assumiram nem exercitaram poder exclusivo sobre o assunto. Este é geralmente chamado "O primeiro Concílio da Igreja", mas pode também ser chamada de último concílio da igreja que podia dizer: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós" (Atos 15:28).

Muitos, de acordo com noções modernas de "essencial e não-essencial", sem dúvida diriam que a mera cerimônia de circuncidar ou não circuncidar uma criança não tinha muita importância. Mas não é assim de acordo com a mente de Deus. Era uma questão vital. Afetava o próprio fundamento do cristianismo, os profundos princípios da graça, e toda a questão sobre a relação do homem com Deus. A Epístola de Paulo aos Gálatas é um comentário sobre a história dessa questão.

Não havia rito ou cerimônia que o judeu convertido fosse tão averso a deixar para trás como a circuncisão. Era o sinal e o selo do seu próprio relacionamento com Jeová, e das hereditária bênçãos da aliança com seus filhos. É da opinião de alguns em todas as eras que o "batismo de crianças" foi introduzido pela igreja para atender ao forte preconceito judaico. Mas se isto tivesse sido a pretensão do Senhor, o concílio em Jerusalém seria o próprio lugar para anunciá-lo. Isto acabaria com toda a dificuldade, e resolveria a questão diante deles, e restauraria a paz e unidade entre os duas "igrejas-mãe" [a igreja em Jerusalém, sendo a primeira igreja onde predominavam os judeus, e a igreja em Antioquia, sendo a primeira igreja onde predominavam os gentios, N. do T.]. Mas nenhum dos apóstolos ou dos outros aludiram a isto.

Antes de deixarmos essa importante e sugestiva parte da história do nosso apóstolo, pode ser bom observar certos fatos trazidos em Gálatas 2, mas que não são mencionados em Atos. Foi nesta ocasião que Paulo subiu, por revelação, a Jerusalém com Tito. Em Atos temos a história de Paulo vista de fora, cedendo aos motivos, desejos e objetivos do homem; nas Epístolas temos algo mais profundo - aquilo que governava o coração do apóstolo. Mas Deus sabe como combinar essas circunstâncias externas com a direção interna do Espírito. A liberdade cristã ou a servidão da lei estavam em debate: se a lei de Moisés - em particular, o rito da circuncisão - deveria ser imposta aos gentios convertidos. Paulo, guiado por Deus, sobe a Jerusalém, e leva com ele Tito. Perante a face dos doze apóstolos, e de toda a igreja, ele traz a Tito, que era grego, e que não tinha sido circuncidado. Isto foi um passo ousado - introduzir um gentio, e incircunciso, no próprio centro de um judaísmo intolerante! Mas o apóstolo foi lá por revelação. Ele tinha comunicações positivas, vindas de Deus, sobre o assunto. Foi a maneira divina de decidir a questão, de uma vez por todas, entre ele mesmo e os cristãos judaizantes. Este passo era necessário, como ele diz: "E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós." (Gálatas 2:4-5)

O apóstolo, então, tendo atingido seu principal objetivo, e tendo comunicado seu evangelho aos de Jerusalém, vai embora, com Barnabé, e retorna aos cristãos gentios em Antioquia. Os dois representantes, Judas e Silas, carregando os decretos do concílio, os acompanham. Quando a multidão de discípulos se reuniu e ouviu a epístola lida, se alegraram e foram consolados.

Assim termina o primeiro concílio apostólico, e a primeira controvérsia apostólica. E, pelo que aprendemos desses assuntos em Atos, podemos concluir que a divisão entre os cristãos judeus e gentios tinha sido completamente curada pela decisão da assembleia; mas sabemos, pelas Epístolas, que a oposição do partido judaizante contra a liberdade dos cristãos gentios nem sequer cochilava. Logo começava de novo, e Paulo tinha que, constantemente, confrontar e lutar contra a questão.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A Primeira Viagem Missionária de Saulo (por volta de 48 d.C.)

Antes de nos ocuparmos com os apóstolos em sua viagem, cabe aqui uma observação sobre como as coisas mudaram. Eles partiram, devemos observar, não do velho centro, Jerusalém, mas da Antioquia, uma cidade de gentios. Isto é significativo. Jerusalém e os doze perderam a posição quanto à autoridade e poder para com o exterior. O Espírito Santo chama a Barnabé e Saulo para a obra, os prepara para isto, e os envia, sem a jurisdição dos doze.

Não será de esperar que em um livro, cujo conteúdo se propõe a ser resumido, possamos tomar nota dos vários eventos ocorridos nas viagens de Paulo. O leitor os encontrará em Atos e nas Epístolas. Propomos meramente traçar um esboço e dar destaque a determinados pontos de referência, pelos quais o leitor será capaz de traçar, por si mesmo, as várias jornadas do maior dos apóstolos - o maior dos missionários - o maior dos obreiros que já viveu, com exceção do bendito Senhor. Mas em primeiro lugar, gostaríamos de observar seus companheiros e seu ponto de partida.

