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domingo, 2 de julho de 2017

Os "Ditados de Gregório"

As seguintes citações são atribuídas como sendo algumas das máximas de Gregório VII; elas darão ao leitor uma ideia do homem e do espírito do papado. "Está estabelecido que o pontífice romano é o bispo universal, que seu nome é o único desse tipo no mundo. A ele somente pertence o direito da deposição e reconciliação de bispos; e ele pode depô-los em sua ausência, e sem a ocorrência de um sínodo. Somente a ele é permitido enquadrar novas leis para a igreja -- e dividir ou unir bispados. Ele somente pode usar as insígnias do império; todos os príncipes são obrigados a beijar seu pé, e ele tem o direito de depôr imperadores e de absolver súditos com base em sua fidelidade. Ele mantém em suas mãos a mediação suprema em questões de guerra e paz, e só ele pode jugar as sucessões contestadas aos reinos -- pois todos os reinos são mantidos como fiéis a São Pedro. Com sua permissão, inferiores podem acusar seus superiores. Nenhum concílio pode ser designado como geral sem seu comando. A igreja romana nunca cometeu erros e, como testificam as Escrituras, nunca errará. O papa está acima de todo o julgamento, e pelos méritos de São Pedro é sem dúvida considerado santo. A igreja não deveria ser a serva de príncipes, mas sim sua senhora; se ela recebeu de Deus o poder de ligar e desligar no céu, muito mais deve ter ela igual poder sobre as coisas terrenas."*

{* Robertson, vol. 2, p. 567.}


Mas enquanto a dominação soberana da igreja tinha há muito tempo sido o grande sonho de Hildebrando, ele viu que certas reformas eram necessárias para o cumprimento de seu objetivo; e a este ele agora dedicava-se com toda a energia e firmeza intrépida de seu caráter.

domingo, 16 de outubro de 2016

O Encerramento do Período de Pérgamo

O concílio de Éfeso estava longe de pôr fim a essas contendas vergonhosas. Em vez de restaurar harmonia à igreja, só fez aumentar suas angústias. João, bispo de Antioquia, e outros clérigos orientais, julgaram Cirilo e seus amigos de terem agido muito injustamente e com precipitação inadequada no caso de Nestório: assim ergueu-se uma nova controvérsia, e em meio a isto nasceu uma nova heresia -- o eutiquianismo, que muito perturbou as igrejas orientais por cerca de vinte anos.

Eutiques, abade de um convento em Constantinopla, na ânsia de sua oposição ao nestorianismo, correu ao extremo oposto. Ele foi acusado de inconsistência quanto às doutrinas da encarnação, e denunciado como herege. Isto levou a outro concílio que ocorreu na Calcedônia no ano 451, e que é chamado de Quarto Concílio Geral. Mas os detalhes dessas disputas locais fogem do escopo deste livro. Nosso plano é dar ao leitor um esboço distinto no menor espaço possível, e apenas apresentar alguns poucos detalhes em casos em que o nome da pessoa se tornou um sinônimo para as opiniões que ensinava, tais como Ário, Pelágio, etc., ou quando os eventos, tais como as grandes perseguições, merecem a atenção da igreja ao longo de todas as eras.

Para levar a cabo esses propósitos, será agora necessário voltarmos nossa atenção mais especialmente ao poder crescente e às sublimes pretensões da igreja de Roma. Em Leão, o Grande, podemos ver o encerramento do período de Pérgamo, e a aproximação da monarquia papal. Mas antes de nos aventurarmos nessas águas turbulentas, faremos bem em estudarmos nosso mapa divino -- a história profética de Deus da igreja durante aquele período tenebroso e, muitas vezes, tempestuoso.

Cirilo e a Ortodoxia

Cirilo, bispo de Alexandria, na controvérsia que tinha se erguido, aparece como o grande campeão da ortodoxia. Mas todos os historiadores concordam em atribuir a ele um caráter mais soberbo e contrário ao de um cristão. Ele é acusado de ser movido pela inveja por causa do crescente poder e autoridade do bispo de Constantinopla, e de ser incansável, arrogante e inescrupuloso em seus caminhos. Ele era também tão violento contra os hereges quanto Nestório. Ele perseguiu os novacianos e expulsou os judeus de Alexandria. Um zelo honesto e piedoso pode ter animado esses grandes clérigos, mas eles falharam totalmente em unir ao zelo a prudência e moderação cristã, e logo aliaram ao zelo as piores paixões da natureza humana.

