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terça-feira, 5 de março de 2019

Inocêncio e as Propriedades da Igreja

A morte de Henrique, os ciúmes e rivalidades dos chefes germânicos, e o estado exasperado dos italianos, preparou o caminho para o pleno exercício dos grandes poderes da administração de Inocêncio. As crueldades do imperador Henrique para com seus súditos italianos haviam atiçado todo o país em busca de revolta. Eles estavam apenas aguardando um libertador do jugo germânico. Esse libertador era Inocêncio. Ele convocou Marcovaldo, o mais formidável dos tenentes imperiais no comando, para que entregasse a São Pedro todas as propriedades da igreja. Marcovaldo fez uma pausa: embora ele fosse um homem ousado e ambicioso, e possuidor de grande riqueza e poder, ele desejava evitar uma disputa aberta com o papa. Ele estava consciente do perigo que corria pelo ódio que o povo nutria contra o jugo estrangeiro; e assim esforçou-se em conseguir uma aliança com muitas promessas de serviço à igreja. Mas o papa permaneceu firme e resistiu a todas as suas ofertas, fossem de dinheiro ou de serviço. Ele exigiu a entrega incondicional e imediata de todos os territórios da igreja. Marcovaldo recusou. O povo se levantou para apoiar as reivindicações do papa. A guerra começou. As bandeiras germânicas foram rasgadas, cidade após cidade se ergueu em rebelião e lançou ao chão tudo o que fosse germânico. Marcovaldo, insultado e ardendo em ira, "vingou-se ao sair dos portões de Ravena, devastando toda a região, queimando, saqueando, destruindo propriedades e colheitas, castelos e igrejas. Inocêncio abriu os tesouros papais, pegou emprestado grandes somas de dinheiro, ergueu um exército, e lançou uma excomunhão contra o vassalo rebelde da igreja, na qual ele absolvia de seus juramentos todos os que tinham jurado lealdade a Marcovaldo"*.

{*Milman, vol. 4, p. 19}

A queda de Marcovaldo encheu os outros de consternação. Eles propuseram termos de paz e ofereceram pagar tributo, mas Inocêncio não queria aceitar nada. Ele reivindicou a posse dos domínios patrimoniais sem reservas, declarou-se herdeiro da doação da condessa Matilde, e soberano do ducado da Toscana. Mas nenhum evento, vindo em consequência à doença do Imperador, foi mais importante para o papado do que a conduta infiel da imperatriz Constança. Imediatamente após a morte de seu marido, embora tivesse deixado a guarda natural do reino, separou-se da causa germânica e retornou à Sicília com seu filho pequeno Frederico. Ela abraçou os interesses de sua terra natal, lançou-se nos braços da Santa Sé, fez com que seu filho fosse coroado em Palermo, e solicitou a investidura pontifícia do reino para seu filho como um feudo da sé papal. Inocêncio viu sua própria força, sua fraqueza, e fez seus próprios termos. A imperatriz e seu filho foram obrigados a reconhecer a superioridade feudal absoluta do papa sobre todo o reino de Nápoles e Sicília, e que pagassem um alto tributo anual. Os guerreiros germânicos foram obrigados a se retirarem para os castelos no continente, mas apenas para que meditassem em sua presente derrota e futura vingança.

As conquistas de Inocêncio tinham sido rápidas e estavam aparentemente completas. Em menos de um ano após sua ascensão ao trono papal, ele era virtualmente o rei da Sicília, e mestre de seus próprios grandes territórios. Por meio de seus legados, ele fez sua presença ser sentida e forçou obediência em todos os seus recém adquiridos domínios. Mas, como sempre, a besta na qual monta a mulher tornou-se ainda mais obstinada. Os territórios, fortalezas, cidadelas e terras, que tinham sido recuperadas dos germânicos, foram reivindicadas pela sé papal como sendo sua possessão. Mas, como tais exigências fossem tanto injustas quanto ilegais, a resistência da parte dos cidadãos e dos governadores imperiais foi a consequência natural, e por anos a Sicília e suas províncias foram palco de anarquia, violência, derramamento de sangue e incessantes intrigas. E ainda assim, nessa mesma época, Inocêncio lembrou aquelas cidades que se opunham a entregar-lhe o total benefício de sua duramente adquirida libertação, da terrível natureza do poder a que eles ousaram se opôr. A falta de confiança deles para com o papa era considerado um crime contra o próprio Senhor Jesus, cujo sucessor era ele, "alguém em que não havia pecado algum, nem na sua boca se achou engano". Podia a blasfêmia ser mais ousada, ou mais descarada? Poderia haver uma tentativa mais perversa de unir o dragão e o cordeiro?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A Disseminação do Cristianismo na Alemanha e Arredores

