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sábado, 18 de julho de 2020

Monges Antigos e Modernos

A origem e a história inicial do monasticismo foram cuidadosamente traçadas no Capítulo 12 deste livro; mas, como seu caráter muda completamente no século XIII, será fácil esboçar seu progresso desde os primeiros tempos, e assim, ver mais claramente o contraste. Esse plano também nos dará a oportunidade de olhar a condição interna da igreja de Roma antes que a luz da Reforma penetre e revele suas terríveis trevas.

No final do século III, mas especialmente durante o quarto, os desertos da Síria e do Egito tornaram-se morada de monges e eremitas. Os lugares mais privados e pouco frequentados no vasto deserto foram selecionados pelos primeiros reclusos. Os relatos da santidade deles, de seus milagres e devoção se tornaram a principal literatura da igreja. A infecção se espalhou. Homens ansiosos por se destacar na santidade ou obter a reputação de uma piedade peculiar abraçaram a ordem monástica. A prática prevaleceu tão rapidamente que, antes do início do século VI, estendia-se em igual proporção à própria Cristandade. Havia três classes desses monges antigos. 1. Solitários -- aqueles que moravam sozinhos em lugares distantes de todas as cidades e habitações dos eremitas dos homens. 2. Coenobitas -- aqueles que viviam em comum com os outros na mesma casa para fins religiosos e sob os mesmos superiores. 3. Sarabaítas -- descritos como monges irregulares que peregrinavam, que não tinham regra ou residência fixos. Estes podem ser considerados dissidentes dos Coenobitas, que viviam dentro de seus próprios portões. O muro que os confinava, em alguns casos, também encerrava seus poços e jardins, e tudo o que era necessário para o sustento deles, de modo a não deixar nenhum pretexto nem mesmo para uma relação ocasional com o mundo que eles haviam abandonado para sempre.

Aqueles a quem chamamos de monges hoje em dia são os coenobitas, que vivem juntos em um convento ou mosteiro, fazem votos de viver de acordo com uma certa regra estabelecida pelo fundador e vestem um hábito que marca a distinção de sua ordem.

As revoluções do Ocidente, no século V, mostraram-se favoráveis ​​ao monasticismo. Os bárbaros ficaram impressionados com os números, peculiaridades e professada santidade dos monges. Suas residências, portanto, não foram perturbadas e tornaram-se um refúgio tranquilo dos problemas da época. A superstição lhes dava honra; a riqueza começava a fluir, mas com ela degeneração e corrupção. Já havia espaço para um reformador, e a pessoa que apareceria nesse caráter era o famoso São Bento.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Os Valdenses e os Albigenses

4. A origem dos assim chamados sectários ocidentais sob o nome dos valdenses é assunto de muita controvérsia. Uma classe de escritores, favoráveis ao catolicismo, visando envolvê-los na acusação comum de maniqueísmo, se esforçaram em provar que suas opiniões eram de origem oriental, ou pauliciana, enquanto que os escritores opositores ao catolicismo afirmam que eles eram livres do erro maniqueísta, e que foram os herdeiros e mantenedores, sendo algo passado de pai para filho, de um cristianismo puro e bíblico, desde os tempos de Constantino, se não desde os dias dos apóstolos.*

{* Na primeira edição deste livro, ocorre a seguinte frase: "Parece também ser muito certo que os albigenses das províncias do sul da França devem sua origem aos paulicianos." A maioria dos registros históricos gerais dão essa impressão; mas após consultar os registros históricos específicos e pesquisas trabalhosas de Peter Allix, D.D., W.S. Gilly, M.A., W. Beattie, M.D, e outros, estamos plenamente persuadidos da maior antiguidade dos albigenses, da pureza de sua fé e de sua localização alpina -- de que existiam como um povo cristão distinto muito antes dos paulicianos, ou até mesmo do papado.}

Mas, como atualmente não é tanto nosso objetivo traçar a história desse povo cristão antigo, simples e devoto, mas sim trazer à tona mais uma característica do papado sob a direção de Inocêncio em sua mais plenamente expressa blasfêmia e crueldade, satisfaremos o leitor apenas quanto a quem eram essas pessoas e quanto à cena de seu extermínio. "Os termos", diz o Dr. Gilly, "Vaudois em Francês, Vallenses em Latim, Valdisi em Italiano, e Waldenses na história eclesiástica inglesa, significava mais ou menos a ideia de 'homens dos vales'; e como os vales de Piemonte tiveram a honra de produzir um grupo de pessoas que tinham permanecido verdadeiras à fé introduzida pelos primeiros missionários que pregaram o Cristianismo naquelas regiões, esses sinônimos foram adotados como o nome distintivo de uma comunidade religiosa, fiel ao credo primitivo, e livre das corrupções da igreja de Roma."

Os albigenses, embora fossem essencialmente idênticos aos valdenses em matéria de fé, eram assim chamados porque a maior parte da Gália Narbonense, onde habitavam, era chamada de Albigésio, ou de Albi, uma vila em Languedoque. Os Alpes separavam as duas comunidades. Deus encontrou um refúgio para os valdenses nos vales do lado ocidental daquela grande cordilheira, onde foram preservados e fortificados por muitos séculos.  

domingo, 29 de julho de 2018

A Extrema Unção

Como todo falso sistema, o papado é flagrantemente inconsistente consigo mesmo. A falsidade, a mãe das mentiras, está escrita em sua testa, embora possam existir muitos corações honestos e piedosos em sua comunhão. Quão diferente da perfeita unidade da verdade divina (as Escrituras)! Embora escrita por tantas pessoas diferentes, sobre tantos assuntos diferentes, sob tantas circunstâncias diferentes, e em tantos lugares e épocas diferentes do mundo, ainda assim temos um todo perfeito. Como poderíamos deixar de ver, no decorrer das Escrituras, as glórias da cruz, as riquezas da graça divina, a condição perdida do pecador, e sua plena salvação (por exemplo: no cordeiro de Abel, na arca de Noé, e na purificação do leproso)? Mas ao passarmos de um sacramento para outro do sistema católico encontramos as mais evidentes contradições. Assim é com o purgatório e a extrema unção. Se existe alguma verdade na extrema unção, o purgatório é uma mera ilusão. Não pode haver tal lugar, nem necessidade para tal lugar. O objetivo declarado, e o efeito do óleo sagrado de acordo com o Concílio de Trento, é apagar os restos dos pecados. O herege que o despreza deve ir diretamente para as profundezas do inferno. Assim ele é administrado:

"O padre, tendo entrado na casa, deve colocar sobre sua sobrepeliz uma estola coberta de violeta, e apresentar a cruz à pessoa doente, para ser devotamente beijada. Tendo sido recitadas orações, e água benta aspergida, o padre mergulha seu dedo polegar no óleo sagrado, e unge o enfermo em forma de cruz. Começando pelo sentido da visão, ele unge cada olho, dizendo: 'O Senhor, através de Sua santa unção, e Sua mais graciosa compaixão, perdoa-te de qualquer pecado que hajas cometido pela visão'. Do mesmo modo há sete unções, uma para cada um dos cinco sentidos -- olhos, ouvidos, nariz, boca, mãos, e os outros dois são no peito e nos pés". Após muitas orações, cruzes, queima do pano que enxugou o óleo das diferentes partes do corpo ungido e do polegar do padre, o homem ou mulher moribunda é declarada como estando em um estado adequado para passar com segurança para o porto da felicidade eterna.

Esse sacramento nunca é administrado enquanto houver qualquer expectativa de recuperação da saúde. É chamada extrema porque é a última a ser administrada. Por meio desse assim chamado infalível sacramento pelo moribundo, alguém naturalmente esperaria que o purgatório receberia muito poucos fiéis da igreja de Roma, de modo que seria principalmente povoado por protestantes que desprezaram o unguento sacerdotal, ou por aqueles na comunhão católica que estavam desqualificados para receberem o sacramento. Mas há uma grande variedade de opiniões entre os romanistas sobre esse assunto. Alguns pensam que toda alma, sem exceção, desde o papa até o leigo, por mais santa que tenha sido sua vida, ou mesmo que o último sacramento tenha sido administrado, deve passar pelo purgatório -- que nenhuma alma poderia passar diretamente da terra para o céu. Eles argumentam que, como nenhum homem tem controle completo sobre seus pensamentos, pensamentos tolos e até mesmo pecaminosos podem passar por sua mente durante a administração da extrema unção, ou imediatamente após ela; portanto, a alma deveria passar pela região do purgatório em seu caminho para o céu. É claro que o pecado poderia ser tão pequeno de modo que a detenção seria muito curta. Mas até mesmo um Gregório ou um Bernardo deveria ser purificado pelo fogo do purgatório. Ai dos filhos de Roma! -- deveríamos exclamar -- todos devem ser escravos do príncipe do purgatório antes de poderem provar da liberdade e felicidade do céu. Quão terríveis, quão sombrios os pensamentos sobre a morte devem ser! Quão diferentes dos pensamentos e sentimentos do grande apóstolo, quando disse: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho". Se ele vivesse, viveria Cristo; ele desfrutava a mais plena e doce comunhão com Ele: se morresse, ele ganharia com isso... "Tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor". Além disso, a Palavra de Deus é positiva para todos os crentes em Cristo Jesus -- "Ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor" (Filipenses 1:21-23; 2 Coríntios 5:8).