Barnabé foi, por algum tempo, o companheiro mais próximo de Saulo. Ele era um levita da ilha de Chipre. Ele tinha sido chamado logo no início da história da igreja para seguir a Cristo, e "possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos." (Atos 4:37). Comparando sua liberalidade com o belo testemunho que o Espírito Santo dá sobre ele, ele permanece diante de nós com um amável e requintado caráter. E, a partir de seu apego a Paulo desde o início, e de sua cordialidade em apresentá-lo aos outros apóstolos, podemos julgar que ele era mais franco e tinha um coração maior do que aqueles que tinham sido treinados na estreiteza do judaísmo; mas faltava-lhe ainda, quanto ao serviço, o rigor e a determinação de seu companheiro Saulo.

João Marcos era um parente próximo de Barnabé - "o sobrinho de Barnabé" (Colossenses 4:10). Sua mãe era uma certa Maria que morava em Jerusalém, e cuja casa parece ter sido um local de reunião para os apóstolos e primeiros cristãos. Quando Pedro foi liberto da prisão, ele foi direto para "a casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos" (Atos 12:12). Supõe-se que ele tenha sido convertido por meio de Pedro, pois depois Pedro fala dele como "meu filho Marcos" (1 Pedro 5:13)

A partir disso aprendemos que ele não era nem um apóstolo nem um dos setenta - que ele não havia acompanhado o bendito Senhor durante Seu ministério público. Mas podemos supor que ele estava ansioso para servir a Cristo, pois se uniu a Barnabé e Saulo, embora mais tarde pareça que sua fé não era páreo para as dificuldades da vida missionária. "E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém." (Atos 13:13). Supõe-se que Marcos tenha escrito seu Evangelho por volta do ano 63 d.C.

A Antioquia, a antiga capital dos selêucidas, foi fundada por Seleuco Nicator por volta de 300 a.C. Foi uma cidade que só ficava atrás de Jerusalém no que diz respeito ao início da história da igreja. O que Jerusalém tinha sido para os judeus, a Antioquia era agora para os gentios. Era um ponto central. Nessa época ocupava um lugar de grande importância na propagação do cristianismo entre os pagãos. Aqui a primeira igreja gentia foi plantada (Atos 11:20,21). Aqui os discípulos de Cristo foram primeiramente chamados de cristãos (Atos 11:26). E aqui nosso apóstolo começou seu trabalho ministerial público.

Retornemos agora à missão.

Barnabé e Saulo, com João Marcos como auxiliar no ministério, são então enviados pelo Espírito Santo. Os judeus, em virtude de sua conexão com as promessas, tiveram o evangelho primeiramente pregado a eles; mas a conversão de Sérgio Paulo marca, de maneira especial, o início do trabalho entre os gentios. Também marca uma crise na história do apóstolo. Aqui seu nome é mudado de Saulo para Paulo; e agora - com exceção de Jerusalém (Atos 15:12-22) - não vemos mais "Barnabé e Saulo", mas sim "Paulo e os que estavam com ele" (Atos 13:13). Ele toma a dianteira; os outros são apenas aqueles que estão com Paulo. Mas o cenário tem ainda um caráter típico.

O procônsul era, evidentemente, um homem prudente e pensativo, e sentiu a necessidade de sua alma. Ele chama a Barnabé e a Saulo, e deseja ouvir a Palavra de Deus. Mas Elimas, o encantador, resiste a eles. Ele sabia bem que, se o governador recebesse a verdade que Paulo pregava, ele perderia sua influência na corte. Ele, portanto, procura afastar o deputado da fé. Mas Paulo, em dignidade consciente e no poder do Espírito Santo, "fixando os olhos nele" (Atos 13:9), e em palavras de mais fulminante indignação, o repreende na presença do governador. "Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele e, andando à roda, buscava a quem o guiasse pela mão. Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor." (Atos 13:10-12). O poder de Deus acompanha a palavra de Seu servo, e a sentença pronunciada é executada no mesmo instante. O deputado fica tomado pela glória moral da cena, e se submete ao evangelho.

"Eu não duvido", disse alguém, "que neste miserável Barjesus (Elimas) vemos uma figura dos judeus no tempo presente, acometidos de cegueira por algum tempo, por causa dos ciúmes da influência do evangelho. A fim de preencher a medida de sua iniquidade, eles resistiram à pregação do evangelho aos gentios. A condição deles é julgada; sua história é dada na missão de Paulo. Em oposição à graça e buscando destruir seus efeitos sobre os gentios, eles foram acometidos de cegueira; no entanto, apenas por um tempo." *

(* Synopsis of the Books of the Bible, volume 4, página 53,54. [Segunda Edição, Janeiro de 1950])

Durante essa primeira missão entre os gentios, um grande e abençoado trabalho foi feito. Compare Atos 13 e 14. Muitos lugares foram visitados, igrejas foram plantadas, anciãos foram nomeados, a hostilidade dos judeus manifestada, e a energia do Espírito Santo demonstrada no poder e progresso da verdade. Em Listra, o cristianismo foi confrontado, pela primeira vez, com o paganismo; mas em todo lugar o evangelho triunfa, e os vários dons de Paulo como obreiro aparecem de maneira abençoada. Seja ao abordar os judeus, que conheciam as Escrituras, ou bárbaros ignorantes, ou cultos gregos, ou multidões enfurecidas, ele prova ser um vaso divinamente escolhido para sua grande obra.

