sexta-feira, 27 de maio de 2016

Constantino

Capítulo 10: O Período de Pérgamo (313 - 606 d.C.)


O reinado de Constantino, o Grande, marca uma época muito importante na história da igreja. Tanto seu pai Constâncio quanto sua mãe Helena tinham inclinação à religiosidade e sempre foram favoráveis aos cristãos. Alguns anos da juventude de Constantino foram gastos na corte de Diocleciano e Galério na condição de refém. Ele testemunhou a publicação do decreto de perseguição na Nicomédia, em 303, e os horrores que se seguiram. Tendo conseguido fugir, ele seu uniu a seu pai na Grã-Bretanha. Em 306, Constâncio morreu na cidade de York. Ele tinha nomeado, como seu sucessor, seu filho Constantino, que foi, desse modo, saudado como Augusto pelo exército. Ele continuou e estendeu a tolerância que seu pai tinha outorgado aos cristãos.

Havia agora seis aspirantes à soberania do império - Galério, Licínio, Maximiano, Maxêncio, Maximino e Constantino. Seguiu-se uma cena de discórdia sem paralelo nos anais de Roma. Dentre esses rivais, Constantino possuía uma superioridade decidida no que diz respeito à prudência e capacidade, tanto militar quanto política. No ano 312, Constantino entrou em Roma vitorioso. Em 313, um novo decreto foi emitido, pelos quais os decreto de perseguição de Diocleciano foram revogados, os cristãos encorajados, seus mestres honrados, e os professantes do cristianismo avançaram a posições de confiança e influência no Estado. Esta grande mudança na história da igreja nos introduz ao período de Pérgamo (313 - 606 d.C.).

domingo, 22 de maio de 2016

A Mão Julgadora do Senhor

Grandes e importantes mudanças começaram a acontecer na soberania do império. Mas a Cabeça da igreja vigiava sobre tudo. Ele tinha limitado e definido o período de seu sofrimento, e nem as hostes do inferno, nem as legiões de Roma, poderiam estendê-lo em uma hora sequer. Os inimigos dos cristãos foram feridos com as mais terríveis calamidades. Parecia que Deus estava requerendo o sangue derramado. Galério, o verdadeiro autor da perseguição, no décimo oitavo ano de seu reinado e no oitavo da perseguição, expirou de uma enfermidade repugnante. Como Herodes Antipas e Filipe II da Espanha, ele foi "comido de bichos". Médicos foram procurados, oráculos foram consultados, mas tudo em vão; os remédio aplicados apenas agravaram a virulência da doença. O palácio inteiro estava tão infectado pela natureza de sua aflição que ele foi abandonado por todos os seus amigos. As agonias que ele sofreu o forçaram a clamar por misericórdia, e também por um sincero pedido para que os cristãos intercedessem pelos sofrimentos do imperador em suas súplicas ao seu Deus.

De seu leito de morte ele emitiu um decreto que, ao mesmo tempo que condescendia pedindo desculpas pelas severidades passadas contra os cristãos, sob o argumentos falacioso de respeito pelo bem-estar público e unidade do estado, também admitia plenamente a total falha das severas medidas para a supressão do cristianismo, e estabelecia a liberdade e exercício público da religião cristã. Alguns dias após a promulgação do decreto, Galério expirou. Por cerca de seis meses as misericordiosas ordens desse decreto foram seguidas, e um grande número foi libertado das prisões e das minas; mas infelizmente, trazendo as marcas de torturas corporais à beira da morte. Esta breve cessação da perseguição mostrou, ao mesmo tempo, seu temível caráter e alarmante extensão.

Mas Maximino, que sucedeu Galério no governo da Ásia, buscou reviver a religião pagã em todo o seu esplendor original e suprimir o cristianismo com renovada e implacável crueldade. Ele comandou que todos os oficiais de seu governo, desde os mais altos até os mais baixos, tanto do serviço civil quanto do militar, que todos os homens e mulheres, todos os escravos, e até mesmo as crianças, deveriam sacrificar e até mesmo participar do que era oferecido nos altares pagãos. Todos os legumes e provisões no mercado deveriam ser aspergidos com a água e o vinho utilizados nos sacrifícios, para que os cristãos fossem assim forçados ao contato com as ofertas idólatras.