A alusão no Novo Testamento à antiga prática da unção com óleo deu aos escritores católicos grande ousadia em pressionar a necessidade desse sacramento. Mas eles cuidadosamente negligenciam ou ocultam o fato de que a unção bíblica era para a cura miraculosa do corpo e para o prolongamento dos dias de vida. A unção católica é para a alma -- um sacramento permanente para a transmissão da graça, o perdão do pecado, a obtenção da salvação, na hora da morte. A unção apostólica era para a recuperação da saúde; a extrema unção é a última preparação para a morte. "E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam". "Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará." (Marcos 6:13; Tiago 5:14,15).

Não é difícil ver como a superstição usaria tais passagens para o cumprimento de seus próprios fins; mas está perfeitamente claro que a unção original era usada para a recuperação da saúde em pessoas específicas, e continuou enquanto ainda havia o dom de curas e o poder de operar milagres, o que provavelmente mal durou até o final da era apostólica. E a extrema unção, em sua presente forma, era desconhecida na igreja durante os primeiros onze séculos de sua história. Foi estabelecida durante o reinado da ignorância e da astúcia sacerdotal no século XII, e finalmente foi carimbada com o grande selo do Concílio de Trento.

domingo, 18 de junho de 2017

Extremos de Caráter

Exatamente neste ponto de nossa história encontramos, através da sutileza de Satanás, os caracteres mais extremos e opostos. O único objetivo de Hildebrando era subjugar o mundo exterior; as autoinfligidas crueldades dos outros deveriam subjugar o mundo dentro de si mesmos.

Pedro Damiano, bispo de Óstia, era severamente ascético [voltado ao monasticismo]. Ele se reclusava em roupas de saco, fazia jejuns, vigiava, orava e, tentando domar suas paixões, podia se levantar à noite, ficar por horas debaixo de uma corrente de água até que seus membros ficassem rígidos de frio, e depois passava o resto da noite visitando igrejas e recitando o Saltério*. O objetivo declarado pelo qual ele tanto trabalhava era a restauração da dignidade do sacerdócio e uma disciplina da igreja mais rigorosa. Tal é o poder delusório do inimigo dentro da igreja de Roma. 

{*Saltério: Livro dos Salmos}

Mas um monge, chamado Domínico, foi considerado o grande herói dessa guerra contra o pobre e inofensivo corpo. Satanás escondeu dessa dupla a diferença entre o corpo e as obras do corpo. Domínico usava, próximo à pele, uma apertada couraça de ferro, a qual ele nunca tirava. Seu pescoço era carregado de pesadas correntes, suas poucas roupas eram desgastadas como trapos, sua comida era das mais grosseiras, sua pele era tão escura como a de um negro pelos efeitos de sua disciplina. Seu exercício usual era recitar o Saltério duas vezes por dia, enquanto se flagelava com as duas mãos a uma frequência de mil chicotadas a cada dez salmos. Era reconhecido que 3000 chicotadas eram equivalentes a um ano de penitência; o Saltério inteiro, portanto, com esse acompanhamento, era equivalente a cinco anos. Na Quaresma, ou em ocasiões de penitência especial, a média diária subia para três saltérios; ele "facilmente" (?) passava por vinte -- equivalente a cem anos de penitência -- em seis dias. Certa vez, no início da Quaresma, ele implorou para que uma penitência de mil anos fosse-lhe imposta, e cumpriu toda ela antes da Páscoa.   

Supunha-se que essas flagelações tivessem o efeito de uma satisfação pelos pecados de outras pessoas -- obras de supererrogação*, que formavam o capital para a venda de indulgências, das quais ouviremos mais no decorrer da história. A morte misericordiosamente pôs um fim aos seus lamentáveis delírios no ano 1062.

{*Supererrogação: Demasia, excesso.}

Tomemos mais um exemplo da vida eclesiástica, uma vez que Satanás encontrou algo adequado a todos os gostos.

Os clérigos mundanos tinham o hábito de comparecer junto às tropas de soldados, com espadas e lanças. Eles se cercavam de homens armados como um general pagão. Todos os dias desfrutavam de banquetes reais e desfiles diários; a mesa cheia de iguarias; os convidados, seus voluptuosos favoritos. Crime e licenciosidade eram comuns nos palácios do clero. Tão grande era a iniquidade de Roma no século X que os historiadores, em consenso geral, colocam um véu sobre isso pelo bem de nossa humanidade comum. Será que as pessoas que corriam para Roma sabiam que, durante um período de um século e meio, por volta dessa época, eram tão terríveis as cenas do Vaticano, a ponto de "dois papas terem sido assassinados, cinco foram exilados, quatro foram depostos, e três renunciaram a sua perigosa dignidade. Alguns foram levados à cadeira pontifical pelas armas, alguns por dinheiro, e alguns receberam a tiara das mãos de cortesãs principescas... Seria herege dizer que as portas do inferno tinham prevalecido contra o trono e o centro do catolicismo; mas o próprio Barônio pode ser citado para provar que eles tinham recuado de suas articulações infernais para enviar espíritos malignos, comissionados para esvaziar sobre sua cabeça devota os frascos de amargura e ira."*

{* Sir James Stephens, Biografia Eclesiástica, vol. 1, p. 2; Milman, vol. 3, p. 103; Robertson., vol. 2, p. 515.}

Passamos agora ao objeto imediato de nossa história -- a carreira de Hildebrando como Gregório VII, de cujos lábios ouviremos um relato de papas infalíveis muito diferentes dos citados acima.

domingo, 4 de junho de 2017

Reflexões sobre o Espírito Missionário de Roma

Temos visto, ao traçar a boa obra do evangelho em diferentes países, a atividade, energia e o caráter agressivo da igreja de Roma. E embora houvesse uma terrível quantidade de tradição humana e muitas tolices absurdas misturadas ao "evangelho de Deus", ainda assim o nome de Jesus Cristo era proclamado, e a salvação por meio dEle, embora, infelizmente, não por Ele somente. No entanto, Deus em graça podia usar esse bendito nome e dar os olhos de fé para ver sua preciosidade em meio ao lixo da superstição romana. O evangelho de Cristo pleno e claro tinha se perdido completamente. Não era mais Cristo apenas, mas Cristo e mil outras coisas. Eles eram eloquentes em pregar boas obras, mas, ao mesmo tempo, obscureciam a fé da qual toda a boa obra deveria emanar. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"; "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro"; "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei"; "O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". (João 1:29, Isaías 45:22, Mateus 11:28, João 6:37). Textos como esses dão uma ideia de um evangelho que traz almas para o Próprio Cristo, pela fé somente; não a Cristo e aos ritos e cerimônias inumeráveis, antes da alma poder ser salva. Ser convertido ao Próprio Cristo é a melhor de todas as conversões. Descansar sobre a infalível eficácia do sangue de Cristo é salvação certa e segura para a alma, e perfeita paz com Deus.

Havia, sem dúvida, muitos homens bons e sinceros no campo missionário, cujo estado espiritual poderia ter sido muito melhor do que sua posição eclesiástica, e a quem Deus poderia ter usado para ganhar almas preciosas para Si. Mas não pode haver dúvida de que o espírito dos missionários de Roma eram mais de proselitismo para a igreja de Roma do que para a fé e obediência a Cristo. O batismo e a implícita e inquestionável sujeição à autoridade do papa era a exigência feita a todos os convertidos, fossem governadores ou súditos. Não buscava-se a fé em Cristo. A ambição da Sé Romana era abraçar o mundo todo e, no que diz respeito à Europa, toda confissão pública de cristianismo que professasse independência da dominação romana deveria ser imediatamente suprimida, e totalmente destruída.

Exatamente nessa época, um monge de origem humilde, mas do mais extraordinário caráter, apareceu em cena. Nele foram cumpridos todos os sonhos de domínio da mente humana. Até então a missão do papado nunca tinha sido totalmente cumprida. Mas como nunca houve um papa assim até então, e nunca mais houve um assim desde então, devemos esboçar brevemente sua incomparável carreira.

Traços da Linha Prateada da Graça de Deus (Parte 2)

Lanfranco e Anselmo são nomes famosos na história da igreja dessa época, embora não tanto para a graça quanto para a erudição e controvérsia: ambos foram arcebispos da Cantuária. Ambos tinham sido monges e celebrados mestres nessa humilde classe. Mais de quatro mil estudiosos assistiram as preleções de Lanfranco quando era monge em Caen. Anselmo era de  igual reputação na Normandia. Nanfranco, no entanto, tem a nada invejável reputação de confirmar, por sua grande influência e erudição, o dogma da transubstanciação. Nas trevas do século X essa doutrina fez sua primeira aparição autoritativa na igreja. Esse dogma foi atacado por Berengário de Tours, que usou todas as forças de sua mente e todos os recursos ao seu alcance para demonstrar a falta de credibilidade do dogma. Mas Lanfranco o defendia, e tendo a maioria do clero ao seu lado, Berengário foi rejeitado, despojado de todos os seus privilégios e condenado a uma rigorosa seclusão pelo resto de sua vida. O berengarismo tornou-se um termo de reprovação e foi considerado heresia. Assim o misterioso dogma da Presença Real [de Cristo na Eucaristia] foi estabelecido por volta da metade do século XI. Lanfranco morreu em 1089. Guilherme, o Ruivo, apontou Anselmo como seu sucessor. Ele tem a reputação de ser um cristão sincero e muito irrepreensível em sua vida. Ele morreu em 1109, no décimo sexto ano de seu arcebispado, e aos 76 anos de idade. Ambos Lanfranco e Anselmo, como mal precisamos dizer, foram zelosos apoiadores do poder de Roma.