A Antioquia, na Pisídia, merece atenção especial pelo que aconteceu na sinagoga. Embora haja uma grande semelhança no discurso de Paulo comparado aos de Pedro e Estêvão nos primeiros capítulos de Atos, ainda podemos notar certos toques estritamente paulinos em seu caráter. Seu estilo conciliador de abordagem, o modo como ele apresenta a Cristo, e sua ousada proclamação de justificação pela fé somente, podem ser consideradas como típicas de suas póstumas abordagens e Epístolas. Nenhum dos escritores sagrados fala da justificação pela fé como Paulo fala. Seu apelo final tem sido um texto evangelístico favorito de muitos pregadores em todas as eras. Em poucas palavras, ele afirma a bem-aventurança de todos que recebem a Cristo, e a terrível desgraça daqueles que O rejeitarem, provando assim que não poderia haver um meio-termo ou terreno neutro quando Cristo está em questão. "Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê. Vede, pois, que não venha sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias, obra tal que não crereis, se alguém vo-la contar." (Atos 13:38-41)

Tendo sido cumprida a missão deles, eles retornam à Antioquia na Síria. Quando os discípulos ouviram o que o Senhor tinha feito, e que a porta da fé foi aberta aos gentios, eles deviam apenas louvar e bendizer Seu santo nome. Devemos agora retornar, por um momento, a Jerusalém.

O efeito da primeira missão de Paulo sobre os discípulos em Jerusalém levou a uma grande crise na história da igreja. O ciúme e a mente farisaica estava tão excitada que uma divisão entre Jerusalém e Antioquia foi ameaçada naquele período inicial da história da igreja. Mas Deus governou em graça, e o problema quanto à Antioquia foi felizmente resolvido. Mas o fanatismo dos crentes judeus era insaciável. Na igreja em Jerusalém eles ainda conectavam ao cristianismo os requisitos da lei, e procuravam impor esses requisitos aos crentes gentios.

Alguns dos cristãos judeus de cabeça mais fechada desceram à Antioquia, e asseguraram aos gentios que, a menos que eles fossem circuncidados segundo o costume de Moisés, e que guardassem a lei, eles não poderiam ser salvos. Paulo e Barnabé não tiveram pequena discussão e contenda com eles; mas como era uma questão muito pesada para ser resolvida pela autoridade apostólica de Paulo, ou por uma resolução da igreja em Antioquia, foi decidido que uma delegação deveria subir à Jerusalém e pôr a questão diante dos doze apóstolos e dos anciãos. A escolha de quem deveria levar a questão, naturalmente, caiu sobre Paulo e Barnabé, já que tinham sido os mais ativos na propagação do cristianismo entre os gentios.

Chegamos agora à terceira visita de Paulo a Jerusalém.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A Segunda Visita de Saulo a Jerusalém (por volta de 44 d.C.)

Encarregado desse serviço (levar provisões para os irmãos de Jerusalém, conforme visto no final da seção anterior), Barnabé e Saulo sobem a Jerusalém. Até agora, Jerusalém é considerada o centro da obra, embora agora estivesse rapidamente se estendendo aos gentios. Mas a união é preservada, e a ligação com a metrópole é fortalecida por meio da ajuda agora enviada. Não obstante, um novo centro, uma nova comissão, um novo caráter de poder, em conexão com a história da igreja, agora nos são apresentados. Barnabé e Saulo, tendo cumprido seu ministério, retornam novamente à Antioquia, trazendo com eles João, cujo sobrenome era Marcos.

Atos 13 abre diante de nós uma ordem de coisas inteiramente nova em conexão à obra apostólica, e faremos bem em assinalar tal grande mudança. O grande fato a ser observado aqui é o lugar que o Espírito Santo toma ao chamar e enviar Barnabé e Saulo. Não se trata mais de Cristo na Terra com Sua autoridade pessoal comissionando apóstolos, mas agora trata-se do Espírito Santo fazendo isso. "Apartai-me", disse o Espírito, "a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado... E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre." (Atos 13:2,4) Isto não significa, é claro, que podia haver alguma mudança no que diz respeito à autoridade ou poder, quer do Senhor quer do Espírito, mas seu modo de agir agora mudou. O Espírito Santo na Terra, em conexão a Cristo glorificado no Céu, agora se torna a fonte e poder da obra que se abre diante de nós, e que é atribuída a Barnabé e Saulo. A partir daí chegamos à primeira viagem missionária de Saulo.

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