Novas torturas foram inventadas, e torrentes frescas de sangue cristão fluíram em todas as províncias do Império Romano, com a exceção da Gália. Mas a mão do Senhor foi novamente posta pesadamente tanto sobre o império quanto sobre o imperador. Todo tipo de calamidade prevaleceu. Opressão, guerra, pestilência e fome despovoaram as províncias asiáticas. Ao longo dos domínios de Maximino, as chuvas de verão não caíram; uma fome desolou todo o Oriente, muitas famílias opulentas foram reduzidas à mendicância, e outras venderam seus filhos como escravos. A fome foi acompanhada de suas usuais pestilências. Pústulas surgiram sobre todo o corpo daqueles atingidos pela enfermidade, mas especialmente sobre os olhos, de modo que multidões se tornaram cegas impotentes e incuráveis. Todos desanimavam, e todos os que conseguiam fugiam das casas infectadas, de modo que miríades foram deixadas a perecer em um estado de abandono absoluto. Os cristãos, movidos pelo amor de Deus em seus corações, começaram a exercer os bondosos ofícios da humanidade e misericórdia. Eles cuidavam dos vivos, e decentemente enterravam os mortos. O medo caiu sobre todos. Os pagãos concluíram que suas calamidades eram uma vingança do céu por perseguirem seu povo favorecido.

Maximino ficou alarmado, e esforçou-se, tarde demais, para refazer os seus passos. Ele emitiu um decreto admitindo os princípios de tolerância, e comandando a suspensão de qualquer medida violenta contra os cristãos, recomendando apenas meios suaves e persuasivos para reconquistar esses apóstatas da religião de seus antepassados. Tendo sido derrotado na batalha contra Licínio, ele voltou sua ira contra os sacerdotes pagãos. Ele os acusou de o terem enganado com falsas esperanças de vitória sobre Licínio, e do império universal no Oriente, e então vingou seu desapontamento por meio de um promíscuo massacre de todos os sacerdotes pagãos ao seu alcance. Seu último ato imperial foi uma promulgação de outro decreto ainda mais favorável aos cristãos, no qual ele proclamava liberdade irrestrita de consciência e restaurava as propriedades confiscadas de suas igrejas. Mas a morte veio e encerrou o sombrio catálogo de seus crimes, e também a sombria linha de imperadores perseguidores que morreram pelos mais excruciantes tormentos sob a divina mão do julgamento divino. Muitos nomes de grande fama, tanto por posição quanto por caráter, estão entre os mártires desse período, e muitos milhares, desconhecidos e despercebidos na terra, mas cujo registro está nas alturas, e cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro.

Assim encerra-se o mais memorável de todos os ataques dos poderes das trevas contra a igreja cristã, e assim encerra-se a última esperança do paganismo em manter-se pela autoridade do governo. O relato da mais violenta, mais variada, mais prolongada e mais sistemática tentativa de exterminar o evangelho já conhecida bem merece o espaço que a destinamos, de modo que não nos desculpamos por sua extensão neste texto. Vimos o braço do Senhor erguido de modo gracioso e solene para castigar e purificar Sua igreja, para demonstrar a imperecível verdade do cristianismo, e para cobrir com eterna vergonha e confusão seus audazes mas impotentes inimigos. Como Moisés, podemos exclamar: "E eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça" (Êxodo 3:2-4). Assim vemos o porquê da sarça não se queimar, ou o porquê de Israel não ter sido consumido no Egito , ou o porquê da igreja neste mundo não ter sido exterminada: Deus estava no meio da sarça, Ele está no meio de Sua igreja - ela é a habitação de Deus pelo Espírito. Além disso, Cristo disse claramente, referindo-se a Ele mesmo em Seu exaltado poder e glória: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16:18).