Cirilo foi primeiramente impelido a entrar na controvérsia quando descobriu que cópias dos sermões de Nestório estavam circulando entre os monges no Egito, e que eles tinham abandonado o termo "Mãe de Deus". Ele imediatamente culpou tanto os monges quanto Nestório, e denunciou a novidade como herética. Todas as partes logo se agitaram, e palavras raivosas, que não precisam ser agora repetidas, foram usadas por todos os partidos. É suficiente dizer que, quando Nestório descobriu que Cirilo tinha habilmente conseguido assegurar a influência de Celestino, bispo de Roma, e que ele estava envolvido com outras dificuldades, ele apelou a um concílio geral. Como alguns de seus oponentes já tinham peticionado para tal assembleia, ela foi acordada, e o imperador Teodósio emitiu ordens para uma assembleia em Éfeso no ano 431, que é chamada de Terceiro Concílio Geral. Eles se reuniram em junho. Cirilo, em virtude da dignidade de sua sé, presidiu. Acusações foram postas contra Nestório. Ele foi condenado como culpado de blasfêmia, privado da dignidade episcopal, cortado do sacerdócio em todas as partes, e enviado ao exílio, no qual ele terminou seus dias por volta do ano 450.

Cerca de 200 bispos assinaram a sentença contra Nestório, mas ainda assim permanece a questão, por parte da maioria dos historiadores, se ele era realmente culpado de aderir aos erros pelos quais foi condenado. Mas todos concordam que ele era imprudente e intemperado em sua linguagem, vaidoso de sua própria eloquência, que desconsiderava os escritos dos primeiros "pais", e que era apto a ver heresias em tudo o que diferia da fraseologia dogmática à qual estava acostumado desde jovem. Mas é difícil determinar quem foi o principal causador dessa grande disputa: se foi Cirilo ou Nestório.*

{* Manual dos Concílios, de Landon, p. 225; Neander, vol. 4, p. 141; Mosheim, vol. 1, p. 468.}

domingo, 28 de agosto de 2016

Teodósio, Apelidado de O Grande

A medida de nosso interesse na história dos imperadores romanos deve ser proporcional ao conhecimento que eles tinham da verdade, e do tratamento deles para com os cristãos. Se não procurássemos discernir a mão de Deus no governo deles seria cansativo e inútil, nesse distante período, examinar o que resta deles. Mas enxergar a mão de Deus, e ouvir Sua voz, e traçar a linha prateada de Sua graça através desses tempos rudes, nos mantém na companhia dEle próprio, e assim nossa experiência é aumentada. Mas quase tudo depende, quanto ao serviço de Deus, ou à bênção para nós mesmos, do motivo ou objetivo com que estudamos a história da igreja, e quais são seus efeitos. De acordo com esse princípio de estima, Teodósio demanda um estudo sério e cuidadoso. Ele era um ministro de Deus, assim como era o imperador romano, que foi usado por Ele para subjugar o arianismo no Oriente, e para abolir a adoração aos ídolos por todo o mundo romano. A idolatria é o pecado mais ousado do homem, e nunca poderá ser ultrapassado até que "se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." (2 Tessalonicenses 2:3,4). A expressão completa dessa blasfêmia é ainda futura, e sinalizará o julgamento imediato e o amanhecer do dia milenial.

Mas o zelo de Teodósio não era apenas negativo. Ele apoiou o cristianismo, de acordo com sua compreensão, mais vigorosamente do que qualquer de seus predecessores. Ele completou o que Constantino começou e o superou, e muito, em zelo e seriedade cristã. Logo após seu batismo ele reuniu um concílio, que ocorreu em Constantinopla em 2 de maio de 381. Os principais assuntos pelos quais o concílio foi convocado eram os seguintes: dar maior plenitude e definição ao credo niceno; condenar as heresias, tais como as dos arianos, eunomianos, eudoxianos, sabelianos, apolinarianos, e outros; e tomar medidas para a união da igreja.

domingo, 24 de julho de 2016

Os Filhos de Constantino (de 337 a 361 d.C.)