Margaret, rainha da Escócia, foi evidentemente um canal divino da graça de Deus naqueles dias, não obstante o legalismo do papado. Ela era filha de Etelredo e irmã de Edgar, o Atelingo, o último da linhagem de príncipes saxônicos. A agressividade e a profanação dos príncipes normandos, especialmente de Guilherme, o Ruivo, levou Edgar e Margaret a buscar um retiro seguro na Escócia. O rei Malcolm Canmore se casou com a princesa inglesa. As coisas mais maravilhosas são relatadas sobre sua piedade, liberalidade e humildade. Seu caráter era perfeito para lançar um brilho sobre uma época mais pura. Ela teve com Malcolm seis filhos e duas filhas. Três de seus filhos reinaram sucessivamente, e sua filha, Matilda, foi esposa de Henrique I da Inglaterra, e era considerada uma cristã piedosa.

Como a vida e o caráter de Margaret nos darão uma visão melhor do cristianismo romano em um de seus mais brilhantes exemplos do que poderíamos descrever, citaremos algumas passagens reais de sua vida. "A senhora real, que foi honrada com a canonização, embora muito supersticiosa, e de certo modo ostentosa em seus atos de beneficência, possuía, no entanto, muitas eminentes virtudes, e deve ser classificada entre as melhores de nossas rainhas. Ela exerceu ilimitada influência sobre seu bravo, porém iletrado, marido, que, embora incapaz de ler seus livros de devoção, era fervorosamente acostumado a beijá-los. Toda manhã ela preparava comida para nove órfãos, e de joelhos dobrados os servia. Com suas próprias mãos ela servia à mesa a multidões de pessoas indigentes que se reuniam para compartilhar da doação; e à noite, antes de se retirar para a cama, ela dava ainda mais impressionante prova de sua humildade ao lavar os pés de seis deles. Ela estava frequentemente na igreja, prostrada perante o altar, e ali, com soluços e lágrimas e orações prolongadas, ela se oferecia a si mesma como sacrifício ao Senhor. Quando chegava a época da Quaresma, além de recitar ofícios particulares, lia todo o livro dos Salmos duas ou três vezes em um mesmo dia. Antes de participar da missa pública, ela se preparava para a solenidade ouvindo de cinco a seis missas privadas, e quando todo o serviço religioso acabava, ela alimentava 24 dependentes e assim demonstrava sua fé por suas obras. Enquanto esses não estivessem satisfeitos ela não se retirava para sua própria pequena refeição. Mas com todo esse desfile de humildade, havia também uma igual exibição de orgulho. Seu vestido era lindo, seu séquito enorme e sua comida devia ser servida em pratos de ouro e prata, algo inédito na Escócia até seu tempo.

"Afortunada de ter obtido uma boa educação, Santa Margaret gostava particularmente de demonstrar sua erudição e conhecimento das Escrituras. Ele frequentemente discursava com o clero da Escócia sobre questões teológicas e, através de sua influência, a Quaresma passou a ser observada de acordo com a instituição católica. Ele fez um bom serviço à religião e virtude de muitas formas; mas a vida dessa boa rainha foi encurtada pela severidade de seus jejuns, que pouco a pouco minaram sua saúde... Ela estava deitada, desgastada e moribunda, com o crucifixo diante de si, quando seu filho, Edgar, chegou da batalha de Alnwick. 'O que aconteceu com o Rei e com meu Eduardo?', disse a mãe moribunda. O jovem rapaz ficou em silêncio. 'Eu sei de tudo', gritou ela, 'Eu seu de tudo. Pela santa cruz, pela seu afeto de filho, conjuro-te, diga-me a verdade.' 'Seu marido e seu filho, ambos estão mortos', disse o rapaz. Erguendo suas mãos e seus olhos para o céu, ela devotamente disse, 'Louvor e bênção seja para Ti, Deus Todo-Poderoso, que tens prazer em me fazer suportar uma angústia tão amarga na hora de minha partida, e confio que isso seja para me purificar em alguma medida das corrupções dos meus pecados e Tu, Senhor Jesus Cristo, que, através da vontade do Pai, deu vida ao mundo por Tua morte, oh, liberta-me!' Enquanto as palavras ainda estavam em seus lábios, ela suavemente expirou."*

{* A História da Igreja da Escócia, de Cunningham, vol. 1, p. 97; Milner, vol. 2, p. 566; Robertson, vol. 2, p. 441.}

domingo, 23 de abril de 2017

A Propagação do Cristianismo (Século IX)

Capítulo 17: Europa (814 d.C. - 1000 d.C.)


É realmente um grande alívio para a mente, tanto do escritor quanto do leitor, afastar-se das regiões sombrias e poluídas de Roma, e traçar, por um momento, a linha prateada da graça salvadora de Deus na disseminação do evangelho e na devoção de muitos de Seus servos. Ao mesmo tempo, não podemos esperar muito de Cristo, ou do que é chamado de um evangelho puro, no testemunho dos missionários nesse período. O estado da Europa em geral no século IX, comparado ao século XIX {*N. do T.: e também ao século XX e XXI}, deve ser considerado se quisermos que nossos corações se elevem a Deus em gratidão pelo dia das coisas pequenas.

A preferência dada aos escritos humanos sobre as Escrituras era, então, um hábito, pelo menos onde a influência de Roma prevalecia. Os paulicianos, provavelmente, e outros que estavam separados da comunhão de Roma, mantinham a autoridade da Palavra de Deus. Mas os missionários romanos eram instruídos e obrigados a cumprir as decisões dos pais [apostólicos]. Apelava-se constantemente aos cânones dos concílios e aos escritos dos grandes doutores, de modo que o volume sagrado (as Escrituras) fosse completamente esquecido. Muito antes desse período, a Palavra de Deus já vinha sendo tratada como obscura, confusa e inadequada para a leitura geral. E assim tem sido considerada pelos católicos desde aqueles dias até hoje. Ainda assim, Deus estava, e está, acima de tudo, subjugando tudo isso para Sua própria glória, para a disseminação do cristianismo, e para a salvação dos pecadores. "Todo o que o Pai me dá", disse Jesus, "virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora", não importa o país, o período, a educação, ou a condição. (João 6:37)

domingo, 9 de abril de 2017

Os Fundamentos e o Edifício do Papado

Tais, infelizmente, foram os fundamentos do grande edifício papal. E não estamos errados em sofrer vendo eles serem estabelecidos. Se fôssemos caracterizar as pedras de fundação separadamente, poderíamos nos referir a elas como as mais extravagantes pretensões, a mais insultante arrogância, as mais descaradas falsificações, o mais abertamente confessado -- e até mesmo desafiador da morte -- amor à idolatria, a mais inescrupulosa apropriação de território roubado, o mais implacável espírito de perseguição, e, o que pode ser dito como a pedra (assim como a fundação) mais elevada: o mais desordenado amor pela soberania secular. Mas se olharmos dentro da casa, o que encontramos ali? É cheia de blasfêmias, os piores tipos de corrupções, e concentração de todas as atrações para a carne (Ap 18:12,13). As próprias essências do cristianismo -- tais como o sacrifício, o ministério e o sacerdócio -- ou foram corrompidas ou rejeitadas. A obra consumada de Cristo foi substituída pela missa; o ministério do Espírito de Deus pelo ensino dogmático da igreja; e o comum sacerdócio de todos os crentes, e sim, até mesmo o sacerdócio do Próprio Cristo, foi substituído pelo grande sistema eclesiástico do sacerdócio, ou melhor, pelo poder sacerdotal.

A Ceia do Senhor foi gradualmente modificada, da simples lembrança de Seu amor e anúncio de Sua morte para a ideia de um sacrifício. Muitas superstições foram praticadas com o pão consagrado, ou melhor, as hóstias*. Supunha-se que esse "sacrifício" servia tanto para os vivos quanto para os mortos; daí a prática de dar a hóstia aos mortos e enterrá-la com eles. A destrutiva doutrina do purgatório, que tinha sido sancionada por Gregório, o Grande, então se espalhou por toda a parte. Parece ter criado raízes especialmente na igreja inglesa antes do século IX. Mas o engano é manifesto, pois não há purgatório senão o sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus; como disse o apóstolo João: "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 João 1:7). Graças a Deus, não há limite para o poder purificador {N. do T.: "purgatório" significa "purificador") do sangue de Jesus, Seu Filho. Todos os que têm fé nesse sangue são mais alvos que a neve -- perfeitamente preparados para a presença de Deus. Mas a doutrina do purgatório atinge a própria raiz dessa verdade fundamental, e tornou-se um poderoso instrumento nas mãos dos padres para extorquir dinheiro dos moribundos, e para assegurar grandes legados à igreja; mas quase tudo era, então, feito em subordinação a esses objetivos básicos. A verdade de Deus, a obra de Cristo, o caráter da igreja, as almas e corpos dos homens, foi tudo prontamente sacrificado para o engrandecimento da Sé de Roma, e para o engrandecimento do clero em subordinação ao sistema papal.