O Quarto Decreto

Por um quarto decreto as ordens que se aplicavam apenas ao clero foram então estendidas a todo o corpo de cristãos. Os magistrados foram instruídos a usar livremente da tortura para forçar todos os cristãos - homens, mulheres e crianças - à adoração aos deuses. Diocleciano e todos os seus colegas estavam agora comprometidos com essa batalha desesperada e desigual. Os poderes das trevas - todo o Império Romano - puseram-se em pé, armados, determinados, comprometidos com a defesa do antigo politeísmo e com o completo extermínio do nome cristão. Recuar seria o mesmo que confessar fraqueza, e para saírem bem-sucedidos o adversário devia ser exterminado; mas não podia haver vitória, pois os cristãos não ofereciam resistência. Historicamente, este foi o confronto final e temível entre o paganismo e o cristianismo; a batalha estava agora em seu auge, e chegando a uma crise.

Uma proclamação pública foi feita através das ruas das cidades, de que homens, mulheres e crianças deviam todos ajudar a reparar os templos dos deuses. Todos deviam ser submetidos à prova de fogo: sacrificar ou morrer. Cada indivíduo foi convocado pelo nome a partir de listas previamente criadas. Às portas das cidades todos eram submetidos a um exame rígido, e aqueles que descobria-se serem cristãos eram imediatamente presos.

Detalhes sobre os sofrimentos e martírios que se seguiram encheriam volumes. À medida que os decretos se seguiam em rápida sucessão e irada severidade, o espírito do martírio revivia, e fortalecia-se mais e mais, até que homens e mulheres, em vez de serem presos e arrastados à fogueiras, lançavam-se nas chamas ardentes, como se subissem ao céu em carruagens de fogo. Famílias inteiras foram submetidas a vários tipos de morte, algumas pelo fogo, outros pela água, após suportarem severas torturas, alguns pereciam de fome, outros por crucificação, e alguns foram presos de cabeça para baixo e deixados vivos, para que morressem uma morte lenta. Em alguns lugares dez, vinte, sessenta e até cem homens e mulheres, com seus pequeninos, foram martirizados por meio de vários tormentos em um único dia.*

{* Para conhecer os nomes e detalhes sobre muitos desses sofredores, veja Milner, vol. 1, pp. 473-506.}

Em quase todas as partes do mundo romano tais cenas de barbárie impiedosa continuaram com mais ou menos severidade pelo longo período de dez anos. Apenas Constâncio, dentre todos os imperadores, inventou meios de proteger os cristãos no Ocidente, especialmente na Gália, onde residia. Mas em todos os outros lugares eles foram entregues a toda a sorte de crueldades e injúrias, sem o direito de poder apelar às autoridades, e sem a mínima proteção do Estado. Foi dada livre licença à população pagã para praticarem toda sorte de excessos contra os cristãos. Sob tais circunstâncias o leitor pode facilmente imaginar ao que eles eram constantemente expostos, tanto em suas vidas quanto em suas propriedades. Os ímpios se sentiam seguros de jamais serem chamados a responder por qualquer violência contra os cristãos pelas quais fossem culpados. Mas os sofrimentos dos homens, embora grandes, pareciam poucos comparados aos das mulheres. O medo da exposição e violência era mais temida do que a mera morte.

Vamos tomar um exemplo. "Certa mulher santa e devota", diz Eusébio, "admirável por sua virtude, e ilustre, acima de tudo, na Antioquia por sua riqueza, família e reputação, tinha educado suas duas filhas - então na flor da idade e conhecidas por sua beleza - nos princípios da piedade. O esconderijo onde estavam foi descoberto, e elas foram capturadas nas malhas da soldadesca. A mãe, preocupada por si mesma e por suas filhas, e sabendo o que estava para lhes acontecer, sugeriu que era melhor morrerem, entregando-se nas mãos de Cristo, do que caírem nas mãos dos brutais soldados. Depois disso, todas concordando com a mesma coisa, e tendo pedido aos guardas um pouco de tempo, se lançaram no rio para escaparem de um mal maior". Embora tal ato não possa ser plenamente justificado, deve ser julgado com muitas considerações. Elas foram levadas pelo desespero. E temos certeza de que o Senhor sabe como perdoar tudo o que é errado em nossas ações, e nos dar total crédito por tudo o que é correto em nossos motivos.