Constantino, o Grande, foi sucedido por seus três filhos, Constantino II, Constâncio e Constante. Eles foram educados na fé do evangelho, e tinham sido nomeado Césares por seu pai, e em sua morte eles dividiram o império entre eles. Constantino II ficou com a Gália, Espanha e Grã-Bretanha; Constâncio ficou com as províncias asiáticas e com a capital, Constantinopla; e Constante ficou com a Itália e a África. O início do novo reinado foi caracterizado -- como era habitual naqueles tempos -- pela morte dos parentes que podiam um dia se provarem rivais ao trono. Mas juntamente com os velhos e usuais ciúmes e hostilidades políticas, um novo elemento agora aparece -- a controvérsia religiosa.

O filho mais velho, Constantino, era favorável aos católicos, e sinalizou o começo de seu reinado chamando Atanásio de volta, e colocando-o novamente como bispo de Alexandria. Mas em 340 Constantino II foi morto em uma invasão da Itália, e Constante tomou posse dos domínios de seu irmão, se tornando, assim, o soberano de dois terços do império. Ele era favorável às decisões do concílio de Niceia, e aderiu com firmeza à causa de Atanásio. Constâncio, sua imperatriz e a corte eram parciais ao arianismo. E assim a guerra religiosa começou entre os dois irmãos -- entre o Oriente e o Ocidente --- e foi levada adiante sem justiça ou humanidade, o que não tinha nada a ver com o espírito pacífico do cristianismo. Constâncio, como seu pai, interferiu tanto nos assuntos da igreja, que pretendia ser um teólogo, e durante todo o seu reinado o império foi incessantemente agitado pela controvérsia religiosa. Os concílios se tornaram tão frequentes que estabelecimentos públicos eram constantemente empregados para abrigar os bispos em contínua viagem; de ambos os lados, concílios foram reunidos para se oporem a outros concílios. Mas como o principal evento do período, assim como a linha prateada da graça de Deus, está conectada a Atanásio, retornaremos a sua história.

sábado, 23 de julho de 2016

O Concílio de Tiro

Em 334, Atanásio foi intimado a comparecer perante um concílio na Cesareia. Ele se recusou, alegando que o tribunal era composto de seus inimigos. No ano seguinte, ele foi citado diante de outro concílio que seria realizado em Tiro pela autoridade imperial, no qual ele compareceu. Mais de cem bispos estavam presentes, e uma comissão de leigos do imperador direcionaram o processo. Uma multidão de acusações foram trazidas contra o destemido clérigo; mas o mais tenebroso, e o único que iremos tomar nota, era o crime duplo de magia e assassinato. Disseram que ele tinha matado Arsênio, um bispo de Mileto -- que tinha cortado-lhe uma das mãos, e que tinha usado ela em rituais de magia; uma mão tinha sido forjada como prova. Mas Atanásio estava preparado para a acusação. O Deus da verdade estava com ele. Ele calmamente perguntou se os que estavam presentes ali conheciam Arsênio. Ele era bem conhecido por muitos. Um homem foi, de repente, levado à corte, coberto da cabeça aos pés por um manto. Atanásio primeiro descobriu sua cabeça. Ele foi logo reconhecido como o assassinado Arsênio. Em seguida suas mãos foram descobertas, e assim foi provado que se tratava de Arsênio, vivo e não mutilado. O partido ariano tinha feito o melhor que pôde para esconder Arsênio, mas o Senhor estava com Seu inocente servo, e os amigos de Atanásio conseguiram encontrá-lo. A malícia dos arianos sem escrúpulos foi novamente exposta, e a inocência de Atanásio triunfalmente vindicada.

Mas os inimigos implacáveis do bispo continuaram com suas acusações. Mais uma vez  ordenaram-lhe que comparecesse em Constantinopla, e que respondesse por si mesmo na presença imperial.