{*N. do T.: hóstia significa "vítima expiatória", e traz a ideia de que Cristo é sacrificado novamente em cada missa, anulando a consumada obra expiatória de Cristo, "feita uma vez" (Hebreus 10:10). }

As vidas ímpias daqueles a quem foi confiado o governo da igreja e o cuidado pelas almas são também questões de amarga queixa de todos os historiadores honestos, tanto daqueles tempos como dos atuais. Mas aqui pode ser interessante introduzir um historiador que é bom em relatos -- Mosheim -- como uma testemunha e confirmação do que temos dito sobre esse período.

A Falsificação Papal

Mas a bondade de Carlos Magno apenas excitou a avareza e inveja dos gananciosos padres. Não contentes com suas propriedades e dízimos, eles aspiravam por uma posição muito superior à dos senhores leigos, e até mesmo superior à do próprio monarca. Estimulados por sucessos passados, eles então tentaram, por uma ousada falsificação, alcançar o objetivo de sua ambição secular. Um título de propriedade de poder quase imperial é então, pela primeira vez, após um período de 450 anos, trazido à luz. Por esse ato original de doação foi descoberto que tudo o que Pepino ou Carlos Magno tinham conferido à igreja de Roma não passava de uma parte da doação real para a cadeira de São Pedro feita pelo "piedoso imperador Constantino".

Como nosso principal objetivo através desse período da história da igreja é apresentar o verdadeiro caráter do sistema papal, os meios pelos quais ele alcançou sua incrível influência e poder, e os efeitos secularizantes da aliança da igreja com o Estado, copiamos, de Greenwood, a própria carta do papa. O leitor, sem dúvida, ficará surpreso em ver que qualquer homem com a menor pretensão possível de respeitabilidade -- ainda mais o "chefe da igreja" -- pudesse jamais ter fabricado tal documento, e isso somente para ganhar mais território e poder. Mas devemos nos lembrar que Tiatira era caracterizada pelas "profundezas de Satanás" (Ap 2:24), e assim tem sido o papado desde seu primeiro fôlego, e assim deve ser até que dê o seu último suspiro. Apocalipse 17 e 18 descrevem seu caráter e seu fim.

"Considerando", diz o papa Adriano, "que nos dias do bendito pontífice Silvestre, aquele tão piedoso imperador [Constantino], por sua doação, exaltou e ampliou a santa igreja católica e apostólica de Roma, dando a ela seu supremo poder sobre toda a região do Ocidente, assim agora vos suplicamos que, neste nosso mesmo feliz dia, a mesma santa igreja possa brotar e exultar, e ser cada vez mais e mais exaltada, de modo que todos os povos que dela ouvirem exclamem: 'Deus salve o rei, e nos ouça no dia em que te invocarmos!'. Pois eis que naqueles dias ergueu-se Constantino, o imperador cristão, por quem Deus concedeu todas as coisas a Sua santíssima igreja, a igreja do bendito Pedro, príncipe dos apóstolos. Tudo isso, e muitos outros territórios que imperadores, patrícios e outras pessoas tementes a Deus deram ao bendito Pedro e à santa igreja de Deus apostólica de Roma, para o benefício de suas almas e para o perdão de seus pecados, nas regiões da Toscana, Espoleto, Benevento, Córsega e Savona -- territórios que foram tomados e mantidos pelas ímpias nações dos lombardos -- que tudo isso nos seja restaurado nestes nossos dias, de acordo com o teor de tuas várias escrituras de doação depositadas em nossos arquivos, em Latrão. Com este fim, ordenamos a nossos enviados para que te mostrem tais escrituras, para tua satisfação, e em virtude delas, agora te rogamos que ordenes a restituição ininterrupta desse patrimônio de São Pedro que está em tuas mãos; que para tua conformidade nisto com a santa igreja de Deus, possa ser colocada em plena posse e gozo de seu inteiro direito; de modo que o próprio príncipe dos apóstolos possa interceder perante o trono do Todo-Poderoso por uma longa vida para ti, e prosperidade em todas as tuas obras."

O Sistema Hierárquico Feudal

Por séculos, o clamor papal para cada monarca sucessor foi: "Dê, dê; doe, doe; e o bendito Pedro certamente te enviará vitória sobre teus inimigos, prosperidade neste mundo, e um lugar perto dele mesmo no céu". Esse clamor foi, em grande medida, respondido no início do século IX. Os extratos acima dão ao leitor alguma ideia dos espólios que o clero recebia das vitórias de Carlos na Alemanha. Foi principalmente a partir desses 33 anos de guerra sanguinolenta que o grande sistema hierárquico feudal surgiu. Inúmeros milhares foram mortos para dar espaço aos bispos e abades -- uma aristocracia eclesiástica. Ergueram-se palácios principescos para esses grandes eclesiásticos sobre toda a terra conquistada: mas seus fundamentos foram colocados sobre a crueldade, a injustiça e o sangue.

Embora mais de mil anos terem passado desde que o grande patrono da igreja morreu, os palácios ainda existem e são abundantes por toda a Europa. Mas o coração adoece ao pensar sobre a origem desses assim declarados "palácios da paz", especialmente se tivermos em mente o verdadeiro caráter do evangelho, e que os ministros de Cristo devem sempre buscar manifestar o espírito do manso e humilde Jesus. As almas dos homens, e não as propriedades, deveriam ser o objetivo. "Não busco o que é vosso, mas sim a vós" (2 Coríntios 12:14), este deveria ser o lema deles; indo adiante, "nada tomando dos gentios" (3 João 1:7). Mas o exemplo de Cristo já tinha sido, há muito tempo, esquecido. A igreja afundou a um nível e um espírito do mundo quando foi unida por Constantino ao Estado. Essa foi sua grande queda, da qual flui sua dolorosa inconsistência. O amor ao mundo, ao poder absoluto, ao domínio universal, tomou, então, posse de todo o seu ser. Enganada por Satanás, em cujo trono (Ap. 2) ela se assenta, a iniquidade desavergonhada de seu curso só pode ser explicada por causa de seu poder cegante. Todos os meios, à sua vista, tinham como justificativa seu objetivo de avanço da Sé Romana.

domingo, 2 de abril de 2017

A Influência Maligna dos Missionários do Papa

É triste refletir sobre a terrível matança dos saxões, e o batismo forçado do indefeso remanescente; mas nossa tristeza é infinitamente aumentada quando descobrimos que os professos mensageiros da misericórdia foram os grandes impulsionadores dessas longas e exterminadoras guerras. No lugar de serem missionários do evangelho da paz, eles eram, na realidade, os cruéis emissários do papado -- do poder das trevas: Carlos Magno era, sem dúvida, em grande parte enganado e instigado pelos padres.

Sob o objetivo declarado de cimentar a união entre a igreja e o Estado, para o benefício secular e espiritual da humanidade, e para a força duradoura do governo imperial, os astutos sacerdotes viram o caminho se abrindo para sua própria grandeza secular e para a mais absoluta soberania de Roma. E assim aconteceu, como toda a história afirma. Eles logo ganharam uma posição de grandeza mundana sobre o povo conquistado e suas terras. Uma mudança completa acontece, precisamente nesse momento, na condição externa do clero, e, de fato, na sociedade em geral. A história antiga desaparece, como nos é contado, na morte de Pepino, e tem início a vida medieval. Uma nova condição de sociedade é inaugurada por seu filho -- o último dos reis bárbaros e o primeiro dos monarcas feudais. Mas é na história eclesiástica que estamos interessados, e aqui, novamente, preferimos fornecer alguns extratos do decano Milman -- a quem tantas vezes nos referimos -- que não pode ser acusado de severidade desnecessária, mas cujo testemunho é da mais alta integridade.

"A subjugação da terra pareceu estar completa antes que Carlos Magno fundasse, sucessivamente, suas grandes colônias religiosas, os oito bispados de Minden, Seligenstadt, Verden, Bremen, Munster, Hildesheim, Osnaburg e Paderborn. Estes, como muitos monastérios ricamente dotados como Hersfuld, tornaram-se os centros separados dos quais o cristianismo e a civilização se espalhou em círculos cada vez maiores. Mas, embora fossem assentamentos militares assim como religiosos, os eclesiásticos eram os únicos estrangeiros. Os mais fiéis e confiáveis chefes saxões, que deram a segurança de aparente sincera conversão ao cristianismo, foram promovidos a condes: assim, a profissão do cristianismo era o único teste de fidelidade...

"Carlos Magno, na história cristã, tem um papel ainda mais importante do que apenas na subjugação da Germânia ao evangelho, por causa de sua completa organização, se não fundação, da alta hierarquia feudal em grande parte da Europa. Por todo o império ocidental, pode-se dizer, foi constitucionalmente estabelecida essa dupla aristocracia, eclesiástica e civil. Em todos os lugares, o alto clero e os nobres, e através das diferentes gradações da sociedade, mesmo os da mesma classe, estavam sujeitos aos mesmos deveres, e eram iguais, em alguns casos de coordenação, em autoridade. Cada distrito tinha seu bispo e seu conde; as dioceses e os condados possuíam, na maioria das vezes, a mesma extensão...