Por um momento, os perseguidores em vão imaginaram que iriam triunfar sobre a queda do cristianismo. Pilares foram erguidos e medalhas foram cunhadas para a honra de Diocleciano e Galério, por terem extinguido a superstição cristã e por restaurarem a adoração aos deuses. Mas aquEle que está assentado no céu estava no mesmo momento anulando a própria ira desses homens para a completa libertação e triunfo de Seu povo, e para a reconhecida derrota e queda de seus inimigos. Eles podiam martirizar cristãos, demolir "igrejas" e queimar livros; mas as fontes vivas do cristianismo estavam além de seu alcance.

O Terceiro Decreto

Um terceiro decreto foi imediatamente emitido proibindo a liberação de qualquer pessoa do clero, a menos que consentissem em oferecer sacrifício aos ídolos. Eles foram declarados inimigos do Estado, e onde houvesse um prefeito hostil que escolhesse exercer sua autoridade sem limites, eles eram todos levados em prisões destinadas apenas aos mais vis criminosos. O decreto estabelecia que aqueles dentre os prisioneiros que estivessem dispostos a oferecer sacrifício aos deuses deviam ser libertados, e que o restante devia ser compelido por torturas e punições. Grandes multidões da mais devota piedade, e veneráveis na igreja, ou foram executados ou foram enviados às minas. O imperador pensou, em vão, que se os bispos e mestres fossem subjugados, as igrejas logo seguiriam o exemplo deles. Mas percebendo que o resultado de suas medidas foi a mais humilhante derrota, ele foi instigado, pela influência unida de Galério, dos filósofos e dos sacerdotes pagãos, a emitir um outro e ainda mais rigoroso decreto.

O Segundo Decreto

Não muito tempo depois que o primeiro decreto tinha sido levado à execução por todo o império, rumores de revoltas na Armênia e Síria, regiões densamente populadas por cristãos, chegaram aos ouvidos do imperador. Essas confusões foram falsamente atribuídas aos cristãos, e proporcionaram um pretexto para um segundo decreto. Insinuava-se que o clero, como líderes dos cristãos, eram particularmente suspeitos nessa ocasião, e o decreto determinou que todos os que eram da ordem clerical fossem lançados na prisão. Assim, em um curto período de tempo, as prisões estavam cheias de bispos, presbíteros e diáconos.

O Primeiro Decreto

Por volta do dia 24 de fevereiro de 303, o primeiro decreto foi emitido. Ele ordenava que todos os que se recusassem a sacrificar aos ídolos deveriam perder seus cargos, suas propriedades, sua classe, e os privilégios civis; que os escravos que persistissem em professar o evangelho fossem excluídos da esperança da liberdade, que todos os cristãos de todas as classes deviam ser destruídos, que as reuniões religiosas deviam ser suprimidas, e que as Escrituras deviam ser queimadas. A tentativa de exterminar as Escrituras foi uma característica nova nessa perseguição e, sem dúvida, foi sugerida pelos filósofos que frequentavam o palácio. Eles estavam bem conscientes de que seus próprios escritos teriam pouca influência sobre a opinião pública se as Escrituras e outros livros sagrados estivessem em circulação. Imediatamente após essas medidas terem sido tomadas a igreja de Nicomédia foi atacada, os livros sagrados foram queimados, e os edifícios inteiramente demolidos em poucas horas. Por todo o império as "igrejas" dos cristãos deveriam ser derrubadas até o pó, e os livros sagrados deviam ser entregues aos oficiais do império. Muitos cristãos que recusaram entregar as Escrituras foram condenados à morte, enquanto aqueles que as entregaram para serem queimadas foram considerados pela igreja como traidores de Cristo, e mais tarde houve grandes problemas no exercício da disciplina para com tais pessoas. *