As velhas acusações, nesta ocasião, foram retiradas, mas uma nova foi habilmente escolhida, com vista a despertar a desconfiança do imperador. Eles afirmaram que Atanásio tinha ameaçado interromper o fluxo de navios que transportavam milho do porto de Alexandria para Constantinopla. Deste modo, uma fome seria iniciada na capital. Isto tocou o orgulho do imperador e, seja pela crença na acusação, ou pelo desejo de se livrar de uma pessoa tão influente, ele o baniu para Treves, na Gália. A injustiça da sentença é inquestionável.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

O Concílio de Niceia

Capítulo 11: Roma e seus Governantes (313 d.C. - 397 d.C.)

 

Constantino se via agora obrigado a analisar com mais atenção a natureza da disputa. Ele começou a entender que a questão não tinha nada de insignificante, mas era da mais alta e essencial importância; e assim resolveu convocar uma assembleia de bispos de modo a estabelecer a verdadeiro doutrina, e para dissipar para sempre, como ele em vão esperava, esta propensão à disputa hostil. Tudo o que era necessário para a viagem dos bispos foi fornecido a cargo público, como se fosse um assunto de Estado.

No mês de junho de 325 d.C., o primeiro concílio geral da igreja se reuniu em Niceia, na Bitínia. Cerca de 318 bispos estavam presentes, além de um número muito grande de sacerdotes e diáconos. "A flor dos ministros de Deus", como diz Eusébio, "de todas as igrejas que abundam na Europa, África e Ásia, agora se reuniram". O espetáculo era totalmente novo, e certamente ninguém estava tão surpreso como os próprios bispos. Não havia passado muitos anos desde que foram marcados como os objetos da mais cruel perseguição. Eles tinham sido escolhidos por causa de sua eminência como vítimas peculiares da política de extermínio do governo. Muitos deles levavam em seus corpos as marcas dos sofrimentos por Cristo. Eles tinham conhecido o que era ser conduzido ao exílio, trabalhar em minas, ser exposto a todo o tipo de humilhação e insulto. Mas agora tudo tinha mudado, mudado tanto que eles mal podiam acreditar que aquilo era realidade e não uma visão. Os portões do palácio se abriram para eles, e o imperador do mundo agiu como o moderador da assembleia.

Nada podia confirmar e declarar tanto ao mundo a triste queda da igreja e sua submissão ao Estado como o lugar que tinha o imperador nesses concílios. Ele não chegou em Niceia até o dia 3 de julho. No dia seguinte os bispos se reuniram no hall do palácio, que tinha sido preparado para o propósito. Aprendemos de Eusébio que a assembleia se sentou em profundo silêncio, enquanto os grandes oficiais do Estado e outras pessoas honráveis entravam no salão, e assim esperaram em trêmula expectativa a aparição do imperador. Constantino, com muita demora, entrou; ele estava vestido esplendidamente: os olhos dos bispos ficaram ofuscados com o ouro e as pedras preciosas de seu traje. A assembleia inteira levantou-se para dar-lhe honra. Ele avançou até um assento de ouro preparado para ele, e ali ficou parado em pé, em respeitosa deferência aos dignatários espirituais, até que foi convidado a se sentar. Após cantarem um hino de louvor, ele deu uma exortação sobre a importância da paz e união. O concílio sentou-se ali por pouco mais de dois meses, e Constantino parece ter estado presente durante a maior parte das sessões, ouvindo com paciência, e conversando livremente com os diferentes prelados.

domingo, 17 de julho de 2016

Constantino como o Árbitro das Diferenças Eclesiásticas

Novamente os donatistas suplicaram ao imperador pela causa deles, e nessa ocasião para levar a questão inteiramente por suas próprias mãos, ao que ele concordou, embora ofendido pela obstinação deles. Ele ouviu o caso em Milão no ano 316, onde proferiu a sentença em concordância com os concílios de Roma e Arles. Ele também emitiu decretos contra eles, aos quais ele mais tarde repeliu ao ver as perigosas consequências das medidas violentas. Mas o donatimo logo se tornou uma cisma feroz, generalizada e intolerante na igreja. Já em 330 eles tinham crescido tanto que um sínodo foi realizado por 270 bispos, e em alguns períodos de sua história houve sínodos de cerca de 400 bispos. Eles provaram ser uma grande aflição para as províncias da África por mais de 300 anos - na verdade, até a época da invasão maometana.