"O próprio Carlos Magno era não menos pródigo (liberal) do que os reis mais fracos no que diz respeito a imunidades e concessões dadas às igrejas e monastérios. Com sua rainha Hildegard, ele doou, à igreja de São Martinho, em Tours, terras na Itália. Suas concessões a São Denis, a Lorch, a Fulda, a Prum, mais particularmente a Hersfuld, e a muitas abadias italianas, aparecem entre os atos de seu reinado.

"Essas propriedades nem sempre eram obtidas do rei ou dos nobres. Os servos dos pobres eram, muitas vezes, os saqueadores dos pobres. Mesmo sob Carlos Magno há reclamações contra a usurpação de propriedades pelos bispos e abades, assim como contra condes e leigos. Eles obrigavam o homem livre pobre a vender sua propriedade, ou o forçava a servir no exército em permanente dever, para, assim, deixar suas terras sem dono, com todas as chances de que não pudesse retornar, ou entregues à custódia daqueles que permaneceram em casa em silêncio; dessa forma, os sacerdotes aproveitavam cada oportunidade para tomar posse delas. Nenhuma vinha de Nabote escapava da vigilante avareza deles.

"Em seus feudos, o bispo ou abade exercia todos os direitos de um chefe feudal... Assim, a hierarquia, então uma instituição feudal, paralela e coordenada com a aristocracia secular feudal, aspirava desfrutar, e já a algum tempo desfrutava, da dignidade, riqueza e poder dos senhores suseranos. Bispos e abades tinham a independência e os privilégios sobre os feudos inalienáveis; e, ao mesmo tempo, começaram, quer hostilmente contestar, quer arrogantemente recusar, os pagamentos ou reconhecimentos da vassalagem, que muitas vezes pesavam sobre outras terras. Durante o reinado de Carlos Magno essa teoria da imunidade espiritual adormeceu, ou melhor, não tinha ainda tomado vida. No entanto, no conflito com seu filho, Luís, o Piedoso, ela foi corajosamente anunciada e seu crescimento foi rápido. Foi, então, afirmado pela hierarquia, que toda propriedade dada à igreja, aos pobres, aos santos, e ao Próprio Deus -- tais eram as frases especiosas -- era dada absoluta e irrevogavelmente, sem reservas. O rei podia ter poder sobre os honorários dos cavaleiros; mas sobre a igreja, ele não tinha poder nenhum. Tais reivindicações seriam consideradas ímpias, sacrílegas, e implicavam na perda da vida eterna. O clero e suas propriedades pertenciam a outro reino, a outra comunidade. Eles eram inteira e absolutamente independentes do poder civil."*

{* Cristianismo Latino, vol. 2, p. 286}

A Espada de Carlos Magno ou o Batismo

O objetivo professo de Carlos Magno era estabelecer o cristianismo nas partes remotas da Germânia, mas deve-se sempre lembrar que ele usou de meios muito violentos para cumprir seu fim. Milhares foram forçados às águas do batismo para escapar de uma morte cruel. "A espada ou o batismo" eram os termos usados pelo conquistador. Foi promulgada uma lei que estabelecia a pena de morte contra a recusa do batismo. Ele não podia oferecer condições de paz, nem entrar em qualquer tratado, no qual o batismo não fosse a principal condição. A conversão ou o extermínio foi a palavra de ordem dos francos. E, embora a antiga religião pudesse não estar tão arraigada na consciência do saxão, ele não podia ver nada melhor na nova; pois, para sua mente, o batismo estava identificado à escravidão e o cristianismo à submissão a um jugo estrangeiro. Submeter-se ao batismo era renunciar, não apenas à sua antiga religião, mas à sua liberdade pessoal.

Com tais sentimentos anticristãos e desumanos, a guerra seguiu em frente, como já mencionamos, por 33 anos. À frente de seus exércitos superiores, Carlos Magno oprimiu as tribos selvagens, que eram incapazes de confederar-se para sua segurança comum; conta-se que ele nem mesmo encontrou um adversário igual em números, em disciplina ou em armas. Mas, após uma luta de derramamento de sangue incalculável, e de quase sem igual obstinação e duração, os números, a disciplina e o valor dos francos prevaleceu com o tempo sobre os indisciplinados e desconsiderados esforços dos saxões. "O remanescente de trinta campanhas de indistinta matança", diz Greenwood, "e generalizada expatriação aceitou o batismo e tornou-se permanentemente incorporado ao império dos francos e ao cristianismo. Abadias, monastérios e casas religiosas de todos os tipos se espalharam por toda as partes do território conquistado, e as novas igrejas* eram supridas por ministros da escola de Bonifácio -- uma escola que não admitia qualquer distinção entre a lei de Cristo e a lei de Roma."

{* N. do T.: Aqui no sentido de edifícios religiosos, e não no sentido bíblico do corpo de Cristo ou de uma assembleia reunida somente ao nome de Cristo.}

O batismo era a única segurança e garantia de paz que os francos aceitariam pela submissão dos saxões. E assim foi -- e quão triste e humilhante é essa relação! -- quando a conquista foi concluída, e finda a carnificina, que os padres entraram em campo. O ofício deles era batizar os vencidos. Milhares dos bárbaros foram, assim, forçados, na ponta da espada, ao que os padres chamavam de águas regeneradoras do batismo. Mas, para os saxões, o batismo significava nem mais nem menos do que a renúncia à sua religião e sua liberdade. A consequência foi que, assim que os exércitos de Carlos se retiraram, os infatigáveis saxões voltaram a se erguer, atravessando os imponentes limites do império e devastando tudo por onde passavam. Em sua fúria ardente e amarga vingança eles cortaram cruzes, queimaram "igrejas", destruíram monastérios, mataram seus prisioneiros, sem respeitar idade nem sexo, até que todo o país pareceu estar envolvido em chamas e inundado de sangue. Dizem que tais revoltas eram muitas vezes provocadas pela linguagem insolente, e ainda mais pelo comportamento ofensivo dos monges missionários, e pela severa avareza com a qual exigiam seus dízimos. Mas tais explosões da parte dos saxões eram seguidas por uma nova invasão e matança implacável pelos francos, até que tribo após tribo cedeu aos braços conquistadores de Carlos Magno. Em uma ocasião, após uma severa revolta, Carlos massacrou,  a sangue frio, 4500 guerreiros valentes que tinham se rendido. Esse cruel e covarde abuso de poder deixou uma mancha escura e indelével em sua história, que nenhuma desculpa pode jamais remover. Mesmo o historiador cético alude a ela de forma muito verdadeira e tocante. "Em um dia de igual retribuição", diz ele, "os filhos de seu irmão Carlomano, o príncipe merovíngio de Aquitânia, e os 4500 saxões que foram decapitados no mesmo local, terão algo a alegar contra a justiça e humanidade de Carlos Magno. Seu tratamento para com os vencidos saxões foi um abuso do direito de conquista".

A Grande Época nos Anais do Papado

Como o império de Carlos Magno possui, de um modo peculiar, conexão com a história da igreja, e forma uma grande época nos anais da Sé Romana, ele exige uma consideração mais completa. O catolicismo romano quase devia tanto ao grande príncipe quanto o islamismo devia ao grande profeta árabe (Maomé) e seus sucessores. "As guerras saxônicas de Carlos Magno", diz Milman, "que acrescentou quase toda a Germânia (atual Alemanha) aos seus domínios, eram declaradamente guerras religiosas. Se Bonifácio era o "apóstolo" cristão, Carlos Magno era o "apóstolo" maometano [N. do T.: no sentido de que agia como Maomé na conquista dos povos pela violência] do evangelho. O objetivo declarado de suas invasões era a extinção do paganismo, a sujeição à fé cristã, ou o extermínio. O batismo era o sinal de subjugação e fidelidade, e os saxões o aceitavam ou rejeitavam, de acordo com o estado de submissão ou revolta em que se encontravam. Essas guerras eram inevitáveis; eram nada mais que a continuação da grande luta travada, por séculos, entre os bárbaros do Norte e do Oriente contra os civilizados do Sul e do Ocidente. A diferença é que, agora, a população romana e cristã, revigorada pela grande infusão de sangue teutônico, em vez de esperar pela agressão, tinha se tornado a agressora. A maré de conquista se invertia; os súditos dos reinos ocidentais, do império ocidental, em vez de esperarem para ver suas casas invadidas por hordas de invasores ferozes, agora ousadamente marchavam ao coração do país de seus inimigos, penetravam em suas florestas, cruzavam seus pântanos, e plantavam suas cortes feudais de justiça, suas igrejas e seus monastérios nas regiões mais remotas e selvagens, desde o Elba até as margens do Báltico."