{* Pode ser do interesse do leitor saber que nenhum dos manuscritos do Novo Testamento existentes datam de antes da metade do quarto século. Um fato responsável por isso, em grande medida, é a destruição dos escritos cristãos, especialmente as Escrituras, no reinado de Diocleciano durante a primeira parte daquele século. Sob Constantino sabe-se que esforços especiais foram empreendidos para criar cópias fidedignas, das quais o famoso crítico Tischendorf acredita que os manuscritos do Sinai sejam uma.}

Mal este cruel decreto tinha sido afixado no local costumeiro e um cristão de classe nobre o rasgou. Sua indignação com a injustiça o levou de modo tão flagrante a um ato de zelo imprudente - a uma violação daquele preceito do evangelho que ordena o respeito para com todos em posição de autoridade. Foi uma ocasião adequada para sentenciar um cristão de classe alta à morte. Ele foi queimado vivo em fogo baixo, e suportou seus sofrimentos com uma serenidade tão digna que surpreendeu e humilhou seus carrascos. A perseguição tinha agora começado. O primeiro passo contra os cristãos tinha sido tomado, e o segundo não demorou.

Não muito tempo após a publicação do decreto houve um incêndio no palácio de Nicomédia que se espalhou quase até a câmara do imperador. A origem do fogo parece ser desconhecida, mas obviamente a culpa foi jogada sobre os cristãos. Diocleciano acreditou nisto. Ele ficou alarmado e indignado. Multidões foram lançadas na prisão, sem discriminação daqueles que eram ou não suspeitos, e as mais cruéis torturas foram empregadas para que houvesse uma confissão; mas foi em vão. Muitos foram queimados até a morte, decapitados e afogados. Cerca de quatorze dias depois, um segundo incêndio irrompeu no palácio. Tinha se tornado então evidente que era obra de um incendiário. Os pagãos novamente acusaram os cristãos, e em alta voz clamaram por vingança, mas como não havia provas que pudessem ser encontradas de que os cristãos tivessem algo a ver com esses incêndios fatais, uma forte e, cremos, verdadeira suspeita, repousava sobre o próprio imperador Galério. Seu grande objetivo desde o início era incriminar os cristãos e alarmar Diocleciano por meio de suas próprias medidas violentas. Estando plenamente consciente da consequência desses eventos na mente sombria, tímida e supersticiosa do velho imperador, ele imediatamente deixou Nicomédia, alegando que não se considerava seguro na cidade.

Mas o objetivo foi alcançado, superando a extensão que até mesmo Galério e sua mãe pagã podiam ter desejado. Diocleciano, agora completamente incitado, irou-se ferozmente contra toda sorte de homens e mulheres que levavam o nome de cristão. Ele obrigou sua esposa Prisca e sua filha Valéria a oferecer sacrifício. Oficiais do palácio, da mais alta classe e nobreza, e todos os habitantes do palácio, foram expostos às mais cruéis torturas, pela ordem, e até mesmo na presença, do próprio Diocleciano. Os nomes de alguns de seus ministros de estado foram proferidos por preferirem as riquezas de Cristo à grandeza de seu palácio. Um dos eunucos foi trazido perante o imperador e foi torturado com grande severidade por rejeitar o sacrifício aos ídolos. Procurando fazer dele um exemplo para os outros, uma mistura de sal e vinagre foi derramada em suas feridas abertas, mas foi tudo em vão. Ele confessou sua fé em Cristo como seu único Salvador, e que não possuía nenhum outro Deus. Ele foi então gradualmente queimado até a morte. Doroteus, Gorgônio e Andrea, eunucos que serviam no palácio, também foram condenados à morte. Antimo, o bispo de Nicomédia, foi decapitado. Muitos foram executados, muitos foram queimado vivos, mas se tornou tedioso destruir homens individualmente, e então grandes fogueiras eram acesas para queimar muitos de uma só vez, e outros foram levados para o meio de um lado e lançados à água com pedras presas em seus pescoços.