É mais do que provável que a cruz tenha sido introduzida, num período primitivo, no coração das florestas germânicas, assim como naquelas cidades e distritos que estavam sujeitos ao Império Romano. Os nomes de vários bispos da Alemanha {*N. do T.: ou Germânia, como era conhecida a região na época romana} são encontrados nas listas dos concílios de Roma e Arles realizados sob a autoridade de Constantino nos anos 313 e 314. Mas não foi até o final do sexto e início do sétimo século que o cristianismo foi amplamente disseminado e firmemente enraizado na região. Os bretões (ou britânicos), os escotos (ou escoceses) e os irlandeses foram honrados por Deus como os principais instrumentos nessa grande e abençoada obra. O ardente Columbano, cuja missão já tomamos nota, foi o líder dos primeiros grupos que foram ao auxílio dos pagãos no continente europeu. Ele primeiramente atravessou a França, então passou o Reno e trabalhou pela conversão dos suábios, bávaros, francos e outras nações da Alemanha. St. Kilian, um escocês e evangelista muito devoto, o seguiu. Ele é considerado o apóstolo da Francônia e honrado como um mártir por sua fidelidade cristã por volta do ano 692. Willibrord, um inglês missionário com onze de seus compatriotas, cruzou para a Holanda para trabalhar entre os frísios; mas assim como outros anglo-saxões do período ele era fervorosamente devoto à Sé Romana. Ele foi ordenado bispo de Witteburg pelo papa; seus associados propagaram o evangelho através da Vestfália e dos países vizinhos.

Mas o homem que levou as nações da Germânia como um rebanho de ovelhas sob o pastorio de Roma foi o famoso Vinfrido. Ele nasceu em Crediton, em Devonshire, de uma nobre e rica família, por volta do ano 680. Ele entrou em um monastério em Exeter quando tinha sete anos, e mais tarde se mudou para Nursling em Hampshire. Ali ele se tornou famoso por sua capacidade como pregador e como expositor das Escrituras. Ele se sentia chamado por Deus logo no início de sua vida para ir mundo afora como um missionário aos pagãos. Ele navegou para a Frísia no ano 716. Seus labores foram longos e abundantes. Três vezes ele visitou Roma e recebeu grandes honras do papa. Sob o título de São Bonifácio, e considerado o apóstolo da Germânia, ele morreu como um mártir aos sessenta e cinco anos. Mas embora ele tenha sido um missionário muito bem-sucedido, um homem de grande força de caráter, de grande erudição e de vida santa, ele era um vassalo jurado do papa, e buscava mais o avanço da igreja de Roma do que o avanço do evangelho de Cristo.*

{*Para detalhes particulares veja Middle Ages, de Hardwicke; J. C. Robertson, vol. 2, p. 95}

domingo, 2 de outubro de 2016

A Conversão dos Bárbaros

É sempre interessante e edificante identificar a mão do Senhor ao tornar a ira do homem em instrumento para Seu próprio louvor, e ao trazer o maior bem ao Seu próprio povo em meio ao que parecia ser sua mais pesada calamidade. No reinado de Galieno, por volta de 268, um grande número de provinciais Romanos tinham sido levados em cativeiro pelos bandos góticos; muitos desses cativos eram cristãos, e vários pertenciam à ordem eclesiástica. Eles foram dispersos por seus mestres como escravos nos vilarejos: mas também como missionários pelo Senhor. Eles pregaram o evangelho ao povo bárbaro, e muitos foram convertidos. Seu aumento e ordem podem ser inferidos do fato de que eles foram representados no concílio de Niceia por um bispo chamado Teófilo.

Ulfilas, que é comumente chamado "o Apóstolo dos Godos", mereceu a grata lembrança da posteridade, mas especialmente dos cristãos. Por volta da metade do século IV, ele inventou um alfabeto e traduziu as Escrituras para a linguagem gótica, com a exceção do livro de Samuel e de Reis, por receio de que seu conteúdo belicoso (cheio de guerras) pudesse parecer favorável à ferocidade dos bárbaros. A princípio eles parecem ter sido simples e ortodoxos em sua fé, mas mais tarde se tornaram profundamente manchados com o arianismo, especialmente após os ministros arianos, que foram expulsos de suas "igrejas" por Teodósio, terem trabalhado diligentemente entre eles.

Alarico e seus godos eram cristãos professos. Eles dirigiam sua ira contra os templos pagãos, mas reverenciavam muito as "igrejas". Esta foi a grande misericórdia de Deus para Seu povo. Muitos fugiam para as "igrejas", onde encontravam um santuário. A fé fervorosa e o zelo infatigável de Ulfilas, juntamente com sua vida irrepreensível, tinha ganhado o amor e confiança do povo. Eles receberam na fé as doutrinas do evangelho, que ele pregava e praticava: de modo que os primeiros invasores do império tinham previamente aprendido, em sua própria terra, a professar, ou ao menos respeitar, a religião dos conquistados. E aqui vemos a verdade, ou melhor, o cumprimento das palavras do Apóstolo em sua Epístola aos Romanos: "O evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego"; e depois: "Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." Os cidadãos cultos do Império Romano e os rudes habitantes da Cítia e da Germânia foram, do mesmo modo, colocados sob o poder salvador do evangelho. 

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