Os saxões estavam divididos em três tribos principais: os ostefalianos, os vestefalianos e os angarianos. Cada clã, de acordo com o antigo uso teutônico, consistia em nobres, homens livres e escravos; mas, às vezes, a nação inteira se encontrava em uma grande convenção armada. Os saxões desprezavam e detestavam os francos romanizados, e os francos consideravam os saxões bárbaros e pagãos. Durante 33 anos, o poderoso Carlos empenhou-se em subjugar essas hordas selvagens de saxões. "A área do país habitada por essas tribos", diz Greenwood, "compreendia a totalidade do que é conhecido como o círculo moderno da Vestfália, e a maior porção da Baixa Saxônia, estendida do rio Lippe até o Weser e o Elba; limitada ao norte pelas tribos aparentadas, os jutos, os anglos e os danos; e ao leste de origem eslava, que tinha gradualmente avançado sobre as mais antigas raças teutônicas da Germânia Oriental". Mas devemos nos limitar principalmente ao aspecto religioso dessas guerras; ainda assim, é interessante, neste momento, estudar esses registros antigos, uma vez que acabamos de testemunhar a conclusão da grande guerra franco prussiana de 1870-71 {* N. do T., este livro foi escrito no século XIX} entre os descendentes dos francos e dos germanos da antiguidade.

domingo, 2 de outubro de 2016

A Conversão de Clóvis

Como a conversão de Clóvis é conhecida como sendo a mais importante do século V, devemos fornecer alguns detalhes em particular sobre o evento -- importante, em relação às suas consequências, tanto imediatas quanto remotas, na história da Europa, e também da igreja.

Os francos, um povo da Germânia, tinham se estabelecido no norte da França, perto da aldeia Cambrai, uma parte mais religiosa do país, que ficou famosa pelo santuário de São Martinho de Tours e pelas lendárias virtudes de outros santos. Clóvis era um pagão, mas Clotilda, sua esposa, tinha abraçado a fé católica. Ela vinha a muito tempo incitando-o a tornar-se cristão, mas ele se demorava a crer. Por fim, no entanto, quando em uma batalha contra os alamanos, e se encontrando em perigo, ele pensou no Deus de Clotilda, e orou a Ele, declarando que seus antigos deuses tinham falhado para com ele, e prometendo se tornar um cristão se ele ganhasse a vitória. A maré da batalha virou; seus inimigos foram derrotados, e, fiel ao seu voto, no Natal de 496, Clóvis foi batizado em Reims pelo bispo Remígio. Três mil guerreiros seguiram seu exemplo, declarando estarem dispostos a adotarem a mesma religião de seu rei.

Aqui temos outro Constantino. Clóvis encontrou na profissão do cristianismo algo mais favorável aos seus interesses políticos, mas isto não produziu mudança para melhor em sua vida. Seu objetivo era conquistar, sua ambição não tinha limite, suas obras eram ousadas e cruéis. De um mero líder franco com um território pequeno ele se tornou o fundador da grande monarquia francesa. E de sua confissão da fé católica, e de sua aliança com o Pontífice Romano, ele foi reconhecido como o campeão do catolicismo, e declarou-se o único soberano ortodoxo do Ocidente: todos os outros eram arianos. Alarico, que conquistou Roma; Genserico, que conquistou a África; Teodorico, o Grande, que se tornou o rei da Itália; e muitos dos reis lombardos, eram todos arianos. Por esse motivo os reis da França derivam de Clóvis o título de "Filho mais velho da Igreja". 

Ao estudante da profecia é interessante observar que, por essa época, pelo menos cinco ou seis reis bárbaros estavam em posse das províncias romanas, e governavam o que havia sido o império latino. Mas isto havia morrido. Morreu como um império, e deve permanecer no lugar de morte até ser ressuscitado, de acordo com a Palavra do Senhor, nos últimos dias (Apocalipse 13, 17).

Antes de concluirmos o período de Pérgamo, achamos que será necessário observar, mesmo que brevemente, três coisas: o estado interno da igreja, a controvérsia pelagiana e a controvérsia nestoriana.

domingo, 26 de junho de 2016

A União da Igreja com o Estado

No mês de março de 313, os proclamas da aliança profana entre a igreja e o Estado foram publicados em Milão. O celebrado decreto daquela data conferiu aos cristãos completa tolerância, e abriu o caminho para o estabelecimento legal do cristianismo e para sua ascensão sobre todas as outras religiões. Isto foi publicamente demonstrado no novo estandarte imperial - o Lábaro. Além das iniciais de Cristo* e do símbolo de Sua cruz, havia também uma imagem do imperador em ouro. Estes signos, ou motes, foram concebidos como objetos de adoração, tanto para os soldados pagãos quanto cristãos, e para animar-lhes o entusiasmo no dia da batalha. Assim, aquele que é chamado de grande imperador cristão uniu publicamente o cristianismo e a idolatria.

{* As letras normalmente empregadas para representar o nome do Salvador eram LH.S, que significa Jesu Hominum Salvator - Jesus, o Salvador dos homens.}

Mas se temos entendido a mente de Constantino corretamente, não podemos hesitar em dizer que, naquele tempo, ele era um pagão de coração, e um cristão apenas por motivos militares. Foi apenas como um soldado supersticioso que ele tinha abraçado o cristianismo. Naquele momento ele estava pronto para receber a assistência de qualquer divindade tutelar em suas lutas pelo império universal. Não podemos ver qualquer traço de cristianismo, muito menos qualquer traço de zelo de um novo convertido: mas podemos facilmente identificar os traços da velha superstição do paganismo na roupagem nova de cristianismo. Se não fosse por tais considerações, o Lábaro teria sido a exibição da mais ousada desonra ao bendito Senhor. Mas foi tudo feito em ignorância. Ele estava também ansioso em atender às mentes de seus soldados e súditos pagãos, e dissipar-lhes os medos quanto à segurança de sua velha religião.

Os primeiros decretos de Constantino, embora favoráveis ao cristianismo em seus efeitos, foram dados em termos cautelosos de modo a não interferir nos direitos e liberdades do paganismo. Mas os cristãos gradualmente foram crescendo em seu favor, e seus atos de bondade e liberalidade falaram mais alto que os decretos. Ele não somente os restaurou quanto aos seus direitos civis e religiosos dos quais tinham sido privados, e as "igrejas" e propriedades que lhes tinham sido publicamente confiscadas na perseguição diocleciana; como também permitiu-lhes, por seus próprios presentes generosos, construir muitos novos lugares para suas assembleias. Ele demonstrou grande favor aos bispos e os tinha constantemente com ele no palácio, em suas viagens e em suas guerras. Ele também demonstrou seu grande respeito pelos cristãos ao entregar a educação de seu filho Crispo nas mãos do celebrado cristão Lactâncio. Mas com todo esse patrocínio real, ele assumiu a supremacia sobre os assuntos da igreja. Ele aparecia nos sínodos dos bispos sem seus guardas, se misturava em seus debates, e controlava a resolução das questões religiosas. A partir desse tempo o termo "Católica" era aplicado invariavelmente, em todos os documentos oficiais, à igreja.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Parábola do Joio

"Mateus 13:24,25. 'Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se' - isso é exatamente no que se tornou a profissão cristã. Há duas coisas necessárias para a invasão do mal entre os cristãos. A primeira é falta de vigilância dos próprios cristãos. Eles se tornam descuidados, dormem, e o inimigo vem e semeia joio. Isto começou a acontecer logo no início da história da Cristandade. Encontramos essas sementes mencionadas até no livro de Atos dos Apóstolos, e cada vez mais nas Epístolas. A Primeira Epístola aos Tessalonicenses é a primeira que o apóstolo Paulo escreveu, e a segunda foi escrita pouco tempo depois. E nesta ele já fala que o mistério da iniquidade ja operava, e que se seguiriam outras coisas, como a apostasia e o homem do pecado, e que, quando a impiedade fosse plenamente manifesta (e não como opera agora, em segredo), então o Senhor colocaria um fim no iníquo e em todos os envolvidos com ele. O mistério da iniquidade parece ser semelhante ao joio mencionado aqui. Algum tempo depois, 'quando a erva cresceu e frutificou', quando o cristianismo começou a avançar rapidamente sobre a Terra, 'então apareceu também o joio'. Mas é evidente que o joio foi semeado quase imediatamente depois da boa semente. Sempre que Deus realiza uma obra, Satanás fica no pé. Quando o homem foi feito, ele deu ouvidos à serpente e caiu. Quando Deus deu a lei, ela foi quebrada antes mesmo de ser entregue nas mãos de Israel. Assim é sempre a história da natureza humana. "

"Assim o mal está feito no campo, e nunca reparado. O joio não deve ser retirado do campo no tempo presente: não há juízo para ele por enquanto. Isso significa que deve haver joio na igreja? Se o reino dos céus fosse a mesma coisa que a igreja não deveria haver nenhum tipo de disciplina: deveríamos permitir a imundície da carne ou do espírito ali. Eis a importância de saber distinguir a igreja do reino. O Senhor proíbe que o joio seja tirado do reino dos céus: 'Deixai crescer ambos juntos até à ceifa' (Mateus 13:30), isto é, até que o Senhor venha em juízo. Se o reino dos céus fosse a mesma coisa que a igreja, repito, então implicaria em nada menos que isso: que nenhum mal, seja ele flagrante ou simples, deveria ser colocado para fora da igreja {*no sentido de assembleia local em seu caráter terreno, uma vez que não é possível perder a salvação e ser tirado do corpo de Cristo. Ver http://aguapelapalavra.blogspot.com/2013/01/a-posicao-e-o-estado-do-crente.html} até o dia do juízo. Vemos, então, a importância da fazer essas distinções que tantos desprezam. Elas são totalmente importantes para a verdade e santidade. Não  existe nem mesmo uma única expressão  na Palavra de Deus que possamos ignorar.