sábado, 9 de julho de 2016

As Controvérsias do Donatismo e do Arianismo

Duas grandes controvérsias - o donatismo e o arianismo - tiveram seu início nesse reinado: o primeiro surgiu no Ocidente a partir de uma disputada nomeação à dignidade episcopal em Cartago; e o último, de origem oriental, envolvia os próprios fundamentos do cristianismo. O arianismo era uma questão de doutrina, e o donatismo de prática. Ambos estavam corrompidos em suas próprias fontes e essências, e podem ser representados pelo falso profeta e, especialmente, pelos nicolaítas. Vamos agora observar brevemente essas duas cismas, uma vez que lançam luz sobre a natureza e os resultados da união da igreja com o Estado. O imperador tomava parte nos conselhos dos bispos como "cabeça da igreja".

Na morte de Mensúrio, bispo de Cartago, um concílio de bispos das redondezas foi convocado para nomear seu sucessor. O concílio era pequeno -- pois a organização estava por conta de Botrus e Celésio, dois presbíteros que aspiravam ao cargo -- mas foi Ceciliano, um diácono que era muito amado pela congregação, que foi eleito bispo. Os dois desapontados presbíteros protestaram contra a eleição. Mensúrio morreu estando ausente de Cartago em uma viagem, mas antes de sair de casa ele tinha confiado alguns bens da igreja a alguns anciãos da congregação, e tinha deixado um inventário nas mãos de uma mulher piedosa. Este foi entregue a Ceciliano que, é claro, exigiu que os artigos dos anciãos fossem devolvidos, mas eles não estavam disposto a entregá-los, uma vez que supunham que ninguém jamais iria perguntar sobre eles após o velho bispo ter morrido. Assim eles se uniram ao partido de Botrus e Celésio, em oposição ao novo bispo. A cisma foi também apoiada pela influência de Lucila, uma senhora rica a quem Ceciliano tinha anteriormente ofendido por uma repreensão piedosa; e assim toda a província assumiu o direito de interferir no assunto.

Donato, bispo de Casa Nigra, colocou-se à frente da facção cartaginesa. Segundo, primaz de Numídia, por convocação de Donato, apareceu em Cartago liderando setenta bispos. Este auto-instituído concílio intimou Ceciliano a comparecer perante eles, alegando que ele não deveria ter sido consagrado exceto na presença deles e do primaz da Numídia; além disso, considerando que Ceciliano tinha sido um traditor*, não podia ser bispo, e assim o concílio declarou anulada sua eleição. Ceciliano se recusou a reconhecer a autoridade do concílio, mas eles prosseguiram em eleger Majorino para o cargo de bispo, que eles declararam vago pela excomunhão de Ceciliano. Infelizmente, para a reputação dos bispos, Majorino pertencia à família de Lucila que, para apoiar a eleição, doou grandes somas de dinheiro para garantir a eleição, que os bispos dividiram entre si. Uma cisma decidida estava agora formada, e muitas pessoas que estavam indiferentes a Ceciliano, depois disso, voltaram a ter comunhão com ele.

{* "Um nome de infâmia dado àqueles que, para salvarem suas vidas durante a perseguição, tinham entregue as Escrituras ou bens da igreja aos perseguidores." Milner, vol. 1, p. 513}

Alguns relatos dessas discórdias chegaram aos ouvidos de Constantino. Ele tinha acabado de se tornar o senhor do Ocidente, e tinha enviado uma grande soma de dinheiro para o alívio das igrejas africanas. Eles tinham sofrido muito durante as últimas perseguições. Mas, como os donatistas eram tidos como sectários, ou dissidentes da verdadeira igreja católica, ele ordenou que os presentes e privilégios conferidos aos cristãos pelos último decretos fossem limitados àqueles em comunhão com Ceciliano. Isto levou os donatistas a uma petição ao imperador, desejando que sua causa pudesse ser examinada pelos bispos da Gália, de quem supunham que a imparcialidade poderia ser esperada. Aqui, pela primeira vez, temos uma aplicação do poder civil para nomear uma Comissão de Juízes Eclesiásticos.