A partir da Nicomédia, o centro da perseguição, as ordens imperiais foram despachadas, requerendo a cooperação dos outros imperadores na restauração da dignidade da religião antiga, e a completa supressão do cristianismo. Assim a perseguição se ergueu por todo o mundo romano, com exceção da Gália. Ali governava o brando Constâncio, e, embora ele tenha demonstrado concordância com as medidas de seus colegas, pela demolição das "igrejas", ele se absteve de toda violência contra as pessoas cristãs. Embora ele próprio não fosse um cristão decidido, ele era naturalmente humano, e evidentemente amigável ao cristianismo e aos que o professavam. Ele presidia sobre o governo da Gália, Grã-Bretanha e Espanha. Mas o temperamento feroz de Maximiano e a crueldade selvagem de Galério apenas aguardavam o sinal para levar em efeito as ordens vindas da Nicomédia. E agora os três monstros se erguiam, na plena força do poder civil contra os seguidores indefesos e inocentes do manso e humilde Jesus, o Príncipe da Paz.
"A graça que começou terminará em glória;
Jesus, dEle é a vitória
Em Sua própria triunfante história
Está o registro da nossa própria história."

sábado, 21 de maio de 2016

Os Atos de Diocleciano e o Fim do Período de Esmirna

Até aqui a igreja já havia passado por nove perseguições sistemáticas. A primeira foi sob Nero, depois sob Domiciano Trajano, Marco Aurélio, Severo, Maximino, Décio, Valeriano e Aureliano. E agora chegara o temível momento, quando ela enfrentaria a décima perseguição, de acordo com a palavra profética do Senhor: "E tereis uma tribulação de dez dia" (Apocalipse 2:10). E não é pouco notável que, não apenas houve exatamente dez perseguições do governo, como também que a última tenha durado exatamente dez anos. E, como vimos na parte inicial do período de Esmirna, exatamente dez anos passaram desde o início da perseguição sob Aurélio, no Oriente, até seu fim no Ocidente. O estudante cristão pode traçar outras características semelhantes: preferimos sugerir tais características do que forçar sua aceitação, embora acreditemos que elas tenham sido prefiguradas na epístola à Esmirna.

O reinado de Diocleciano é de grande importância histórica. Primeiro, porque se distinguiu pela introdução de um novo sistema de governo imperial. Ele virtualmente transferiu a capital da antiga Roma para a Nicomédia, na qual estabeleceu sua sede e residência. Lá ele manteve uma corte de esplendor oriental, para a qual ele convidada homens de erudição e filosofia. Mas o filósofos que frequentavam sua corte, todos nutrindo extremo ódio contra o cristianismo, usaram de sua influência com o imperador para exterminar uma religião pura demais para atender às suas mentes poluídas. Isto levou à última e maior perseguição aos cristãos. E é esta última que nos interessa. E como todas as histórias sobre este período são recolhidas principalmente dos registros de Eusébio e Lactâncio, que escreveu nessa época e testemunhou muitas execuções, podemos fazer pouco mais do que selecionar e transcrever a partir do que já está escrito, consultando os vários autores já mencionados.

Os sacerdotes pagãos e filósofos acima mencionados, não tendo sido bem-sucedidos em seus artifícios com Diocleciano a fim de criar uma guerra contra os cristãos, fizeram uso do outro imperador, Galério, seu genro, para cumprir seus propósitos. Este homem cruel, impelido em parte por sua própria inclinação, em parte por sua mãe, uma pagã muito supersticiosa, e em parte pelos sacerdotes, não deu sossego ao seu sogro enquanto não o convenceu.

Durante o inverno do ano 302-303, Galério fez uma visita a Diocleciano na Nicomédia. Seu grande objetivo era excitar o velho imperador contra os cristãos. Diocleciano, por um tempo, resistiu à sua importunação. Ele era avesso, por algum motivo, às medidas sanguinárias propostas por seu parceiro. Mas a mãe de Galério, uma inimiga implacável dos cristãos, empregou toda a sua influência sobre seu filho para inflamar sua mente com hostilidades imediatas e ativas. Diocleciano, com o tempo, cedeu. Antes disso, Galério tinha tomado o cuidado de remover do exército todos os que se recusavam a sacrificar aos ídolos. Alguns foram dispensados, e outros foram sentenciados à morte.

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