"Qual é, então, o significado dessa parábola? Não tem nada a ver com a questão da comunhão da igreja. É do 'reino dos céus' que é falado aqui - o cenário da confissão cristã, seja verdadeira ou falsa. Assim gregos, coptas, nestorianos, católicos romanos, assim como evangélicos protestantes fazem parte do reino dos céus; não apenas os crentes, mas também as más pessoas que professam o nome de Cristo. Um homem que não é judeu nem pagão, e que professa exteriormente o nome de Cristo, está no reino dos céus. Ele pode até ser muito imoral e herege, mas não deve ser tirado do reino dos céus. Mas, seria correto recebê-lo à mesa do Senhor? Deus o proíbe! Se uma pessoa caída em pecado aberto estiver na assembleia, deve ser colocado para fora dela, mas não será colocada para fora do reino dos céus. De fato, isto só poderia ser feito tirando sua vida, arrancando o joio pela raiz. E é nisto que o cristianismo mundano caiu, em um espaço de tempo não muito longo após os apóstolos partirem da Terra. Punições temporais foram introduzidas para disciplina: leis foram criadas com o propósito de entregar o refratário para o poder civil. Se não honrassem a assim chamada igreja, aos desobedientes não seria permitido viver. Deste modo, o mesmo mal contra o qual o Senhor estivera protegendo seus discípulos continuou; o Imperador Constantino usou a espada para reprimir os ofensores da "igreja". Ele e seus sucessores introduziram penas temporais para lidar com o joio, tentando arrancá-los. Tome a "igreja" de Roma, onde vemos tamanha confusão entre a igreja e o reino dos céus: eles clamavam que, se um homem for herege, deveria ser entregue às cortes do mundo para ser queimado. Eles também nunca confessam ou corrigem o erro, pois fingem ser infalíveis. Supondo que as vítimas fossem realmente joio, isto seria tirá-los do reino. Se você arranca o joio do campo, você o mata. Podem haver homens lá fora profanando o nome de Deus, mas devemos deixar que Deus lide com eles."

"Isso não anula a responsabilidade cristã referente àqueles que estão à mesa do Senhor. Você encontrará instruções sobre tudo isso no que foi escrito sobre a igreja. 'O campo é o mundo', a igreja engloba apenas aqueles que acredita-se serem membros do corpo de Cristo. Tomemos 1 Coríntios, onde temos o Espírito Santo mostrando a verdadeira natureza da disciplina eclesiástica. Suponhamos que haja cristão professos vivendo na prática do pecado; tais pessoas não devem ser consideradas, enquanto continuarem no pecado, como membros do corpo de Cristo. Um verdadeiro santo pode cair em pecado aberto, mas a igreja, sabendo disto, é responsável por intervir com o propósito de expressar o juízo de Deus sobre o pecado. Se deliberadamente permitissem tais pessoas a estar à mesa do Senhor, estariam efetivamente fazendo do Senhor cúmplice do pecado. A questão não é se a pessoa é convertida ou não. Se não convertidos, os homens não têm nada a ver com a igreja, e se convertidos, o pecado não deve ser ignorado. O culpado não deve ser tirado do reino dos céus, mas deve ser colocados para fora da assembleia (igreja local). Assim, o ensinamento da palavra de Deus é muito clara sobre essas duas verdades. É errado usar de punições do mundo para lidar com um hipócrita, mesmo que ele seja detectado. Devemos procurar o bem de sua alma, mas isso não é motivo para puni-lo. No entanto, se um cristão está em pecado, a igreja não deve suportá-lo, apesar de ser exortada a ser paciente no juízo. Mas devemos deixar os não convertidos para serem julgados pelo Senhor em sua vinda. "

"Este é o ensinamento da parábola do joio, que fornece uma visão muito solene da Cristandade. Assim como o Filho do homem semeou a boa semente, Seu inimigo semeou a má, que cresceu junto com o resto, e este mal não pode ser arrancado no momento presente. Existe uma solução para o mal que entra na igreja, mas não ainda para o mal no mundo."

(Trecho retirado dos Estudos sobre o  Evangelho de Mateus,  de William Kelly)

É perfeitamente claro, tanto das Escrituras quando da história, que o grande erro no qual caiu o corpo professante é a confusão quanto a essas duas coisas - o joio e o trigo; ou, de maneira prática, aqueles que foram admitidos, pela administração do batismo, a possuir todos os privilégios oficiais e temporais da igreja professa com aqueles que realmente se converteram e foram ensinados por Deus. Mas a vasta diferença entre o que podemos chamar de sistema sacramental e sistema vital deve ser claramente entendida e cuidadosamente distinguida, se quisermos estudar a história da igreja corretamente.

Outro erro, igualmente sério, segue como consequência. O grande e professo corpo se tornou, aos olhos e na linguagem dos homens, a "igreja". Homens piedosos foram atraídos por essa armadilha, de modo que a distinção entre a igreja e o reino foi, muito cedo, perdida de vista. Todos os lugares e privilégios mais sagrados da igreja professa foram, então, compartilhados tanto por pessoas piedosas quanto por ímpios. A Reforma falhou completamente em limpar a igreja dessa triste mistura, que tem sido transmitida a nós por sistemas como os Anglicanos, Luteranos e Presbiterianos, como fica claro pela forma do batismo. Em nossos dias, o sistema sacramental prevalece em um nível alarmante, e cresce rapidamente. O real e o formal, o vivo e o morto, são indistinguíveis nas várias formas do protestantismo. Infelizmente, e como isso é sério, há muitos na igreja professa - no reino dos céus - que nunca entrarão no Céu propriamente dito. Aqui encontramos tanto joio como trigo, servos maus e fiéis, virgens néscias e sábias. Embora todos os que foram batizados são contados no reino dos céus, apenas aqueles que forem vivificados e selados com o Espírito Santo pertencem à igreja de Deus.

Mas há ainda outra coisa ligada à igreja professa que exige um breve estudo aqui. É o princípio divino do governo na igreja, sobre o qual falaremos no próximo capítulo.

domingo, 4 de maio de 2014

Capítulo 1: A Pedra do Fundamento

Ao iniciar o estudo de qualquer assunto, é bom que se conheça seus princípios - a intenção ou plano original, e o primeiro passo em sua história. Temos tais princípios da maneira mais clara e completa, em relação à igreja, nas Sagradas Escrituras. Lá temos, não somente a intenção original, mas os planos e especificações do grande Construtor, e o início da história do trabalho de Suas próprias mãos. O fundamento foi colocado, e o trabalho estava em andamento, mas o próprio Senhor era ainda o único Construtor: portanto, a este tempo, tudo era real e perfeito.

No final da dispensação dos judeus, o Senhor acrescentou o remanescente salvo de Israel à recém-formada igreja. No entanto, no final da presente dispensação - a dispensação da graça, ou dos cristãos - Ele levará todos os que creem em Seu nome para o Céu em corpos glorificados. Nenhum dos que pertencem à igreja serão agregados à congregação dos santos do milênio. "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1 Tessalonicenses 4:16-17). Este será o feliz fechamento da história da igreja na Terra - a verdadeira esposa de Cristo: os mortos ressuscitarão, os vivos serão transformados, e todos, em corpos glorificados, arrebatados juntamente nas nuvens para se encontrarem com o Senhor nos ares. Assim temos todo o limite da igreja definido, e todo o período de sua história diante de nós. Retornemos, porém, ao alvorecer de seu dia na Terra.

Sob a figura de um edifício, o Senhor introduz, pela primeira vez, o assunto acerca da igreja. E tão infinitamente precisas são Suas palavras, que podemos adotá-las como o texto, ou lema, de toda sua história. Elas têm sustentado os corações e esperanças de Seu povo em todas as eras, e em todas as circunstâncias, e serão sempre o baluarte da fé. O que pode ser mais bendito, mais tranquilizador, mais apascentador, que estas palavras? "SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA, E AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA."

Em Mateus 16, o Senhor questiona Seus discípulos acerca do que andavam dizendo os homens sobre Ele. Isto leva à confissão de Pedro, e também à graciosa revelação do Senhor referente à Sua igreja. Pode ser interessante transcrever toda a conversa para nossas páginas, pois nos leva diretamente ao nosso assunto.

"E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mateus 16:13-18)

Aqui temos as duas principais coisas que estão conectadas ao edifício proposto - a Pedra do Fundamento* e o divino Construtor. "Sobre esta pedra edificarei a Minha igreja". "Mas, quem é, ou o que é, 'a pedra'?", alguns poderiam questionar. Claramente, a resposta é: a confissão de Pedro; não o próprio Pedro, como ensina a apostasia. Verdadeiramente, ele era uma pedra - uma pedra viva no novo templo; "Tu és Pedro" - tu és uma pedra. Mas a revelação do Pai, por Pedro, da glória da Pessoa de Seu Filho, é o fundamento sobre a qual a igreja é edificada - "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". A glória e a Pessoa do Filho ressurreto é a verdade revelada aqui. "To não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus". Imediatamente após a confissão de Pedro, o Senhor dá a entender Sua intenção em edificar Sua igreja, e afirma sua segurança eterna. "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela."