Constantino concordou: um concílio foi realizado e Roma, em 313, que consistiu de cerca de vinte bispos. A decisão foi a favor de Ceciliano, que logo a seguir propôs termos de reconciliação e reunião; mas os donatistas desprezaram qualquer compromisso. Eles suplicaram ao imperador por outra audiência declarando que um sínodo de vinte bispos era insuficiente para anular a sentença de setenta que tinham condenado Ceciliano. Por esta representação Constantino convocou outro concílio. O número de bispos presentes era muito grande, vindos da África, Itália, Sicília, Sardenha, e especialmente da Gália. Esta foi a maior assembleia eclesiástica que houve até então. Eles se reuniram em Arles, no ano de 314. Ceciliano foi novamente absolvido, e vários decretos canônicos foram estabelecidos com vista ao término das dissensões africanas.

Nesse meio-tempo Majorino morreu, e um segundo Donato foi apontado como seu sucessor. Ele foi apelidado pelos seus seguidores como "o Grande", a fim de distingui-lo do primeiro Donato. Ele é descrito como alguém erudito, eloquente, de grande capacidade, e que possuía a energia e o zelo ardente do temperamento africano. Os sectários, como eram chamados, assumiram então a alcunha de os donatistas, tomando o caráter, assim como o nome, de seu chefe.

sábado, 2 de abril de 2016

A Origem do Bispo Metropolitano

Igrejas assim constituídas e reguladas rapidamente se espalharam por todo o império. No gerenciamento de seus assuntos internos cada igreja era essencialmente distinta da outra, embora andassem em comunhão espiritual com todas as outras e as considerassem parte da única igreja de Deus. Mas, com o aumento do número de crentes e a extensão das igrejas, variações na doutrina e na disciplina surgiram, o que nem sempre podia ser resolvido nas assembleias individuais. Isto deu origem aos concílios, ou sínodos. Estes eram compostos principalmente por aqueles que tomavam parte no ministério. Mas quando os representantes das igrejas eram assim reunidos, logo se descobria que o controle de um presidente era necessário. A menos que haja respeito e submissão pela ação soberana do Espírito Santo na igreja, haverá anarquia sem um presidente. O bispo da capital da província era geralmente apontado para presidir, sob o elevado título de bispo metropolitano. Em seu retorno para casa era difícil deixar de lado essas ocasionais honrarias, então ele logo reivindicava para si o título pessoal e permanente de bispo metropolitano.

Os bispos e presbíteros, até por volta desse tempo, eram geralmente vistos como iguais, ou a mesma coisa, sendo os termos usados como sinônimos. Mas agora os bispos se consideravam investidos com poder supremo na direção da igreja, e estavam determinados a se manterem nessa autoridade. Os presbíteros se recusavam a lhes conceder essa nova e auto-assumida dignidade, e buscavam manter sua própria independência. Assim se ergueu a grande controvérsia entre os sistemas presbiterianos e episcopais, que continuam até hoje, e da qual poderemos tratar com mais detalhes mais adiante. Foi dito o suficiente para mostrar ao leitor o início de muitas coisas que ainda vivem diante de nós na igreja professa. Na consagrada ordem do clero será encontrada a semente da qual surgiu todo o sacerdócio medieval, o pecado da simonia {*N. do T.: simonia é a venda de "favores divinos"}, as leis do celibato, e a terrível corrupção da idade das trevas. *

{* Para mais detalhes, veja Neander, vol.1, p. 259; Mosheim, vol. 1, p. 91; Bingham, vol. 1.}

Tendo visto o que estava acontecendo dentro da igreja desde o início, e especialmente entre seus líderes, vamos agora continuar a história geral a partir da morte de Marco Aurélio.

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