terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O Cerco de Antioquia

No dia 18 de outubro de 1097, os "guerreiros da cruz" sitiaram a Antioquia, onde os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos, e que logo depois tornou-se o centro dos labores missionários do grande apóstolo. Mas que mudança de espírito, objetivo e modos do seu assim chamado sucessor -- daquele que assumia o blasfemo título de vigário de Cristo, mas em quem cuja porta a culpa e o derramamento de sangue desta, a maior de todas as ilusões populares, para sempre repousará. Jezabel ainda pode reinar tanto na igreja quanto no Estado, e amigos, assim como inimigos, devem ser sacrificados para atingir seu objetivo e gratificar sua ambição. Mas o dia rapidamente se aproxima quando a requisição pelo sangue será feita, e o juízo será dado, de acordo com os motivos, assim como com as ações. O testemunho agradecido a Deus, que saiu da Antioquia no primeiro século, é tão simples e verdadeiro agora como era então, e de igual autoridade sobre o coração e a consciência, não obstante o fluxo corrupto de dez mil que professamente fluíam da mesma fonte. É na doutrina dos apóstolos que temos que confiar, e não na tradição dos Pais. Em todas as épocas o credo cristão deveria ser: a pessoa de Cristo para o coração, a obra de Cristo para a consciência, e a palavra de Deus para o caminho.

O cerco de Antioquia durou oito meses. As dificuldades sofridas durante esse período foram terríveis. Por um tempo, as condições do solo e do clima foram apreciadas, até mesmo em excesso, mas o inverno chegou e a alegria deles acabou. As chuvas fortes inundaram seus acampamentos, e os ventos derrubaram suas tendas. Fome e pestilência, com suas muitas consequências, prevaleceram. A carne de cavalos, cachorros, e até mesmo de inimigos abatidos era avidamente devorada. No início do cerco, seus cavalos contavam 70.000, e no final contavam apenas 2.000, e dificilmente 200 davam para o serviço. Com o tempo, no entanto, o auxílio veio, ou teriam perecido até o último homem. Por meio da traição de um oficial sírio da cidade, que tinha o favor do emir*, e que comandava três torres, um portão foi aberto. O exército invadiu a cidade devota, gritando o grito de guerra dos cruzados, "Deus o quer!", e a Antioquia caiu mais uma vez nas mãos dos cristãos. Mas a vitória não estava completa. A cidadela recusou-se a se render, e logo após essa aparente vitória, uma força esmagadora de turcos apareceu, sob Cerboga, Príncipe de Mosul. Durante vinte e cinco dias, os cruzados estiveram novamente à beira da completa destruição entre Cerboga e a guarnição da fortaleza.

{* emir: título de nobreza equivalente a príncipe.}

Quandos os corações de todos começaram a desistir, e uma indiferença generalizada à vida prevaleceu, um astuto monge de nome Bartolomeu apresentou-se à porta da câmara do conselho, e declarou que tinha-lhe sido reveleado do céu em um sonho que sob o grande altar da igreja de São Pedro seria encontrada a lança que perfurou o Salvador na cruz. O chão foi aberto, mas após cavarem uma profundidade de vinte pés eles não encontraram o objeto. À noite, com os pés descalços e em vestes de penitência, o próprio Bartolomeu desceu no poço; e logo encontrou a ponta de uma lança. O anel de aço foi ouvido, era a arma sagrada. Ao primeiro relance da lança sagrada os desanimados cruzados passaram do desespero ao entusiasmo. Um salmo marcial foi cantado pelos padres e monges: "Que Deus se levante, e que seus inimigos sejam espalhados". Os portões de Antioquia foram escancarados, e então os guerreiros fanáticos precipitaram-se, com a lança sagrada sendo carregada pelo capelão do legado. O ataque foi irresistível; os sarracenos fugiram diante do ataque inesperado, deixando para trás uma imensa quantidade de espólios. Boemundo foi proclamado Príncipe da Antioquia, sob a condição de que ele deveria acompanhá-los até Jerusalém.

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