Ele mesmo, a fonte da vida, não podia ser vencido pela morte. Mas, ao morrer como o grande Substituto pelos pecadores, Ele triunfou sobre a morte e a sepultura, e está vivo para sempre, como disse ao apóstolo João após Sua ressurreição: "E [sou] o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno." (Apocalipse 1:18). Quão majestosas e triunfantes são estas palavras! São palavras de um conquistador - de Alguém que tem poder, mas um poder sobre as portas do hades - o lugar dos espíritos separados de seus corpos. As chaves - símbolo de autoridade e poder - estão penduradas em Seu cinto. O golpe da morte pode cair sobre um cristão, mas o aguilhão dela se foi. Ela, agora, vem como uma mensageira de paz para conduzir o cansado peregrino para o descanso eterno da casa celestial. A morte não é mais mestre, mas sim serva do cristão. "Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus" (1 Coríntios 3:21-23)

A Pessoa de Cristo, então, o Filho do Deus vivo - em Sua ressurreição e glória - é o fundamento, o sólido e imperecível fundamento, sobre a qual a igreja é edificada. Como vivo dentre os mortos, Ele comunica vida em ressurreição a todos que são edificados nEle como a verdadeira pedra do fundamento. Pedro deixa isto claro em sua primeira Epístola: "E, chegando-vos para ele, pedra viva... sois vós também quais pedras vivas, edificados como casa espiritual" (1 Pedro 2:4-5). E mais adiante, no mesmo capítulo ele diz: "E assim para vós, os que credes, é preciosa", ou "uma honra", em outras versões (1 Pedro 2:7). Que possamos entender essas duas preciosas verdades em conexão com nossa "Pedra do Fundamento" - a vida divina e a preciosidade divina. Ambas são dadas e se tornam posse de todos os que colocam sua confiança em Cristo. "Chegando-vos a Ele", não a qualquer outra coisa; é à Pessoa de Cristo que devemos ir, e com a qual devemos estar ligados. Sua vida - vida em ressurreição - se torna nossa. A partir desse momento, Ele é nossa vida. "Chegando-vos para ele, pedra viva... sois vós também quais pedras vivas, edificados como casa espiritual". A própria vida de Cristo, como o Homem ressuscitado, e tudo o que é Sua herança é também nossa. Oh, que surpreendente, maravilhosa e bendita verdade! Quem não desejaria, acima de todas as coisas, essa vida, e essa vida além do poder da morte - além das portas do hades? Uma vitória eterna está gravada na vida ressurreta de Cristo, que não pode nunca mais ser testada; esta é a vida do crente.

Porém, há mais que vida para cada pedra viva no templo espiritual. Há também a preciosidade de Cristo. "E assim para vós, os que credes, é preciosa". Portanto, do mesmo modo como a vida de Cristo se torna nossa quando cremos nEle, assim também é Sua preciosidade. O princípio é o mesmo para ambos. A vida pode ser vista como nossa capacidade de desfrutar, e a preciosidade, como nosso título de possessão e herança nas alturas. Suas honras, tútilos, dignidades, privilégios, possessões, glórias, são nossas - tudo é nosso nEle. "Para aqueles que creem Ele é a preciosidade". Que pensamento maravilhoso! "Ele amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25). Tal é nossa Pedra do Fundamento, e tal a bem-aventurança de todos os que estão sobre a Rocha. Assim como Jacó, sendo peregrino e estrangeiro, descansou sobre a pedra no deserto, e todo o panorama das riquezas celestiais em graça e glória passaram diante dele (Gênesis 28).

(* Nota do tradutor. Do inglês rock foundationcorner stone (ver Eph 2:20 e 1Pe 2:6) ou foundation stone (explicação no link, em inglês)Pedra principal da esquina, ou pedra do fundamento. Do grego lithos akrogoniaios: pedra pertencente à esquina (extremo canto), ou pedra principal (aparece em Efésios 2.20 e 1 Pedro 2.6). Do hebraico eben pinnah: pedra angular, ou principal da esquina (aparece em Isaías 28:16 e Salmo 118:22). (Dicionário Strong de Grego e Hebraico)  )

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Um Resumo das Sete Igrejas

  • Éfeso: Em Éfeso o Senhor detecta a raiz de todo o declínio. "Deixaste teu primeiro amor". Ela é ameaçada a ter seu castiçal removido a menos que se arrependa. Período: da era apostólica até o final do segundo século.
  • Esmirna: A mensagem a Éfeso é geral, mas para Esmirna é específica. E, apesar de aplicada àquela assembleia naquele tempo, ela prefigura, de forma muito marcante, as repetidas perseguições pela qual a igreja passou sob os imperadores pagãos. No entanto, Deus pode ter usado o poder do mundo para deter o progresso do mal dentro da igreja. Período: do segundo século até Constantino.
  • Pérgamo: Aqui temos o estabelecimento do Cristianismo por Constantino como a religião do Estado. Em vez de perseguir os cristãos, ele os patrocina. A partir daí a queda da igreja avança rapidamente. Sua aliança profana com o mundo resultou em sua mais triste e profunda queda. Foi então que ela perdeu o verdadeiro sentido de sua relação com Cristo no Céu, e de seu caráter como peregrina e estrangeira na Terra. Período: do começo do quarto século até o sétimo século, quando o papado foi estabelecido*.
  • Tiatira: Em Tiatira vemos o papado da idade média, em semelhança à Jezabel, praticando todo o tipo de maldade, e perseguindo os santos de Deus, sob o disfarce de zelo religioso. No entanto, havia um remanescente temente a Deus em Tiatira, a quem o Senhor conforta com a brilhante esperança de Sua vinda, e com a promessa de poder sobre as ações, quando o próprio Senhor reinará. Mas a palavra de exortação ao remanescente é: "Mas o que tendes, retende-o até que eu venha" (Apocalipse 2:25). Período: do estabelecimento do papado até a vinda do Senhor. Este período vai até o fim, mas é caracterizado pela idade das trevas (idade média).
  • Sardes: Aqui vemos a parte Protestante da Cristandade que surgiu após a grande Reforma. As características falhas do papado desaparecem, mas o novo sistema não tem vida em si mesmo. "Tens nome de que vives, e estás morto" (Apocalipse 3:1). Mas há, ainda, verdadeiros santos dentro desses sistemas sem vida, e Cristo conhece a todos. "Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso" (Apocalipse 3:4). Período: do século XVI até hoje. Período marcado pelo início do Protestantismo após a Reforma.
  • Filadélfia: A igreja da Filadélfia apresenta um remanescente fraco, porém fiel à palavra e ao nome do Senhor Jesus. O que os caracterizava era o fato de guardarem a palavra da paciência de Cristo, e de não negarem Seu nome. A condição deles não era marcada por qualquer exibição de poder, nem de coisa alguma grande externamente, mas de uma próxima, íntima e pessoal comunhão com o Senhor. Ele está no meio deles como o Santo e o Verdadeiro, e é representado como sendo o dono da casa. Ele possui "a chave de Davi". Os tesouros da palavra profética estão disponíveis para aqueles que estão dentro. Eles estão também desfrutando de Sua paciência, e na expectativa de Sua vinda. "Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra." Período: especialmente a partir da primeira parte do século XIX.
  • Laodiceia: Em Laodiceia temos mornidão - indiferença, latitudinarismo** ou ecumenismo - mas com altas pretensões, um espírito arrogante, e grande auto-suficiência. Este é o último estado daquela que leva o nome de Cristo sobre a Terra. Mas, que lástima! Isso é intolerável para Ele. Sua condenação final é chegada. Tendo separado, para Si mesmo, cada verdadeiro crente das corrupções da Cristantade, o Senhor os vomita de Sua boca. Aquilo que deveria ter sido doce a Seu paladar se tornou enjoativo, e é lançado fora para sempre. Período: começando quase em paralelo ao período de Filadélfia, mas especialmente próximo à cena final. Está ativa no período em que vivemos agora.
Tendo assim tomado uma visão geral das sete igrejas, devemos agora nos esforçar, com a ajuda do Senhor, a traçar brevemente estes diferentes períodos da história da igreja. Nosso propósito é examinar mais detalhadamente cada uma das sete epístolas enquanto avançamos com nosso estudo para que possamos verificar, à luz da Palavra, os diferentes períodos por elas referidos, e o quanto os fatos da história da igreja ilustram a história apresentada nas Escrituras nesses dois capítulos. Que o Senhor possa nos guiar, para o refrigério e bênção de Seus queridos.

(* O título "Papa" foi primeiramente adotado por Higino no ano de 139, e o Papa Bonifácio III induziu Focas, Imperador do Leste, a concedê-lo ao prelado de Roma em 606. Ainda com a conivência de Focas, a supremacia do papa sobre a igreja cristã foi estabelecida - Dicionário de Dados de Haydn)
(** Nota do tradutor: latitudinarismo é uma seita inglesa que sustenta a máxima tolerância religiosa e a doutrina de que todos os homens se salvarão. Similar ao universalismo}

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